Fanfarronice punk
Distante do hardcore melódico de outrora, falastrões do NOFX fazem ótimo show em clima de stand up no Circo Voador. Fotos: Nem Queiroz.
A turnê é marcada pela apresentação, na íntegra, de “The Decline”, espécie de ópera punk rock cujos 18 minutos ocupa todo o EP que leva esse nome, lançado em 1999. A música, anunciada por Mike como “especialmente para os fãs reais do NOFX, se você não for fã de verdade, dê o fora daqui”, é tocada com todas as suas variações, incluindo solos de guitarra, virtuose do baixista, e as incursões de trombone do bom guitarrista El Effe. Numa delas, o baterista Erik Sandin sai de trás de seu kit, assume uma terceira guitarra e toca junto com o grupo, segundo consta, pela primeira vez, com um roadie nas baquetas, sem ensaio, tornando a noite realmente com ares de especial. A instrumental “What Now Herb?”, de seu lado, é apresentada como “Rio Is Better Than Alcaline Trio”, e tocada quase como uma bossa nova, com letra improvisada que homenageia o Rio. Tudo fanfarronice.
Porque o som do NOFX de hoje está longe do HC melódico que deu fama ao grupo, muito mais punk rock de verdade, por assim dizer. Fat Mike e a banda têm boas lembranças da cidade. Ele cita o show de 2006, no gigante Metropolitan, e se lembra da fatídica apresentação de 1997, numa espremida e improvisada Fundição Progresso, ainda em fase de construção, que quase não aconteceu por óbvia falta de segurança (foto aqui). Muitos sob a lona do Circo confirmam que estavam lá, mas, de lá pra cá, muita coisa mudou, incluindo o humor do baixista/vocalista, que parece distante daquele sujeito blasé que concedia entrevistas comendo fast food sem dar a mínima para os entrevistadores. Daí o modelito, as brincadeiras no palco e formato do show em si, que – acredite se quiser – funciona pacas. Muito ajudado pelo público, que, se não compreende quando é chamado de “poser” ao mostrar estampas de camisetas, conhece praticamente todo o repertório apresentado em uns 100 minutinhos de muita algazarra em forma de roda punk.Se a própria “The Decline”, com seus 18 minutões – uma eternidade punk – agrada, imaginem “Don’t Call Me White”, omitida da última vez (relembre), cujo título é entoado como palavra de ordem, no início do bis. Ou a sequência de três músicas em um minuto que inclui “IQ32”, “Monosyllabic Girl” e “I’m Telling Tim” sem dó nem piedade. Ou ainda “Leave It Alone”, na primeira parte. Em “Franco Un-American”, já no bis, finalmente um teclado, que serve mais para dependurar uma bandeira do movimento gay é usado, num outro exemplo de fanfarronice do quarteto. Nem quando uma moçoila mais animada sobe nos ombros de um amigo para tirar a blusa tem a provação da banda, muito menos os gritos de “NOFX! NOFX!”, respondidos como “Estamos aqui! Estamos aqui!”. “Não faz sentido nos chamar quando estamos no palco, entende?”, argumenta Fat Mike.
O repertório passeia por quase todos os discos da banda, e – repita-se – quase não há música que passe batido pelo aprovo do público que enche o Circo Voador. Do trabalho mais recente, que leva o nome da banda, contudo, são só duas. “72 Hookers”, que quase não é notada em meio à folia punk rock, e “I Believe In Goddess”, uma paulada de menos de um minuto que agrada geral e leva à conclusão do punk de vestido: “viu como as músicas novas também são legais?”. Chama a atenção ainda o entrosamento de uma formação que já dura quase 25 anos. Uma plaquinha com o nome NOFX dependurada no fundo do palco é o único elemento decorativo e a luzes ficam quase o tempo todo acessas, o que enfatiza ainda mais o clima de stand up do show. Isso no palco, porque, no meio do salão o segundo esporte preferido é o lançamento de copo de cereja para cima. O primeiro? As inefáveis rodas punks que coroam o excelente show do NOFX.Na abertura, o Zander sofreu com o pouco público que ainda chegava ao local, mas se deu bem porque tinha muita gente cantando as músicas do grupo. Isso porque o quarteto não nasceu ontem e já tem certos hits, como “Até a Próxima Parada”, que rolou em um inesperado bis, “Como Arde, Sô”, com um refrão colante e fácil de cantar, e “Todos os Dias”, que tem bela introdução. O instrumental do grupo tem crescido bastante, mas é preciso deixar para trás certa ancestralidade emo que em nada contribui. Nesse sentido, tocar para uma banda punk como o NOFX, cujo desleixo pelo HC melódico é evidente e só melhorou o grupo, é uma boa fonte de inspiração/referência.
Set list completo NOFX:1- 60%
2- Dinosaurs Will Die
3- Stickin’ in My Eye
4- 72 Hookers
5- Quart in Session
6- Murder the Government
7- Leave It Alone
8- Eat the Meek
9- The Decline
10- I Believe in Goddess
11- IQ32
12- Monosyllabic Girl
13- I’m Telling Tim
14- What Now Herb?/Rio Is Better Than Alcaline Trio
15- The Moron Brothers
16- Perfect Government
17- Seeing Double at the Triple Rock
18- Fuck the Kids
19- Linoleum
Bis
20- Don’t Call Me White
21- Bob
22- Bottles to the Ground
23- Franco Un-American
24- The Brews
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