O Homem Baile

Tá no sangue

Tygers Of Pan Tang estreia no Rio a primeira turnê pelo Brasil e, assim como o Picture, na abertura, faz show de pura atitude. Fotos: Michael Meneses.

Tygers Of Pan Tang: o bom vocalista Jacopo Meille canta junto com o guitarrista Micky Crystal

Tygers Of Pan Tang: o bom vocalista Jacopo Meille canta junto com o guitarrista Micky Crystal

A espera é de quase 40 anos, mas eis que o Tygers Of Pan Tang aparece no Teatro Odisséia, no Rio, nesta quinta (10/3) para o início de sua primeira turnê pelo Brasil e pela América do Sul. Não que seja uma daquelas entradas triunfantes das bandas da chamada new wave of british heavy metal, de onde o grupo saiu – os próprios músicos ajudam a montar palco antes do início. Não que a formação seja a clássica ou a original, com apenas um integrante fundador, o guitarrista Robb Weir. Mas é o Tygers no palco, ora bolas, um show inimaginável de acontecer por essas bandas em pleno 2016, tão improvável que um público ralo comparece, fazendo valer a máxima “pequeno, mas empolgado”. Empolgadíssimo, diga-se, até mesmo com a banda de abertura – e ainda tem mais essa – o holandês Picture.

Dá gosto de ver Weir, irreconhecível, subir no palco no intervalo carregando ele mesmo os pedais e cabos de guitarra. Trajado como um cidadão comum, sem as camisetas, coletes e outros adereços verificados até no público, ele é o símbolo da empolgação de se manter uma banda viva, longe dos holofotes do sucesso, depois de tantos anos. Por isso é o mais aplaudido durante apresentação dos músicos, já no finzinho do show, e se destaca também – o mais importante – empunhando com habitual atitude as seis cordas. Seja na locomotiva de “Insanity”, que inclui o uso do vocoder (tipo Bon Jovi em “Living On A Prayer”), outra de sua facetas, na transição para “Suzie Smiled”; nos vocais de “Wild Catz”; ou na cadenciada “Keeping Me Alive”, Rob Weir representa muito bem o que o quinteto tem de raiz.

O guitarrista Rob Weir, o baixista Gavin Gray, Micky Crystal, o baterista Craig Ellis e Jacopo Meille

O guitarrista Rob Weir, o baixista Gavin Gray, Micky Crystal, o baterista Craig Ellis e Jacopo Meille

São vários os discos representados no show, sobretudo a trinca de maior sucesso formada por “Wild Cat” (1980), “Spellbound” e “Crazy Nights” (ambos de 1981). O vocalista Jacopo Meille, há mais de 10 anos no grupo, contudo, mostra que, mesmo que não seja tão relevante, o Tygers segue lançando álbuns com músicas boas. É o caso da já citada “Keeping Me Alive”, de 2012, e da pauleira “Rock Candy”, lançada em 2008, que exige mais do potente som do Teatro Odisséia. Outros destaques são “Gangland”, cujo riff matador empolga até quem não conhece a música, e são poucos; a contagiante “Rock and roll Man”, incluída meio “de surpresa”; e “Don’t Stop By”, outra com riff cabuloso, nem sempre tocada, segundo Meille, em todos os shows.

A despeito de, assim como o Tygers Of Pan Tang, o Picture não fazer parte do primeiro escalão do metal mundial, o grupo tem muito do que se orgulhar. Porque simplesmente é impossível não lembrar de bandas de maior relevância no segmento durante o show. Quando os guitarristas Andre Wullems e Mike Ferguson se apresentam à frente do palco para travar duelos e reproduzir fraseados criados pelos integrantes da formação original, lá atrás, a bicho pega pra valer. “Heavy Metal Ears”, por exemplo, tem trechos decalcados nessa ou naquela música do Helloween; “You’re All Alone” é um espetáculo das twins guitars que já faziam a cabeça do Judas Priest; e os riffs matadores de “Message From Hell” nada devem aos dois álbuns iniciais do Iron Maiden.

A boa presença de palco, melhor que o gogó do vocalista Pete Lovell, do também veterano Picture

A boa presença de palco, melhor que o gogó do vocalista Pete Lovell, do também veterano Picture

O grupo tem também apenas dois integrantes da formação original, o baterista Laurens Bakker, e o baixista Rinus Vreugdenhil, que, inclusive, desce simpaticamente para tocar no meio do público, durante “Bombers”, o primeiro single do Picture, lançada há 35 anos. O vocalista Pete Lovell não é nenhum garoto, e segura o pique do show mais com presença de palco do que com uma boa voz, mas não é isso que se destaca. O que faz a diferença seguramente é a satisfação de voltar ao Brasil – a banda tocou no mesmo local há cerca de dois anos – mesmo sabendo que as condições não são as mesmas da era de ouro, em termos de estrutura e público, mas que os tempos continuam, sim, bons pra cacete. Senão, não teriam sido tocadas com tanto fervor e ótima aceitação pelo público músicas como “Eternal Dark”, com sotaque “from hell”; a já citada “You’re All Alone”; e “Make it Burn”. Tem que vir de dentro, tá no sangue.

Set list completo Tygers of Pan Tang:

1- Euthanasia
2- Love Don’t Stay
3- Gangland
4- Wild Catz/Paris by Air
5- Never Satisfied
6- Keeping Me Alive
7- Killers
8- Rock and Roll Man
9- Rock Candy
10- Don’t Stop By
11- Insanity
12- Suzie Smiled
13- Raised on Rock
14- Hellbound
15- Don’t Touch Me There
16- Love Potion No. 9

Linha de frente do Picture: a atitude no palco durante um verdadeiro show de rock pesado é para poucos

Linha de frente do Picture: a atitude no palco durante um verdadeiro show de rock pesado é para poucos

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