O Homem Baile

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Em momento de transição, Mumford & Sons atrai bom público no Rio, mas show não engrena e repertório deixa a desejar. Fotos: Nem Queiroz.

O líder e faz tudo do Mumford & Sons, Marcus Mumford, sota a voz com um de seus violões

O líder e faz tudo do Mumford & Sons, Marcus Mumford, sota a voz com um de seus violões

Um público surpreendente chegou mais cedo ao distante Metropolitan, no Rio, na última segunda (13/3) só para ver o show do Mumford & Sons, que, em tese, faria a abertura para Florence + The Machine (resenha completa aqui). Em tese porque, na prática, muita gente que chegou cedo e vibrou com o show do grupo, de tamanho mais ou menos igual ao da apresentação de fundo. As duas bandas foram atrações do Lollapalooza no último final de semana, e os shows formaram uma das chamadas “Lolla Parties”, série de eventos paralelos ao festival. Na oportunidade, o Mumford apresentou um repertório parecido com o do Lolla, agradando em cheio o público carioca, que certamente acompanhou a transmissão do festival pela TV.

“Snake Eyes” é trazida para a abertura e começa como quem não quer nada para desaguar em um pesado encerramento. A fórmula é um “must” no meio indie e até vai bem no início, mas cai no desgaste durante o show. Isso porque quase todas as músicas têm aquele momento intimista que tira o pique de um show de rock, mesmo que o público seja conhecedor do trabalho do Mumford. Talvez seja por que a banda esteja em franca transição. Há pouquíssimo tempo, ia fundo em um indie folk completamente desprovido de pegada, e, com o disco mais recente, “Wilder Mind”, lançado no ano passado, volta a face para o indie rock com um odor intumescido de Coldplay. Pode ser que o processo ainda não esteja concluído, mas, se estiver, a julgar por esse show, a coisa não é lá muito boa, não.

Senão, vejamos. “The Cave”, reconhecida pelo público no primeiro acorde e feita para dançar segundo o líder do grupo, Marcus Mumford, realmente começa em clima de micareta indie, mas é interrompida pelo anticlímax de um desses momentos intimistas. Em “White Blank Page”, o sotaque folk permanece demasiadamente forte, e a chatinha “Monster”, do disco novo, também não convence. Outro procedimento que reforça o clima de transição/indecisão é o rodízio de instrumentos. Marcus chega a tocar bateria, e são duas, com outro baterista, e por vezes não há bateria na música, dá para acreditar? Os demais integrantes também se revezam em teclados diferentes, baixo elétrico e acústico, banjo, violões e guitarras, reforçando a máxima de que quem quer tocar muitos instrumentos, não toca bem nenhum. Ademais, palco não é estúdio.

O tecladista Ben Lovett, Marcus Mumford e o guitarrista Winston Marshall: banda em franca transição

O tecladista Ben Lovett, Marcus Mumford e o guitarrista Winston Marshall: banda em franca transição

Excetuando-se a euforia dos fãs, há, sim, muitos bons momentos durante o show. A inefável micareta indie se repete em músicas como “Lover of the Light”, quase convertida em fanfarra, e em “Little Lion Man”, ainda no início. A boa “Tompkins Square Park” tem forte adesão do público, e em “Ditmas”, Marcus Mumford se despacha para o meio da plateia e dá a volta pelo lado oposto para voltar ao palco. Os pontos fortes mesmo, contudo, são “The Wolf”, um rock de verdade tocado como o rock deve ser tocado, no encerramento; “I Will Wait”, também no bis, que empolga até os desaviados; e o bom cover para “I’m On Fire”, de Bruce Springsteen, que os caras tiveram a manha de não estragar. Precisa melhorar. E muito.

Set list completo:

1- Snake Eyes
2- Little Lion Man
3- Below My Feet
4- Wilder Mind
5- White Blank Page
6- Lover of the Light
7- Tompkins Square Park
8- Believe
9- Monster
10- The Cave
11- Ditmas
12- Dust Bowl Dance
Bis
13- Hot Gates
14- I’m On Fire
15- I Will Wait
16- The Wolf

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