O Homem Baile

Ataque fulminante

No Hell In Rio, Sepultura mostra ótima forma em rescaldo da turnê de comemoração de 30 anos de carreira e apresenta música do próximo álbum, que sai em janeiro. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Sepultura, Derrick Green, liderando o quarteto na primeira noite do Hell In Rio

O vocalista do Sepultura, Derrick Green, liderando o quarteto na primeira noite do Hell In Rio

O ano é o de 1992 e o Canecão, onde na época ainda se escrevia a história da música popular brasileira, recebia o Sepultura pela primeira vez, depois de a banda iniciar a trajetória como o artista brasileiro mais bem sucedido no exterior em todos os tempos. Após tantos anos tocando em tudo o que é buraco no underground, o quarteto, com sua formação clássica, mostrava que estava em outro patamar, havia se convertido em banda de padrão internacional; e pensar que o melhor ainda estava por vir. Corta para a madrugada deste domingo e a sensação é a mesma: um largo abismo entre as bandas que tocam no Hell In Rio, no Terreirão, no Rio, e o Sepultura. Depois de acidentada trajetória, sobretudo pós 1996, o quarteto segue incólume e em ótima forma, em que pese as mudanças na formação.

A começar pelo baterista monstro Eloy Casagrande, que continua impingindo cruel velocidade às músicas, com pegada pesada, técnica, brutal. É difícil fazer comparações de épocas diferentes, mas Casagrande parece superar Iggor Cavalera, não o de hoje, cansado e acomodado, mas o Iggor no auge da formação clássica. Para um tipo de música extrema como a do Sepultura, isso faz muita diferença. Assim como é um diferencial a qualidade do som, que, se pipocou em diversos momentos durante o dia de chuva sem parar, no show principal está tinindo e entupindo os ouvidos de decibéis como um show de metal deve ser. Se o público que resistiu às intempéries não é tão grande como se esperava, a recompensa para quem permanece é plena.

O baixista Paulo Jr, Derrick e o guitarrista Andreas Kisser, com o baterista Eloy Casagrande no fundo

O baixista Paulo Jr, Derrick e o guitarrista Andreas Kisser, com o baterista Eloy Casagrande no fundo

O show é um dos últimos da turnê de aniversário de 30 anos da banda, contudo, de duração um pouco menor, se compararmos com o que passou pelo Rio em junho do ano passado (relembre), em outra noite em que choveu pra dedéu; ô sina. Assim, saem as músicas mais antigas e sobram 17 petardos já com algumas novidades. A maior delas é a inclusão de “I Am The Enemy”, a primeira do novo álbum, “Machine Messiah”, que sai em janeiro, a entrar no repertório, desde meados de julho. A música é uma pedrada das boas, agressiva e impetuosa, com um sotaque hardcore na maior parte do tempo, mas com técnico trabalho de guitarras de Andreas Kisser, incluindo os grooves que fazem a fama do Sepultura há anos pelo mundo. Promete.

Outras novidades, por assim dizer, são “Dialog”, renovada, mais arredondada ao ser resgatada do álbum “Kairos”, que vem se consolidando com um dos mais queridos da era Derrick Green pelo público, e “Dusted”, em que realça o tal groove inebriante que causa inveja ao simpático Jonathan Davies. Outra boa notícia é que, em vez daqueles medleys que reuniam clássicos, mas incompletos, o grupo está tocando as músicas inteirinhas, só que, na maioria das vezes, mais rápido, o que é ótimo. E é desse jeito que a sequência final vem literalmente para matar, seja na exuberante introdução de “Territory”; nas variações de “Beneath The Remains”, outra tijolada que volta para o set; na agressividade descomunal de “Arise”; ou em “Refuse/Resist”, que tem a introdução ligeiramente modificada, e causa a maior das rodas de pogo e das manifestações por parte do público.

Andreas Kisser em um de seus solos performáticos: guitarrista lidera a banda nessa boa fase

Andreas Kisser em um de seus solos performáticos: guitarrista lidera a banda nessa boa fase

O que, de outro lado, acaba por deixar de fora uma cacetada de músicas consagradas que simplesmente não cabem nos cerca de 90 minutos de bola rolando quase sem parar. Caso de “Polícia”, dos Titãs, que o Sepultura consagrou, sobretudo no exterior, e que, de tão pedida por um fã na grade, Derrick até faz graça. Ou de “Inner Self”, aquela barrada pela emissora de TV que há anos se rendeu à banda, pedida em coro no final, como se houvesse um bis. Ou ainda a fabulosa “Dead Embryonic Cells”. Ou quem sabe “Biotech Is Godzilla”. O que não se pode é cair no muro das lamentações em um show que começa com “Troops Of Doom”, inclui “Desperate Cry” e encerra – sem novidade, mas é sempre bom – “Roots Bloody Roots”, um dos grandes sucessos do heavy metal em todas as épocas. Ou seja, com uma banda em grande forma, um ótimo repertório e coisa nova para mostrar, não podia dar outra: showzão!

Set list completo:

1- Troops of Doom
2- Kairos
3- Slave New World
4- Breed Apart
5- Desperate Cry
6- Dusted
7- I Am The Enemy
8- Convicted in Life
9- Dialog
10- The Vatican
11- Territory
12- Beneath the Remains
13- Arise
14- Refuse/Resist
15- Sepultura Under My Skin
16- Ratamahatta
17- Roots Bloody Roots

Há quase 20 anos no Sepultura, Derrick é hoje peça chave para o grupo, que lança disco em janeiro

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