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Opostos

Cândido e Drops 96 mostram estágios diferentes da carreira no projeto Rio Novo Rock, mas as duas precisam melhorar. Fotos: Nem Queiroz.

O ótimo vocalista do Drops 96 coloca o gogó pra funcionar, acompanhado por backing vocals

O ótimo vocalista do Drops 96 coloca o gogó pra funcionar, acompanhado por backing vocals

Às vésperas do Carnaval até que um bom público compareceu na noite desta quinta (4/2) para os shows do projeto Rio Novo Rock. A noite foi marcada por diferenças de estágio entre as duas bandas. De um lado, a Cândido, mas nova, ingênua até, mas com o frescor que o rock só encontra nos menos experimentados. Do outro, o pop rock de alta pressão do Drops 96, banda bem ensaiada e seguramente com mais tempo de estrada, com músicos rodados e uma apresentação redondinha, formatada e pronta para o sucesso comercial de gosto duvidoso. Mesmo ajudados pelos respectivos grupos de amigos à beira do palco, nenhuma das duas convence completamente, mas no balanço das horas tudo pode mudar.

A Drops 96 é uma banda cascuda, com muito tempo de estrada e com músicos que não dão mole. Todos tocam bem, com muita precisão e a banda aparece no palco ensaiadinha, sem deixar buracos no som ou com interrupções a custa de inefáveis problemas técnicos que perturbaram a Cândido, que tocou antes. O grupo faz um pop rock de alto impacto, explosivo em alguns momentos, mas peca por aquilo em que sempre vacilam bandas do gênero: pouca criatividade e, por conseguinte, músicas bem parecidas umas com as outras e, na maioria dos casos, ruins. O melhor da banda é o guitarrista Robson Janser, um canhoto que parece ter potencial para tocar rock pra valer, e caso ele já não tenha outra banda, com mais guitarras, sem o apelo comercial da Drops 96, recomenda-se a investida. O vocalista Fabio Valente também é dos bons, mas desperdiça a boa voz ao ser impostada como se fosse um cantor brega/romântico, ou, no máximo, um Paulo Ricardo de segunda linha.

Linha de frente do palco da Drops 96: bons músicos que juntos fazem um pop rock de alta pressão

Linha de frente do palco da Drops 96: bons músicos que juntos fazem um pop rock de alta pressão

Imaginem que o vocalista chega a se desculpar ao anunciar “Volta Pra Mim”, segundo ele uma música não tão rock assim, para a qual sorrateiramente pede que acedam-se na plateia isqueiros, celulares ou qualquer outro tipo de luz. Parece até que está em uma edição do Rock In Rio tocando “Love Of My Life”. Menos, pessoal. A música, balada chata, realmente não é das melhores e realça o desperdício da boa voz de Valente. As músicas mais legais são “Deixa Fluir”, pressão pura, com um ótimo riff de guitarra encorpado pelo baixo de Thiago Andrade e pelas programações do tecladista Nando Sampaio; “Estrada”, composição apenas razoável, que se salva por um ótimo arranjo; e a popalhaça “Palco da Vida”, hit deles, que se depara com um Imperator vazio, no encerramento. Parceria com Wilson Sideral, que assina hits do Jota Quest, “Sorte” era para ser a carta na manga, mas a composição não segura o bom refrão, como é de se esperar.

Se engatinha na forma, a Cândido consegue mostrar boas músicas dentro do rock puro, de verdade, que apresenta no show de abertura. Entre elas, dá pra citar ao menos três como parte do bom cancioneiro rock’n’roll dos caras. “Ela e os Ramones”, um rock básico de atroz simplicidade, coroado por um ótimo solo do guitarrista Thomas Ferreira; “Deu Vontade”, pérola colante, cuja letra é para adolescente nenhum se queixar caso seja repreendido; e “Anti Herói”, com um discreto, mas cativante trabalho de guitarras cheias de texturas. O problema é que elas aparecem alojadas na parte inicial do repertório, e o show dá uma caída do meio para o final. “Depois do Cinema”, hit da banda, com clipe em alta rotação, acaba fechando o show em um bom astral, mesmo porque muita gente conhece e canta junto.

O vocalista da Cândido, Pietro Santos, vibra com a participação do público, numeroso, no início

O vocalista da Cândido, Pietro Santos, vibra com a participação do público, numeroso, no início

Pietro Santos carrega o defeito de boa parte dos vocalistas dessa nova geração, o de falar, gritar e gesticular para que a plateia participe, quando quem deve fazer isso é a música em si. É só tocar que, se a canção é boa, o público vem junto. Mas o show não embala não só por causa disso, em que pese a turma de amigos no gargarejo. Mas por conta de inúmeras paralisações para arrumar isso ou aquilo, algo inimaginável para uma banda profissa como o Drops 96. Sempre fazem tantos agradecimentos à equipe do Imperator (como se agradece nesse projeto!), mas não havia ninguém para ajudar os músicos, e até o baterista Raphael Thiago foi flagrado correndo de lado a outro do palco, com uma caixa debaixo do braço. Também são muitos convidados, o que prejudica o lado “mostrar o trabalho” do quarteto. Por vezes, parece que o show no “Rio Novo Rock” é a consagração, a gravação de um DVD em programa de TV, quando deveria ser tratado apenas como parte de um começo. Dá pra melhorar, pessoal, mas, sabemos todos, a estrada é longa.

Set list completo Cândido:

1- Jornal
2- Anti Herói
3- Prato Velho
4- Ela e os Ramones
5- Deu Vontade
6- Abstinência
7- Karma
8- Águas de Marte
9- A Carta
10- Depois do Cinema

Set list completo Drops 96:

1- Vitrine
2- Deixa Fluir
3- Busque Mais Vida
4- O Mundo é Maior
5- Saudade
6- Solo de bateria
7- Estrada
8- Além das Palavras
9- Volta Pra Mim
10- Sorte
11- Gratidão
12- Palco da Vida

O quarteto Cândido toca no Rio Novo Rock e sofre com falta de sequência durante todo o show

O quarteto Cândido toca no Rio Novo Rock e sofre com falta de sequência durante todo o show

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