O Homem Baile

Pau neles!

Dead Fish comanda tarde de punk rock e protestos no primeiro dia do Hell In Rio. Fotos: Nem Queiroz

O vocalista do Dead Fish, Rodrigo, em habitual performance agitada e com a língua afiadíssima

O vocalista do Dead Fish, Rodrigo, em habitual performance agitada e com a língua afiadíssima

A escalação do Dead Fish em um festival centrado no heavy metal e adjacências como o Hell In Rio pode causar certa estranheza, mas o show que o grupo fez no sábado (6/11), sob chuva e com plena adesão do público, explica mais do que mil teses sobre o rock e suas subdivisões. Porque – goste ou não – o quarteto, com todas as idas e vindas que constam em um currículo atribulado de quem tem mais de 25 anos de estrada, sabe como encarar situações adversas, e – ainda tem mais essa – uma chuva inclemente tomou conta da Cidade Maravilhosa durante todo o dia. Não teve muita falação, só a retórica de sempre, mas uma sequência quase sem parar com 22 pedradas; o que é até pouco, mas há limites de horário em festivais.

Uma das mazelas do Hell In Rio foi chamar bandas que tocaram na cidade há pouco tempo. Mas, para o Dead Fish, que lotou o Circo Voador, uma de suas casas prediletas, há uns cinco meses (relembre), isso não é problema. Porque o grupo aprontou um set list corrido – o horário de 22 horas é ótimo – com mais da metade das músicas que não foram tocadas naquela ocasião. Ou seja, quem esteve no Circo e bateu ponto no sabadão do festival viu quase outro show, mas sempre com a boa performance de palco que consagrou o grupo capixaba ao longo dos anos. Se faltaram clássicos como “Mulheres Negras”, “Me Ensina” ou “Zero e Um”, teve para espaço músicas do disco mais recente, “Vitória”, como a metálica “Sausalito” e a ligeira “Procrastinando”, tocadas poucas vezes nessa turnê.

O Satânico Dr. Mao em pessoa com sua discreta fantasia de Papai Noel: ataque aos coxinhas

O Satânico Dr. Mao em pessoa com sua discreta fantasia de Papai Noel: ataque aos coxinhas

Em boa forma como de costume, o vocalista Rodrigo também segue com a língua afiada. Dedica “Tão Iguais” ao prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivela e cita o nome de outros políticos que explicam o título. Detona o poder oligárquico da principal emissora de TV do país junto de “Selfegofactóide”, já um clássico do álbum novo. E volta rocar no assunto oligarquia na autoexplicativa “Proprietários do Terceiro Mundo”. Independentemente de preferências, em uma época tão difícil para os movimentos democráticos, esse tipo de postura em cima do palco chega a ser necessário. O público, que girou em torno de três mil pessoas, segundo os produtores, agitou como pode sob a chuva, e músicas como “A Urgência”, no início, “A Dialética”, com o batera Marcos Melloni quebrando tudo, e a dupla “Bem-Vindo ao Clube”/“Afasia”, no encerramento, mararam a pau.

Na linha de protesto, só que em um olhar mais amplo, O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos tocaram ainda cedo, com Mao se assumindo o tempo todo como o próprio Garotos Podres. Para quem perdeu esse capítulo, Mao é o vocalista do clássico grupo punk que se separou, e agora é como se houvesse dois Garotos Podres: um é a banda sem Mao; o outro, Mao sem a banda. Assim, é “Garoto Podre” que abre o show com um som ruim de lascar, impressão reforçada por um baterista sem a pegada punk necessária ao grupo. Do material recente, do álbum “Contra Os Coxinhas Renegados Inimigos Do Povo”, entra “Um Grito em Meio à Multidão”, no encerramento, com o público xingando certo político de extrema direita. Mas o turma gosta mesmo é de “Anarquia Oi” e do clássico de final de ano “Papai Noel Velho Batuta”, com o impagável Mao de gorro vermelho e tudo.

O pesado Oitão em ação: o baixista Ed Chavez, o vocalista Henrique Fogaça e o baterista Marcelo BA

O pesado Oitão em ação: o baixista Ed Chavez, o vocalista Henrique Fogaça e o baterista Marcelo BA

Menos direcionado e com um olhar genérico, o Oitão, inspirado no punk nacional dos anos 80, solta uma saraivada de letras críticas a tudo e a todos. O som é um hardcore pesado e em sintonia com o hibridismo metálico dos dias de hoje, impulsionado pela bateria acelerada de Marcelo BA, que soa como as do metal extremo. As melhores músicas são “Podridão Engravatada”, que fala sobre políticos e detona uma roda de dança enorme; “Tiro na Rótula”, anunciada pelo vocalista Henrique Fogaça como a primeira composição do grupo; e “Não Me Entrego”, que, no final, tem o guitarrista Ciero dando “um salve” para o líder da Dorsal Atlântica, Carlos Lopes. No encerramento, para reforçar as origens, dois covers que empolgam o público: “Vida Ruim”, do Ratos de Porão, e “Olho Seco”, do Olho Seco.

A sensação de estar em lugar do qual não se pode sair deve ser aterradora como o som que o Claustrofobia propõe. Que o grupo há muitos anos manda um thrash metal violento todo mundo sabe, mas é que agora parece ter atingido um patamar de agressividade sem precedentes. É o que realçam músicas como “Alegoria do Sangue”, um soco na cara sem piedade; a criativa “Bastardos do Brasil”, que à sua maneira estabelece uma conexão com a verve do lado punk do dia, assim como acontece com o som propriamente dito; e a dobradinha “Metal or Die” e “Metal Maloka”, em que riffs de várias músicas do Black Sabbath são incluídos. Resta saber qual o limite para o som agressivo do quarteto; na real, parece não ter.

A agressividade sem limites do Claustrofobia, comandado pelo vocalista e guitarrista Marcus D'Angelo

A agressividade sem limites do Claustrofobia, comandado pelo vocalista e guitarrista Marcus D'Angelo

Ao Reckoning Hour coube a tarefa mais difícil, iniciar o a primeira edição de um festival, debaixo de uma chuva daquelas com um público de contar nos dedos. Acostumado a fazer shows de abertura para bandas internacionais, contudo, o grupo não se abateu e fez o que tinha que fazer, mandando um repertório pesado e conciso, mesmo com – e ainda tinha mais essa – os ajustes dos equipamentos de som. As performances mais legais foram “Eye For An Eye”, já um clássico precoce da banda, e “Dead Man Walking”. E vale ressaltar que o death melódico do quinteto só tende a melhorar se os guitarristas mostrarem uma maior agressividade, nas bases, riff e nos solos. A conferir.

Set list completo Dead Fish:

1- A Urgência
2- Tão Iguais
3- Armadilhas Verbais
4- Desencontros
5- Selfegofactóide
6- A Dialética
7- Hoje
8- Iceberg
9- Venceremos
10- Procrastinando
11- Sausalito
12- Proprietários do Terceiro Mundo
13- Sobre a Violência
14- Fragmento
15- Cara Violência
16- Autonomia
17- Senhor Seu Troco
18- Siga
19- Sonhos Colonizados
20- Paz Verde
21- Bem-Vindo ao Clube
22- Afasia

No primeiro show da edição de estreia do Hell In Rio, sob chuva, o Reckoning Hour fez o que pode

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