O Homem Baile

Passou por cima

Angra supera troca de horário e debandada do público e faz grande papel no encerramento do Hell In Rio. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista italiano Fabio Lione, muito bem ambientado nessa nova formação do inabalável Angra

O vocalista italiano Fabio Lione, muito bem ambientado nessa nova formação do inabalável Angra

No meio da tarde, a notícia. Os horários dos shows do Matanza e do Angra no Hell In Rio foram trocados porque só ali, no dia festival, descobriu-se que a montagem do palco do segundo atrasaria o show do primeiro. Nenhum aviso foi dado para o público, embora o apresentador oficial, o comediante Bruno Sutter, entrasse a cada intervalo para ler um release da banda seguinte. O procedimento coroou uma série de contratempos no palco do festival, o que resultou em um atraso de cerca de uma hora e meia no final do domingo. E, para o Angra, sobrou o ônus de tocar para aproximadamente metade do público total do dia, estimado em quatro mil pelos produtores, uma vez que a outra metade deixou o Terreirão com o término do show do Matanza.

Pior para quem se mandou antes da hora. Porque o Angra subiu no palco com a faca nos dentes e fez um ótimo papel no encerramento do festival. E mostrou que segue mantendo um público fiel e que acompanha todas as músicas, mesmo com o esfacelamento das sucessivas formações e que hoje tem apenas um integrante da chamada clássica, o guitarrista Rafael Bittencourt, ao menos enquanto Kiko Loureiro, o outro guitarrista, segue mandando bronca no Megadeth. E olha que o grupo passou pelo Rio há cerca de dois meses com a super completa turnê de aniversário do álbum “Holy Land” (relembre). E Kiko que se cuide, porque Marcelo Barbosa, que também toca no Almah, está mandando muitíssimo bem, enquanto Bittencourt é espécie de maestro no palco, sendo que canta em algumas músicas sozinho.

O guitarrista e atual manda-chuva no Angra, Rafael Bittencourt, e o eficiente baixista Felipe Andreoli

O guitarrista e atual manda-chuva no Angra, Rafael Bittencourt, e o eficiente baixista Felipe Andreoli

O show, então, é derivativo da íntegra de “Holy Land”, com músicas dos demais álbuns salpicadas aqui e acolá. Do mais recente, o bom “Secret Garden”, o único com Fabio Lione nos vocais, entraram “New Born Me”, em uma abertura meio insegura, até pelo dia complicado do palco, em termos técnicos (realmente a montagem dura mais tempo do que a de outros intervalos), e “Final Light”, aquela do clipe do avião, que é exibido no telão. Lione manda muito bem nas duas, numa demonstração de que segue firme na sua função, não apenas interpretando clássicos do passado gravados pelos cantores que antecederam. Bittencourt toca e canta sozinho, com um microfone de rosto, em “Make Believe”, num dos melhores momentos da noite, dado o crescimento dramático que a música atinge, e a participação do público soltando a voz; e em “Waiting Silence”, ótima composição do álbum “Temple Of Shadows”, dos tempos de Edu Falaschi, que cresce muito ao vivo e realça a performance de Barbosa.

O guitarrista também brilha em músicas como “Nothing to Say”, num duelo melódico dos bons, e em “Time”, que, assim como no show anterior, reaparece em uma versão lindíssima, em que pese os teclados pré-gravados usados em todo o show. Quem faz um esforço danado, mas pouco consegue se fazer ouvir é o percussionista Dedé Reis. Em compensação, se destaca em “Holy Land” como eficaz dançarino, em ótimo encerramento para a música, com Rafael Bittencourt, Marcelo Barbosa e o baixista Felipe Andreoli em coreografia ensaiada junto da bateria, que tem Bruno Valverde detonando geral. Em tese, o show terminaria com a dobradinha alucinante “Rebirth”/“Nova Era”, mas a plateia tanto pediu que rolou um bis não programado (coisa rara), já na madrugada desta segunda, com a clássica “Carry On” e a participação de Bruno Sutter e seu gogó privilegiado. Para quem acha que show do Angra só é show do Angra se tiver “Carry On” – e não são poucos -, eis aí um prato cheio.

Vista com toda a produção do show do Angra, que varou a madrugada de segunda no Hell In Rio

Vista com toda a produção do show do Angra, que varou a madrugada de segunda no Hell In Rio

Mas em um festival de rock a festa não é completa se não tem o rock de festa das Velhas Virgens. A tradicional banda, reduto de fanfarrões que só pensam naquilo, para dizer o mínimo, desfaz o clima semibélico deixado por bandas mais agressivas como John Wayne e Project 46 para, enfim, entreter o público com muito bom humor. Mais que um show de classic rock, e dos bons, com músicos talentosos, o espetáculo é uma grande performance do vocalista Paulão de Carvalho e da cantora e Juju Kosso, que chegam a copular ao vivo, na beirada do palco, na sugestiva “Abre Essas Pernas” – um clássico, no encerramento -, depois de um gozo coletivo (ou quase isso) da plateia, tudo em nome da diversão.

Sem um disco com músicas inéditas debaixo do braço, o Velhas Virgens está na turnê de lançamento da coletânea “Garçons do Inferno”, com 20 faixa escolhidas pelos fãs. Daí o grupo trajar um figurino que é espécie de avental de pizzaiolo, exceto a provocante Juju, claro. É ela quem comanda a farra em músicas como “O Que é que a Gente Quer?”, e o público responde direitinho, e “Mulher do Diabo”; e olha que o Matanza só entraria no palco mais tarde. Com Paulão no comado, as melhores são a impublicável “Siririca Baby”, quando o vocalista esmaga um das latas de cerveja a que tem direito com uma única mão, e o bluesão “Ontem Você Acabou Comigo”, que descreve detalhes íntimos de uma relação das bem sucedidas. Uma pena que uma proposta como essa pareça estar em extinção em um mundo cada vez mais estranho e sem humor.

O velho safado e a ninfeta provocante: personagens vividos por Paulão e Juju, das Velhas Virgens

O velho safado e a ninfeta provocante: personagens vividos por Paulão e Juju, das Velhas Virgens

Set list completo Angra:

1- Newborn Me
2- Wings of Reality
3- Nothing to Say
4- Time
5- Z.I.T.O.
6- Waiting Silence
7- Make Believe
8- Final Light
9- Holy Land
10- Angels And Demons
11- Rebirth
12- Nova Era
Bis
13-Carry On

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