O Homem Baile

Sede saciada

Após 15 anos, Violator enfim estreia no Rio em show que é pura festa de celebração ao thrash metal de raiz. Fotos: Maurício Porão.

O baixista, vocalista e formador de opinião Pedro Arcanjo, o Pônei, em uma de das conversas

O baixista, vocalista e formador de opinião Pedro Arcanjo, o Pônei, em uma de das conversas

Se um show tem mosh, stage diving e circle pit do início ao fim é porque a coisa é realmente divertida. Ainda mais em se tratando de uma banda que é um déjà vu ao vivo e a cores dos tempos do thrash metal, bem antes de bandas como Metallica, Exodus e tantas outras ganharem o mundo. Ainda mais se essa banda é o Violator, que gira o mundo já há mais ou menos 15 anos e – acredite se quiser – jamais havia tocado no Rio de Janeiro. Por isso mesmo, um Teatro Odisséia cheinho da Silva, numa daquelas matinês dos quintos dos infernos, faz da diversão a lei, das maratonas de guitarras a sinfonia do caos, do antifascismo a palavra de ordem, do thrash metal a salvação. Sim, valeu a pena esperar por este sábado, 24 de setembro de 2016.

Poucas vezes se vê, desde a invenção do palco, uma interação tão grande entre público e banda como nesse show, e a explicação está na simplicidade encarnada pelo quarteto como se lei fosse. “Todo mundo aqui é igual e a gente faz a nossa diversão para gente mesmo”, diz o vocalista/baixista Pedro Arcanjo, o Pônei, em “Destined to Die”, já perto do encerramento, como numa conclusão de trabalho de sociologia. Comunicador nato, ela fala muito entre as músicas, quebrando o pique do show, mas na maioria das vezes acerta. Ainda mais depois de ter se tornado ícone do antifascismo ao defenestrar certo político de extrema direita e ter recebido apoio maciço e notoriedade nas redes. Atitude convertida em regra até pelo público, que entende bem o recado.

As falas podem ser também um artifício para o necessário descanso entre uma e outra música, uma vez que os caras – explica-se - decidiram tocar tudo em uma velocidade extraordinariamente rápida, e o baterista David Araya que se dane para manter o pique. Mesmo nos trechos mais cadenciados de algumas músicas – marca registrada no thrash metal – as guitarras de Pedro Augusto e Marcelo Cambito apostam corrida entre si e o couro come pra valer. Músicas como “Ordered to Thrash” e “Atomic Nightmare” batem a velocidade da luz e é difícil até de serem reconhecidas, caso o sujeito não esteja se acabando no meio do pogo e que se dane o resto. De acordo com o carismático Pônei, eles não querem mais saber de projeção, de fazer carreira ou de aparecer, mas só de “tocar o foda-se” e se divertir - sábia decisão. Por isso o próprio vocalista se joga sobre a plateia sem parar de tocar em mais de uma oportunidade.

A coreografia metálica do Farscape: banda não ficou atrás do Violator no número de fiéis seguidores

A coreografia metálica do Farscape: banda não ficou atrás do Violator no número de fiéis seguidores

Além de muita gente trajada à rigor para a ocasião, com tênis de couro cano longo, calça de boca apertada, camiseta de banda e colete salpicado de patches, há poucos incautos erguendo aparelhos emburrecedores, e fica tudo mais bonito quando o público é público de verdade. Que sobe no palco e pula, que sobe no palco e canta. Que sobe no palco. Outras músicas que se destacam no repertório, curiosamente com mais músicas do clássico álbum “Chemical Assault” (2006) do que do mais recente, “Scenarios of Brutality” (2013), são “Respect Existence or Expect Resistance”, um grito de guerra por si só; “Destined to Die”, que tem o ótimo refrão cantando por todos; e o encerramento com “UFT”, garantindo o aproveitamento de 100% de público em cima do palco do Teatro Odisseia, que não chega a ser um latifúndio. Mesmo com os 70 minutinhos de show, sede saciada, sim, mas já pode marcar uma nova data, produção.

Num verdadeiro parque de diversões do thrash metal, as duas bandas de abertura, Farscape e Vingador, caem muito bem. A primeira – e não é surpresa – tem um séquito de seguidores em número semelhante ao do Violator, o que faz o público se acabar desde cedo. O quarteto, além do thrash, é também identificado com o metal nacional dos anos 80, como bem observa o vocalista/guitarrista Leo WitchCaptor e que fica claro em músicas como “Carrasco do Metal”, única cantada em português, que já nasceu clássica e bem poderia ter a assinatura de um Azul Limão, por exemplo, e “Wild Rocker”, uma das que o público mais agita. Mas o couro come pra valer em peças do thrash como a agressiva “Demon’s Massacre”, com um viés do thrash alemão, e “Thrash Until You Drop”, cujo título fala por si, dotada de riffs poderosos e solos grudentos.

Ao Vingador, de Macaé, cabe o osso de abrir a festa ainda com o dia claro e pouca gente dentro do Odisséia. O quarteto, outro de formação clássica do thrash metal, não arrega. Mesmo sem a agitação por falta de quórum, o grupo manda nove músicas e também protesta, em falas do vocalista/guitarrista Alexandre Cabral, contra a misoginia, antes de “Whata Fuck Is This?!” e em “Morrendo de Paz”, única com letras em português. A porrada “Hellstorm”, já na parte final do show, consegue arrancar uns moshs do público, mesmo que combinados, e boa parte do repertório, por conta dos arranjos, é mais identificado com o Metallica. As melhores partes do set são os duelos melódicos dos guitarristas, em músicas como “Dead Nazi Poem”, e vale o registro de que “Yellow Crew”, no arremate, é de longe a melhor composição deles.

O vocalista e guitarrista do Vingador, Alexande Cabral: abertura difícil, mas recompensada no final

O vocalista e guitarrista do Vingador, Alexande Cabral: abertura difícil, mas recompensada no final

Set list completo Violator:

1- Death Descends (Upon This World)
2- Endless Tyrannies
3- Echoes of Silence
4- Deadly Sadistic Experiments
5- Respect Existence or Expect Resistance
6- Futurephobia
7- Ordered to Thrash
8- Atomic Nightmare
9- Brainwash Possession
10- Toxic Death
11- Thrash Maniacs
12- Destined to Die
13- UFT (United for Thrash)

Tags desse texto: , ,

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Carlinhos winter em maio 17, 2021 às 4:28
    #1

    Eu fui! Foi foda. Estava aqui lembrando desse dia kk

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado