O Homem Baile

Na farra

Clima de celebração e fanfarronice marca o lançamento do DVD que coroa a turnê de reunião do Viper, no Circo Voador. Fotos: Nem Queiroz.

Figura central no Viper, Andre Matos segue com o gogó em dia; show que se converte em espécie de ensaio

Figura central no Viper, Andre Matos segue com o gogó em dia; show que se converte em espécie de ensaio

A máxima “espero que vocês estejam se divertindo tanto quanto a gente aqui no palco” poucas vezes foi tão verdadeira como no show do Viper nesse domingo, no Circo Voador. É que o grupo, que está reunido há uns três anos para celebrar sua trajetória, não parece mais aqueles adolescentes que há 30 anos se esforçavam para ter um reconhecimento profissional o mais rápido possível. Agora, o que conta é a farra, a fanfarronice e a diversão, muito mais no palco do que para o público. Ou não, já que ao ser cobrado por uma fã que grita “toca música!”, o vocalista Andre Matos recebe o coro de “discurso, discurso!” de boa parte do público, que acabou chegando em bom número aos 45 do segundo tempo.

Andre é figura central da banda, não por acaso o de carreira mais consolidada – solo em com outros grupos – e reconhecida em todo o mundo. Aqui, contudo, divide as atenções com o baixista Pit Passarell, que inclusive assumiu o posto do próprio Andre, quando este foi ser feliz no Angra. Pit parece embarcado em um eterno porre que começou no início da reunião e não acaba nunca mais. Toca mal, canta mal, erra letra, tem tiradas nem sempre impagáveis (algumas, sim) e se diverte pra valer, exibindo um jeitão de Iggy Pop fisicamente debilitado. Mas é integrante fundador, compositor de boa parte do repertório, então grita-se com um barulho desses. O trecho quase acústico em que ele canta “The Spreading Soul” com o guitarrista Felipe Machado é de doer.

O trio Felipe, Guilherme Martin na bateria e Hugo Mariutti, na outra guitarra, contudo, manda muito bem para que Andre solte a voz como só ele sabe fazer. Na ótima “A Cry From The Edge”, o público não se contém e se derrete em aplausos direcionados ao vocalista, que segue alcançando as partes altas – e são muitas – com extrema facilidade. No início, parecia que ele não estava bem, mas a impressão se desfaz nas quase duas horas de show. Felipe e Hugo, que substitui nessa formação Yves Passarell, hoje no Capital Inicial, já se mostravam bem entrosados no show de 2012, no Teatro Rival (relembre), mas agora estão muito melhor. Os duelos que eles impõem em “At Least a Chance”, em “To Live Again” e na pedrada “Wings Of The Evil”, com Guilherme quebrando tudo, ainda na primeira parte, são realmente fabulosos.

O baixista Pit Passarell, ainda comportado, Andre Matos e o ótimo guitarrista Felipe Machado

O baixista Pit Passarell, ainda comportado, Andre Matos e o ótimo guitarrista Felipe Machado

O show marca o lançamento do DVD “To Live Again”, que coroa a turnê de reunião, então o repertório, que no início do giro tinha a íntegra dos dois primeiros álbuns (“Soldiers Of Sunrise”, 1987, e “Theatre Of Fate”, 1989), muda com a inclusão de músicas do álbum “Evolution”, que já não tinha Andre Matos. Ele se sai muito bem, especialmente em “Come From The Inside”, e os fãs mais apegados à fase inicial precisam rever o trabalho do Viper com Pit nos vocais, que tem muita coisa boa para se redescobrir. Em “The Shelter”, música do projeto FM Solo, de Felipe Machado, tem ele próprio cantando e a participação do baixista Rob Gutierrez, diretamente do meio da plateia.

O ponto alto da noite poderia ser o hino “Living for The Night”, mas o modo piegas como a música é encarada lhe tira a relevância. Ademais, no meio da música, quando a banda é apresentada, várias citações a clássicos do metal são feitas, até que “Breaking The Law”, do Judas Priest, sai na íntegra e agrada geral. Pena que eles tenham se esquecido de voltar à “Living For The Night”, o que então é feito canhestramente. A partir daí o tom de celebração se converte em um clima de ensaio e de improviso. No final, na inspiradora “H.R.”, trilha sonora do underground que vai dominar o mainstream, uma troca de posições amalucada leva Andre Matos para a guitarra e o produtor Nando Machado assume o baixo. Sim, eles se divertem pra valer, e o público, gente fina, ri. Mas que dá saudade daqueles rapazotes precoces de outras épocas, isso dá.

Set list completo:

1- Intro
2- Knights of Destruction
3- To Live Again
4- Coming From the Inside
5- At Least a Chance
6- Nightmares
7- Wings of the Evil
8- The Shelter
9- The Spreading Soul
10- Soldiers of Sunrise
11- Dead Light
12- Signs of the Night
13- A Cry from the Edge
14- Living for the Night
15- Breaking The Law
16- Living For The Night (término)
17- Prelude to Oblivion
15- Rebel Maniac
16- H.R.

Pit Passarell empunha o baixo ao lado de Andre Matos, em sua posição característica para soltar a voz

Pit Passarell empunha o baixo ao lado de Andre Matos, em sua posição característica para soltar a voz

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