O Homem Baile

Piração

Em bons shows, viagem indie-eletrônica do Inky contrasta com o rock de garagem do Stellabella no Rio Novo Rock. Fotos: Nem Queiroz.

A desprendida vocalista e tecladista Luiza Pereira, que conduz a boa viagem sonora do Inky no Imperator

A desprendida vocalista e tecladista Luiza Pereira, que conduz a boa viagem sonora do Inky no Imperator

O clima de rave instalado no Imperator na noite desta quinta (8/1) nem de longe parecia o encerramento de mais uma daquelas quintas de pauleira que o projeto Imperator Novo Rock vem apresentando mês após outro há quase dois anos. Para se ter uma ideia, o guitarrista desiste de seu instrumento e se junta à vocalista/tecladista em um mini sintetizador, e o baixista, por sua vez, desanda a dançar pelo palco como se fosse o Bez, do Happy Mondays. O clima de baticum, contudo, não converte a plateia em pista de dança, e dado o avançar da hora, muita gente já havia pulado fora antes de virar abóbora sem ônibus depois da meia-noite. Era a última música do Inky, fresquíssimo representante do chamado indie eletrônico nacional.

Mas o show não é todo assim porque o eletrônico do grupo é mais elétrico/orgânico do que se possa imaginar. Na maior parte do tempo os caras tocam os instrumentos pra valer, como banda de rock, só que o som é eletrônico, etéreo, viajante e por aí vai. A tal vocalista é Luiza Pereira, cujo tom de voz remete ao timbre sedutor de uma Björk jovem, esquecida lá no início do Sugarcubes. É ela quem também usa os sintetizadores indispensáveis para o som do Inky, e que fizeram Stephan Feitsma desprezar a guitarra no final pouco emblemático – repita-se - do show. Porque parte dele uma ótima coadjuvação aos climas criados por Luiza, em que pese o correto acompanhamento do baterista Lucas, identificado com a pegada oitentista revista anos 00, estreante na noite.

Luiza toca junto com Stephan Feitsma, que deixa a guitarra de lado para enfatizar o baticum no final

Luiza toca junto com Stephan Feitsma, que deixa a guitarra de lado para enfatizar o baticum no final

É o que acontece em “Would You?”, quando um ótimo solo prog rock sixties (Pink Floyd detected) surge sem esperar, em uma canção que parecia que não ia dar em nada. Na pesada “Tricky Manners”, o baixista Guilherme Silva, em vez de sair dançando por aí, dobra a voz de Luiza, encorpando a boa base e a incursões de guitarra da música. Com pegada mais pop, a ótima “The Pitfall” é a que poderia fazer o público cair na dança, mas a postura é quase sempre mais para o lado hipnótico que a música do Inky também incentiva. De propósito, o repertório, a íntegra do álbum “Primal Swag”, lançado há quase dois anos, caminha do rock para a dance music até chegar no desfecho que abre o texto. Multirreferenciado, o Inky tem muito a oferecer, mesmo que, por vezes, o som pareça muito clima pra pouca música. Mas quem disse que um som viajante não pode ser legal?

Numa inversão equivocada da programação, coube ao cascudo Stellabella fazer a abertura nessa que foi a primeira edição com o novo nome para o evento: Rio Novo Rock. Agora, acontece nas primeiras quintas do mês e o preço dobrou, mas os R$ 10 de meia-entrada ainda são muitíssimo acessíveis. Cascudo, sim, mas não parado. Tanto que duas músicas novas foram tocadas, sendo a boa “Tire Um Dia” já na abertura, o que acabou retardando um pouco a participação do público, que compareceu em bom número, se considerarmos o período de início de ano. A outra é “Jamais Se Afaste”, que revela que o melhor no Stellabella são as composições mezzo pop mezzo barulhentas de André Stella, em que pese as referências muitas vezes explícitas ao Nirvana.

Era para ser depois, mas foi antes: André Stella e seus hits à frente do cascudo Stellabella na abertura

Era para ser depois, mas foi antes: André Stella e seus hits à frente do cascudo Stellabella na abertura

Aparece em “O Que eu Quiser”, um hit nato que, se fosse emendado com “Smell Like a Teen Spirit”, ninguém iria se incomodar. A música encerra o show com alguns amigos sobre o palco cantando tudo certinho, prova que a caminhada de quase 16 anos não é em vão. Mas André é ligado em todo o tipo de música, o que reflete em evoluções de guitarra como a de “Espere Mais”, que, na prática, é a que faz o show começar pra valer. Reforçado já há algum tempo pelo batera Adal Fonseca, que já tocou com Deus e o mundo, o trio está em ótima forma, ainda com a boa coadjuvação do baixista China, que segura bem nos vocais de apoio. Outra que se destaca na noite é “Invencível”, mais uma boa composição e que cativa por um precioso arranjo.

O que pega em um show do Stellabella é que mesmo o trio tendo um bom punhado de boas músicas e até alguns hits, a concatenação do repertório deixa a desejar, sem conseguir emplacar, na maioria dos casos, boas sequências. Por isso muitas vezes sons ótimos como “Reprise”, com um frescor pós anos 00, se perdem em meio a canções menos explosivas como “Bunker”, cuja participação do público não corresponde aos solicitado pelos músicos. Outras partes boas do show são a ótima “Algum Sentido”, de cunho dramático até; “Vozes na Minha Cabeça”, outra nirvânica; e a sequência final – aí, sim! – com “Alguém” e “O Que eu Quiser”, que encerra um show de rock como se deve encerrar um show de rock.

André e o fiel escudeiro China, no baixo: trio segue bem entrosado e apresentando boas músicas novas

André e o fiel escudeiro China, no baixo: trio segue bem entrosado e apresentando boas músicas novas

Set list completo Inky:

1- Fish Delay
2- Would You?
3- Tricky Manners
4- Massive
5- The Pitfall
6- Ice-O-Lator
7- Coincide
8- Echoes In The Groove
9- Baby, Reptile
10- Primal Swag

Set list completo Stellabella:

1- Tire Um dia
2- Espere Mais
3- Reprise
4- Vozes na Mina Cabeça
5- Jamais se Afaste
6- Vambora
7- Invencível
8- Bunker
9- Algum Sentido
10- A Planta
11- Alguém
12- O que eu Quiser

Fãs na área: amigos sobem no palco para cantar a última música do show do Stellabella, 'O Que Eu Quiser'

Fãs na área: amigos sobem no palco para cantar a última música do show do Stellabella, 'O Que Eu Quiser'

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