O Homem Baile

Safadão

Rock sem vergonha da Linda lobo conquista público do Rio Novo Rock; preso ao passado, Vital busca passo a mais. Fotos: Nem Queiroz.

O bom vocalista da Linda Lobo, Rocky Malias, em momento John Travolta nos embalos de quinta à noite

O bom vocalista da Linda Lobo, Rocky Malias, em momento John Travolta nos embalos de quinta à noite

Uma noite sem aquela banda maiorzinha pra fechar? Qual nada! A impressão logo foi desfeita quando uma tal de Linda Lobo subiu no palco do Rio Novo Rock, ontem, no Imperator. O projeto é para colocar bandas novas pra tocar ao menos uma vez por mês, mas, para aquela turma que cantava várias das músicas ali na frente do palco, o grupo já tem a pinta de rock star refletida no terninho cheio de paetês do vocalista Rocky Malias. Registra-se que Linda Lobo não é uma moça que canta na banda, tampouco Vital, a banda de abertura, tem um integrante com esse nome – Ah! Esses novos rockers maravilhosos e seus nomes de banda voadores!

A entrada da Linda Lobo no palco foi para mostrar que, com o rock, não tem arrego. A banda engrena logo de cara umas três músicas sem “oi, tudo bem”, sem “é um sonho estar aqui”, sem blábláblá genérico de looser quando acerta. O grupo é adepto de um rock “sem vergonha e vagabundo” que passeia por Stones, Guns N’Roses e T-Rex e cairia muito bem como trilha de cabaré démodé caso ainda tocasse rock em um ambiente desses. Longe de ser clone dessas e muitas outras referências, os rapazes se sobressaem porque sabem compor e produzir boas músicas, e têm a pegada inerente ao rock. Por isso o refrão marcante de “Sexo & Dinheiro (A3)”, um rock de beira de estrada com simplicidade atroz que sacode até quem ouve pela primeira vez, ecoa com mil vozes pelo salão.

O guitarrista da Linda Lobo, Gustavo Antunes, figura principal na condução de solos e evoluções nas músicas

O guitarrista da Linda Lobo, Gustavo Antunes, figura principal na condução de solos e evoluções nas músicas

Mas para sacar bem o som da Linda Lobo é preciso ter em mente que os três guitarristas têm como ponto central Gustavo Antunes, que desanda a solar em todas as músicas, e na presença de espírito/cafajestice de Malias. Antunes arrebenta com um efeito slide guitar em “Linda e Louca”, um blues carregado dons bons que deságua em ótimo arranjo instrumental. Eles - os arranjos - também são bem pensados pela banda, coisa não muito comum em grupos novos, com o farto uso de backing vocals por todos os integrantes. Outra música legal é “Paixão Proibida”, que encerra um set curto no astral com muita gente cantando outro refrão fácil para eternizar o show da Linda Lobo.

Antes, ainda teve tempo para a participação – seria uma cláusula contratual do Rio Novo Rock? – da vocalista da Zena, Giul Abreu, em “Hollywood em Preto e Branco”. Ela sofre com o volume do microfone, bem mais baixo que o do trator Rocky Malias, mas, em compensação, não compromete. Um episódio chama atenção: a entrada no palco do ex-guitarrista do Folks, Sergio Sessim, como se fosse tocar também, e o subsequente mal estar entre os integrantes antes do início da última música, a já citada “Paixão Proibida”. E teve espaço para a estreia, nos palcos, da música “Depois do Fogo”, uma baladaça de avexar até o Klaus Meine depois cantar “Still Loving You” pela milionésima vez. Canastrão, Rocky Malias faz de tudo para gravar o refrão a ferro e fogo na testa do público. Aposto que conseguiu.

Entrosamento: o guitarrista Lucas Castelo e o baixista Figa tocam lado a lado no show da Linda Lobo

Entrosamento: o guitarrista Lucas Castelo e o baixista Figa tocam lado a lado no show da Linda Lobo

Não é que o Vital, designado para a abertura da noite, não tenha também o punch que o rock precisa. O grupo investe em bases de baixo e guitarra bem pesadas, inspiradas no metal bate estacas da década de 1990; não por acaso rola uma citação a Rage Against The Machine em “Olhos Fechados”. Mas o quinteto sofre de uma inegável ancestralidade emo da qual – graças aos céus! – parece querer se livrar, ao mesmo tempo em que não vê saída. Por isso, em quase todas as músicas há espécie de “descanso sonoro” que subtrai o peso do show, ao passo que o vocalista Pedro Anversi abusa de vocalizações melosas e vive um deslumbramento enfadonho incompatível com a apresentação da banda em si. Não custa lembrar que o Rio Novo Rock é só o começo, não é a consagração mundial, não.

Mesmo assim, em que pese uma introdução instrumental quase muzak, o show tem ótimos momentos. “Exílio”, ainda na parte inicial, é um deles, pela vocação de colar nos ouvidos logo de cara, e ressalta-se que o som tá alto pacas, o que é ótimo. A pesada “Superficial” é outra, e “Êxtase” tem ótimas evoluções de guitarra, sobretudo por parte de Matheus Buonocore. Tanto ele como o outro guitarrista, Lincoln Bispo, poderiam ser menos tímidos, já que há poucos solos nas músicas, de um modo geral; quando acontece, a debulhagem é de ótima qualidade, como em “Fim da Linha”. Curiosamente, o show é maior que o da Linda Lobo, mas nem por isso a apresentação soa arrastada, muito embora haja semelhanças óbvias entre uma e outra música. O repertório desse show está no álbum “Selvagem” que – eles garantiram – sai em julho.

Animação: o super hiper feliz vocalista da Vital, Pedro Anversi. mostra o bom alcance de seu gogó

Animação: o super hiper feliz vocalista da Vital, Pedro Anversi, mostra o bom alcance de seu gogó

Set list completo Linda Lobo:

1- Ácido
2- Vai Dançar
3- Sexo & Dinheiro (A3)
4- Blues do Jon
5- Linda e Louca
6- Truque de Mágica
7- Depois do Fogo
8- Hollywood em Preto e Branco
9- Paixão Proibida

Set list completo Vital:

1- Intro
2- Combustão
3- Exílio
4- Fim da Linha
5- Despertar
6- Superficial
7- Martírio
8- Êxtase
9- Olhos Fechados
10- Vitória

Momento intimista da Vital: o baixista Marcelo Caldas afina, Pedro Anversi canta e Lincoln Bispo toca

Momento intimista da Vital: o baixista Marcelo Caldas afina, Pedro Anversi canta e Lincoln Bispo toca

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