Um sopro
Na estreia no Rio, HIM convence com show bem costurado e ligeiro, repertório repleto de clássicos e público fiel. Fotos: Bruno Eduardo.
Tanto que chega a parar o show, justamente no meio do clássico “Your Sweet Six Six Six”, para repreender o comportamento inconveniente de alguns fãs mais agitados que se desentenderam na beirada do palco. Macula a música, que volta de onde eles tinham parado, mas revela um Valo interagindo muito mais com a plateia do que de costume. Interação, aliás, é uma boa palavra para uma galera que não economiza na cantoria, ainda mais quando o incentivo vem de cima do palco, caso da paradinha na ótima “The Funeral Of Hearts” para que o verso principal/título seja cantado como se fosse uma palavra de ordem de passeata. Ou na soturna “Join Me in Death”, quando Ville Valo se cala para escutar o povão cantando tudo certinho. No lugar do cigarro um atrás do outro, o cantor se apega a uma solitária toalhinha branca para se livrar do suor em uma noite abafada pacas.
O público também responde desfraldando um bandeirão sobre as próprias cabeças como se fosse torcida organizada, já na abertura, com a nervosa “Buried Alive By Love”. O som começa meio embolado, e a música serve para necessários ajustes que sacrificam o início da noite. Valo também recebe panos, bandeiras e até um sutiã, tudo carinhosamente recolhido no final. Ele se comunica com o microfone quase enterrado na boca, dificultando a compreensão, mas dá pra ver que se surpreende com um pano de fundo no palco que não parecia ser o de hábito em shows do HIM. O cenário, diga-se de passagem, é de uma simplicidade atroz, sem nenhuma referência ao logotipo do grupo e suas variações, que aparece tatuado em tudo o que é corpo de tez pálida espalhado pelo meio do público. O que só serve de parâmetro para a exaltação da apresentação propriamente dita, e realça a força das músicas.
Em relação ao show do ano passado – a comparação é inevitável – foram tocadas duas músicas a mais, mas essa não chega ser a melhor notícia. O bom é que números marcantes da carreira do HIM, que não estavam no repertório, reaparecem, como a indispensável “Pretending”, porta de entrada para o universo do grupo para muita gente. Ela ganha uma versão mais lenta e salienta os telados de Janne Puurtinen, uma constante durante a noite. A sucinta, mas eficiente “Heartkiller”, ganha um cantarolar sugerido por Valo no final, e “Heartache Every Moment” (haja heart!), atraente e de alto pode de sedução, soa como um bálsamo para os ouvidos. “Killing Loneliness”, de seu lado, no início, surpreende Ville Valo pela preferência do público, que carrega inclusive uma faixa com o nome da música. O falsete mostra que o gogó do rapaz está afiado - não custa verificar -, em que pese as ótimas variações vocais de um extremo a outro, mais uma marca registrada do grupo.Se Valo é a figura central no HIM, a banda segue com o instrumental afiado, e, dessa vez, o baixista Mikko Paananen, depois de um dia se desidratando com caipirinhas na beira do mar, parece bem mais empolgado, ciente de como a linha de baixo é indispensável para uma banda de gothic metal. O xará Mikko Lindström segue fornecendo peso que se contrapõe aos climas inventados pelo quarteto de instrumentistas, e se destaca especialmente no solo de “Pretending” (de novo), no peso fornecido a (nem tão boa) “Bleed Well”, talvez a menos cantada da noite, e em “Rip Out the Wings of a Butterfly”, quando alguém parece ter subido o volume do som às alturas. O novato baterista Jukka Kroger, que entrou esse ano, vai bem obrigado, e tem até o direito de fazer um solinho no bis, com a cover para “Rebel Yell”, de Billy Idol, outra referência explícita ao apreço do HIM pelos anos 1980.
A outra versão – eles têm muitas gravadas - não tinha como não ser “Wicked Game”, música devidamente apropriada pelo HIM de Chris Isaak e que, talvez por ser tocada tantas vezes, aparece sutilmente diferente a cada show. Dessa vez é um improviso instrumental que prevalece, desembocando numa linda citação à “Sabbath Bloody Sabbath”, você sabe de quem, com Valo cantarolando e tudo, coisa bonita de se ver. O show, que dura pouco mais de hora e meia, tem uma música praticamente emendada na outra, e quando o povão se dá conta, acaba de verdade, mesmo que um bis com uma canção solitária represente um último gole na garrafa seca. Foi tudo rápido mesmo, como um sopro de Niemayer, desde o anúncio do show até essa ótima noite que, com boa presença de público, credencia a cidade ensolarada para receber os nórdicos branquelos regularmente. Que assim seja.
Set list completo:1- Buried Alive By Love
2- Poison Girl
3- The Kiss of Dawn
4- Pretending
5- Into the Night
6- Killing Loneliness
7- Scared to Death
8- Your Sweet Six Six Six
9- Join Me in Death
10- Bleed Well
11- In Joy and Sorrow
12- The Sacrament
13- Rip Out the Wings of a Butterfly
14- Wicked Game
15- Heartkiller
16- Heartache Every Moment
17- Right Here in My Arms
18- The Funeral of Hearts
19- When Love and Death Embrace
Bis
20- Rebel Yell
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Ótimo show! Vai ficar na memória de muita gente que esteve lá!