O Homem Baile

Descontraído

Eagles Of Death Metal não usa como subterfúgio os atentados de Paris, mas faz show apenas regular no Lollapalooza. Fotos: Camila Cara/Divulgação T4F.

O líder do Eagles Of Death Metal, Jesse Hughes, agita o público no 'palco longe' do Lollapalooza

O líder do Eagles Of Death Metal, Jesse Hughes, agita o público no 'palco longe' do Lollapalooza

Escalado em um horário ingrato como boa parte das bandas de rock dessa edição do Lollapalooza, o Eagles Death Metal começou a tocar debaixo de uma soalheira danada, no sabadão (12/3), no palco mais distante do festival, a ponto de o GPS acusar mudança de bairro de Cidade Dutra para Itaim Bibi, sendo que o evento acontece no Autódromo de Interlagos. Mesmo assim, um bom punhado de gente já estava lá para ver os caras, que ganharam mais spots depois dos atentados de 13/11, e, à bem da verdade, o tal palco secundário, por conta de generosa topografia de anfiteatro, reserva uma vibe ótima, já testada e aprovada nos outros dois anos.

Curiosamente – e a medida é boa – a música “Kiss the Devil”, que a banda tocava no Bataclan na noite fatídica foi limada do repertório, e o público parecia o do tipo “amo essa banda desde sempre, mas nunca ouvi”, de modo que o comportamento é meramente contemplativo durante as músicas e se converte em vibração de auditório ao término de cada uma. Ciente da situação, o fanfarrão Jesse Hughes, dono do bigode mais farto do rock desde Freddie Mercury, tratou de seduzir o público com suas tiradas, e logo viu que seria fácil embolsar a simpatia de todos. Os “I love you”, então, se proliferaram até culminar na descida ao fosso que separa o público do palco, na ótima “I Want You So Hard (Boy’s Bad News)”, após divertida zoada no guitarrista e figuraça Dave Catching.

O guitarrista Dave Catching, com uma das suas flying V, sempre zoado por Jesse, resiste ao calorão

O guitarrista Dave Catching, com uma das suas flying V, sempre zoado por Jesse, resiste ao calorão

Lembre-se que o EODM é um projeto de Hughes com Josh Homme, do Queens Of The Stone Age, mas o sujeito não veio ao Brasil, o que é uma lástima, mas também não está na turnê como um todo, se isso serve de consolo aos brasileiros. A turnê é a do ótimo álbum “Ziper Down”, de 2015, que empresta só três músicas ao show. São elas “Complexity”, cujo videoclipe é rodado, mas mesmo assim o público pouco reage; “Silverlake (K.S.O.F.M.)”, na qual Catching, um notório amante do modelo flying V, desafia Jesse Hughes, e é correspondido; e o inexplicável cover para “Save a Prayer”, do Duran Duran, que faz a plateia – aí, sim – cantar numa felicidade danada. Já “Cherry Cola” prima por trabalhos de guitarra em segundo plano que lhe dão grande vigor melódico, e tem a boa ajuda vocal do baixista Matt McJunkins.

Mas McJunkins acabou se destacando, por assim dizer, no desfecho de “I Want You So Hard (Boy’s Bad News)”, quando, depois de explicar a origem da música, Jesse apresentou os músicos, de modo que cada qual deveria fazer um pequeno solo. Visivelmente sem jeito, não restou a ele outra opção senão desencravar passagens de “YYZ”, do Rush, seguramente a música mais usada em aulas de tocar instrumentos de que se tem notícia. Foi divertido, mas um show só com a banda em um local fechado e horário apropriado, as coisas devem ser muito melhores. Nesse do Lolla, com uma horinha só, valeu a disposição em não fazer de uma tragédia um fútil instrumento de marketing.

Set list completo:

1- I Only Want You
2- Don’t Speak (I Came to Make a Bang!)
3- Complexity
4- Whorehoppin’ (Shit, Goddamn)
5- Silverlake (K.S.O.F.M.)
6- Cherry Cola
7- The Reverend
8- Save a Prayer
9- Wannabe in L.A.
10- I Want You So Hard (Boy’s Bad News)
11- Speaking in Tongues

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