O Homem Baile

Maturidade

No lançamento do segundo álbum, Diabo Verde mostra evolução no conjunto da obra, mas repertório pode melhorar. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Diabo Verde, Paulinho Coruja, empunha a guitarra e solta a voz no palco do Imperator

O vocalista do Diabo Verde, Paulinho Coruja, empunha a guitarra e solta a voz no palco do Imperator

Era para ser apenas mais um show de rock no Imperator, no Rio, mas, aos poucos, a noite se transforma numa festa daquelas. Festa mesmo, com família espalhada pela plateia, amigos mais de mil e o desfecho com todo mundo em cima do palco tocando tudo o que é música conhecida. O motivo é mais que nobre: o lançamento do segundo álbum do Diabo Verde, “Veni, Vidi, Vici!”, que - registra-se - não é apenas mais um disco. É um trabalho que foi bolado para dar um up grade na carreira do grupo de hardcore carioca, no chamado conjunto da obra que inclui produção, convidados cascudos e de grande projeção no segmento, e cuidados em detalhes nem sempre observados, por essa ou aquela razão, quando se trata de bandas independentes.

Por isso o show começa causando impacto, com música anterior à abertura (“The Boys are Back In Town”, do Thin Lizzy) e tudo, e com as cortinas se abrindo no momento exato em que a banda começa a tocar “Escravo da Liberdade” no talo. Sem ajustes, sem passagem de som tardia, sem vacilação e com Paulinho Coruja soltando a voz sem dó. De início, a reação do público, voluntarioso que só ele para a roda de pogo – é um show de hardcore! – é espécie de estado de choque. Numa música só, o quarteto mostra sua melhor faceta, a de misturar varias referências do HC dos anos 90 sem que isso soe atravessado. Com o Diabo Verde, dá pra ir da pedrada de Nova Iorque ao relaxamento californiano, e ainda com uma passadinha pelo poppy punk com extrema facilidade.

Paulinho, Rodrigo, do Dead Fish, o guitarrista Fellipe Madureira e o batera Bruno Baiano no fundo

Paulinho, Rodrigo, do Dead Fish, o guitarrista Fellipe Madureira e o batera Bruno Baiano no fundo

Nem tudo, contudo, são flores. Porque no momento de evolução musical e de maturidade como banda, os temas deixam a desejar. Não que o rock precise de letras rebuscadas, mas a coisa pode piorar se elas apontam para o lado errado. No caso do Diabo Verde, o destino é espécie de positivismo de autoajuda que flerta com o emo e em muitos casos lhe retira a estética do rock e do hardcore propriamente dito. Títulos como “O Mal Não Pode Triunfar” (embora a letra de conotação politica tenha seu valor) e “Ninguém Vai Nos Derrotar”, por exemplo, revelam um bom mocismo que soa piegas e nada identificado com um subgênero do rock feito essencialmente para rumar na direção contrária. O show inclui todas as 10 músicas que estão no CD e outras cinco do anterior, “Sincericídio”.

Do ponto de vista da plateia, tudo bem, porque o couro come em músicas como “Escolhas”, conhecida e bastante aplaudida; na boa “Velhos Hábitos Nocivos”, que tem um sotaque mais rock; e na roda insana de “Saudades do Futuro”, com o vocalista do Plastic Fire, Reynaldo Cruz, ajudando nos vocais. Em “Senhor do Destino”, é Rodrigo, do Dead Fish, um dos maiores nomes do HC nacional, quem aparece. A música, que está sendo gravada para o lançamento de um videoclipe, é repetida no final para nova captação de imagens, antes de uma grande improvisação com muitos convidados e o público no palco tocando clássicos do punk rock hardcore. Desfecho certeiro para o clima de celebração com duas bandas que passaram pelo Rio Novo Rock. Só faltou uma participação mais efetiva de integrantes de grupos que colam no projeto, que, salvo valorosas exceções, levaram falta nesta quinta.

Celebração: final do show com o palco invadido e o inefável uso do aparelho emburrecedor

Celebração: final do show com o palco invadido e o inefável uso do aparelho emburrecedor

O “duas bandas” aparece ali em cima porque coube ao Plastic Fire o show de abertura. O grupo, que pelo jeito estava para encerrar as atividades, renasce com nova formação, com novos baterista (Marcelo, também Jason) e baixista (Márcio). Mesmo tocando cedo, o quarteto arrebanha um bom público, que conhece as músicas e participa bastante. Como marca a estreia da formação, e diferentemente da atração principal, o show tem clima de ajustes e de ensaio, mas o público gosta mesmo assim, talvez até pelo clima intimista que se instala entre ele e a banda. As melhores performances são em “Eu, o Aríete e a Muralha”, uma pedrada sensacional com mudança de andamento, e “A Última Cidade Livre”, menos intensa, mas com um trabalho de guitarras sui generis do por vezes discreto Daniel. Não para, não, pessoal. Onze anos é pouco.

Set list completo Diabo Verde:

1- Escravo da Liberdade
2- Fechadão Com o Certo
3- Escolhas
4- Nada é Impossível de Mudar
5- O Mal Não Pode Triunfar
6- O Prisioneiro
7- Velhos Hábitos Nocivos
8- Vampiros
9- Senhor do Destino
10- Recompensa
11- Golpe Baixo
12- A Missão
13- Diga Qual é o Seu Valor
14- Saudades do Futuro
15- Ninguém Vai Nos Derrotar
16- Senhor do Destino
17- Sequência de covers (Descendents/Bad Religion/Ramones/Pennywise)

Reynaldo, do Plastic Fire, e que também participou do show do Diabo Verde, surfa nos braços dos fãs

Reynaldo, do Plastic Fire, e que também participou do show do Diabo Verde, surfa nos braços dos fãs

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