O Homem Baile

Triturador

Sem sentir o desfalque do guitarrista titular, Exodus passa por cima do público no Circo Voador com clássicos, músicas novas e pérolas. Fotos: Nem Queiroz.

Nem aí: o vocalista do Exodus, Steve 'Zetro' Souza, e o habitual chamamento ao thrash metal de raiz

Nem aí: o vocalista do Exodus, Steve 'Zetro' Souza, e o habitual chamamento ao thrash metal de raiz

Alguém viu o Gary Holt, guitarrista do Exodus, ontem, perambulando pelo Circo Voador? Talvez o nome do cabra nem fosse lembrado se o vocalista Steve “Zetro” Souza não tivesse, entre uma traulitada e outra, pedido desculpas pela ausência dele, que, por motivos pessoais, segundo consta, não embarcou para essa turnê pelo Hemisfério Sul. E, também, porque Kragen Lum, do Heathen, não tomou conhecimento de nenhum clamor pelo titular do posto e mandou muito bem nas 16 músicas que, em cerca de 90 minutos sem acréscimos, triturou o cérebro de um público (apenas razoável, diga-se) agitado no Circo Voador. Se faltou a aura de uma grife como a de Holt, sobrou técnica, energia e entrega por parte de um atrevido Lum. E vale o registro que, em quase 40 anos de carreira, mais ou menos uns 30 sujeitos já passaram pelo Exodus, incluindo o metálico Kirk Hammett.

No começo, contudo, parecia que iria dar errado. Algo vai mal com a guitarra dele, que dá um piti até que um roadie com a rapidez de um zagueiro do time de casados em pelada de final de ano lhe apresente outra. E lá s vai metade de “Black 13”, a música que abre o show, com uma guitarra só. Do outro lado, Jack Gibson também troca de baixo e as coisas se acertam antes mesmo que alguém perceba o que se passa, em meio a estapeamentos generalizados no meio do salão. Mas para o final, o excepcional baterista Tom Hunting, único sócio fundador no palco, ainda precisaria da troca de um robusto monitor que deve mantê-lo surdo para todo o sempre. O som ensurdecedor que sai da caixa durante toda a noite compensa qualquer eventual vacilo na passagem de som.

Relax: o baixista Jack Gibson se diverte com o guitarrista substituto Kragen Lum, à esquerda no palco

Relax: o baixista Jack Gibson se diverte com o guitarrista substituto Kragen Lum, à esquerda no palco

Funcionando como uma máquina trituradora de concreto armado durante todo o tempo, o show tem ao menos dois pontos altos. Um deles é na dobradinha “Body Harvest”/“Metal Command”, cuja distância no tempo é eliminada com grande propriedade. A primeira vem com um riff matador, um belo duelo de guitarras entre o nada bobo Lee Altus e Kragen Lum, carregado em evoluções melódicas, e um magnífico cantarolar por parte da plateia. A veloz “Metal Command” atropela com outro duelo, que dessa vez prima pela agilidade de cada guitarrista. O outro ponto alto, já na parte derradeira, tem “Blacklist” e a brutal “Impaler”, música das antigas, dos tempos de Hammett, mas que só foi gravada no álbum “Tempo of the Damned”, de 2004. Tanto que, de início, a agitação do público arrefece, mas logo todos se convertem a um irresistível massacre riffônico de palhetadas que a música oferece. “Blacklist”, do mesmo álbum (gravado com Zetro, diga-se), é toda trabalhada na cadência thrash metal, uma máxima para o gênero e cativa facilmente o povão.

O repertório é parecido com o do show de outubro de 2014, neste mesmo Circo Voador, e a novidade é a inclusão de quatro músicas do álbum mais recente, o bom “Blood In Blood Out”, que saiu logo depois daquela turnê brasileira. Do clássico “Bonded By Blood” são outras seis, e a festa está montada. Zetro fala bastante entre as músicas, até para dar um fôlego aos demais integrantes, mas não é chato. Ele lembra do show de 14, tenta fazer uma ode à cultura brasileira citando não só os fãs, mas o churrasco, a cachaça e o baseado, e é prontamente atendido quando pede os chifrinhos em riste ao público. Outras músicas de destaque são justamente “Blood In Blood Out”, logo no início; “The Toxic Waltz”, que gera um dueto de Zetro com o público; e a esperada, porém não menos surpreendente “abertura do Mar Vermelho” no encerramento, em “Strike of the Beast”. Parece que não faltou nada, né, Gary?

Entrosou: Lee Altus e Kragen Lum desenvolveram vários duelos em solos e evoluções de guitarra

Entrosou: Lee Altus e Kragen Lum desenvolveram vários duelos em solos e evoluções de guitarra

Também não faltou a abertura com o Test, uma das bandas preferidas do Circo Voador, muito embora o show tenha começado muito cedo e tenha sido pouco divulgado. O duo de metal extremo, no entanto, pouco se importa e manda o habitual esporro sonoro identificado com o crust/grind. Como não há um baixista na formação, o som que sai das caixas é estridente e por vezes sem saída. Ou seja, se você já viu um show deles uma vez, é o bastante, por que, desse jeito, o Test segue rodando em círculos. O que não quer dizer que não seja divertido ver o ultrarrápido baterista Barata fazer o guitarrista João Kombi cortar um dobrado para acompanhá-lo. É que poderia ser muito melhor se eles não ficassem só nessa.

Set list completo Exodus:

1- Black 13
2- Blood In, Blood Out
3- And Then There Were None
4- Children of a Worthless God
5- Deranged
6- Salt the Wound
7- Body Harvest
8- Metal Command
9- Piranha
10- War Is My Shepherd
11- A Lesson in Violence
12- Blacklist
13- Impaler
14- Bonded by Blood
15- The Toxic Waltz
16- Strike of the Beast

Test: o guitarrista João Kombi, que passa o show todo perseguindo o ultrarrápido baterista Barata

Test: o guitarrista João Kombi, que passa o show todo perseguindo o ultrarrápido baterista Barata

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. fabio em janeiro 30, 2016 às 11:04
    #1

    O Holt é uma entidade do metal. Deixei de ir quado soube que ele não viria. Por melhor que tenha sido, não me arrependo. Deixo na lembrançaa o show de 2014.

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