Triturador
Sem sentir o desfalque do guitarrista titular, Exodus passa por cima do público no Circo Voador com clássicos, músicas novas e pérolas. Fotos: Nem Queiroz.
No começo, contudo, parecia que iria dar errado. Algo vai mal com a guitarra dele, que dá um piti até que um roadie com a rapidez de um zagueiro do time de casados em pelada de final de ano lhe apresente outra. E lá s vai metade de “Black 13”, a música que abre o show, com uma guitarra só. Do outro lado, Jack Gibson também troca de baixo e as coisas se acertam antes mesmo que alguém perceba o que se passa, em meio a estapeamentos generalizados no meio do salão. Mas para o final, o excepcional baterista Tom Hunting, único sócio fundador no palco, ainda precisaria da troca de um robusto monitor que deve mantê-lo surdo para todo o sempre. O som ensurdecedor que sai da caixa durante toda a noite compensa qualquer eventual vacilo na passagem de som.
Funcionando como uma máquina trituradora de concreto armado durante todo o tempo, o show tem ao menos dois pontos altos. Um deles é na dobradinha “Body Harvest”/“Metal Command”, cuja distância no tempo é eliminada com grande propriedade. A primeira vem com um riff matador, um belo duelo de guitarras entre o nada bobo Lee Altus e Kragen Lum, carregado em evoluções melódicas, e um magnífico cantarolar por parte da plateia. A veloz “Metal Command” atropela com outro duelo, que dessa vez prima pela agilidade de cada guitarrista. O outro ponto alto, já na parte derradeira, tem “Blacklist” e a brutal “Impaler”, música das antigas, dos tempos de Hammett, mas que só foi gravada no álbum “Tempo of the Damned”, de 2004. Tanto que, de início, a agitação do público arrefece, mas logo todos se convertem a um irresistível massacre riffônico de palhetadas que a música oferece. “Blacklist”, do mesmo álbum (gravado com Zetro, diga-se), é toda trabalhada na cadência thrash metal, uma máxima para o gênero e cativa facilmente o povão.O repertório é parecido com o do show de outubro de 2014, neste mesmo Circo Voador, e a novidade é a inclusão de quatro músicas do álbum mais recente, o bom “Blood In Blood Out”, que saiu logo depois daquela turnê brasileira. Do clássico “Bonded By Blood” são outras seis, e a festa está montada. Zetro fala bastante entre as músicas, até para dar um fôlego aos demais integrantes, mas não é chato. Ele lembra do show de 14, tenta fazer uma ode à cultura brasileira citando não só os fãs, mas o churrasco, a cachaça e o baseado, e é prontamente atendido quando pede os chifrinhos em riste ao público. Outras músicas de destaque são justamente “Blood In Blood Out”, logo no início; “The Toxic Waltz”, que gera um dueto de Zetro com o público; e a esperada, porém não menos surpreendente “abertura do Mar Vermelho” no encerramento, em “Strike of the Beast”. Parece que não faltou nada, né, Gary?
Também não faltou a abertura com o Test, uma das bandas preferidas do Circo Voador, muito embora o show tenha começado muito cedo e tenha sido pouco divulgado. O duo de metal extremo, no entanto, pouco se importa e manda o habitual esporro sonoro identificado com o crust/grind. Como não há um baixista na formação, o som que sai das caixas é estridente e por vezes sem saída. Ou seja, se você já viu um show deles uma vez, é o bastante, por que, desse jeito, o Test segue rodando em círculos. O que não quer dizer que não seja divertido ver o ultrarrápido baterista Barata fazer o guitarrista João Kombi cortar um dobrado para acompanhá-lo. É que poderia ser muito melhor se eles não ficassem só nessa.Set list completo Exodus:
1- Black 13
2- Blood In, Blood Out
3- And Then There Were None
4- Children of a Worthless God
5- Deranged
6- Salt the Wound
7- Body Harvest
8- Metal Command
9- Piranha
10- War Is My Shepherd
11- A Lesson in Violence
12- Blacklist
13- Impaler
14- Bonded by Blood
15- The Toxic Waltz
16- Strike of the Beast
O Holt é uma entidade do metal. Deixei de ir quado soube que ele não viria. Por melhor que tenha sido, não me arrependo. Deixo na lembrançaa o show de 2014.