O Homem Baile

Zumbi podrão

Sobrevivente de junho de 2013, Cannibal Corpse volta ao Circo Voador com mais tranquilidade e mostra músicas do novo álbum. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Cannibal Corpse, George 'Corpsegrinder' Fisher, no comando do terror death metal

O vocalista do Cannibal Corpse, George 'Corpsegrinder' Fisher, no comando do terror death metal

Impossível não lembrar que, da última vez em que o Cannibal Corpse esteve no palco sagrado do Circo Voador, o local era invadido por uma névoa de gás de pimenta/lacrimogêneo lançado em cima dos manifestantes naquele fatídico 20 de junho de 2013. Ontem, 20 de novembro, na mais santa paz, a exclusividade de bagunçar o coreto é do quinteto de death metal mais podre de que se tem notícia, ao menos antes da entrada do Testament, que, ao tocar depois, mostrou quem é quem no thrash metal mundial (veja como foi). Tal qual um renascido zumbi, com 17 traulitadas – três a menos em relação a 2013 – em cerca de 1h15 de uma porradaria sem fim, o Cannibal cumpriu o roteiro do gênero com a destreza que lhe é peculiar.

Não que naquela ocasião (relembre) tivesse o grupo sentido a pressão – a plateia, sim -, mas agora o clima é outro. Tanto que quando “Scourge Of Iron”, já um clássico recente, do penúltimo disco, abre a noite, lenta, arrastada, pesada, a festa já começa com as indefectíveis rodas de dança, sempre incrementadas por esse ou aquele andamento mais ou menos veloz. Parece um teste de som para que o volume seja aumentado – mais que uma necessidade, um desejo -, o que acaba não acontecendo, certamente para sublinhar o protagonismo do Testament. Com o som, digamos, no nível nove, o grupo desanda a mandar uma podreira atrás da outra, mantendo a máxima de não deixar nenhum dos álbuns da discografia de fora.

Enfatize-se que, embora o som seja sujo, pesado e com letras de sublime mau gosto, o som não é tosco, mal feito. Ao contrário, os músicos desenvolvem passagens intrincadas e muitas vezes difíceis de executar ao vivo, a começar pela cozinha do extraordinário baterista Paul Mazurkiewicz, que segue em ótima fase, e pelo baixista de mil cordas e dedos Alex Webster, não por acaso os únicos remanescentes da formação original. É o que se observa até sem querer, de ouvido, em músicas como “Stripped, Raped and Strangled”, com variações de andamento incríveis, ou mesmo na “música de amor” “I Cum Blood”, uma das preferidas dos fãs, cujas guitarras dobradas de Patrick O’Brien e Rob Barrett também são dignas de destaque.

O baixista Alex Webster, cúmplice do baterista Paul Mazurkiewicz, remanescentes da formação orginal

O baixista Alex Webster, cúmplice do baterista Paul Mazurkiewicz, remanescentes da formação orginal

De 2013 pra cá, o Cannibal não ficou parado e lançou, no ano passado, o 13º álbum, “A Skeletal Domain”, que cede três faixas ao repertório, solidarizadas em um só bloco. As duas melhores são “Icepick Lobotomy”, com discretas melodias sombrias em um início arrastado, mas com grande interface com a segunda, parte, velocíssima, e “Kill or Become”, com um solo nervoso de Barrett. A terceira é “Sadistic Embodiment”, com mais um show de Mazurkiewicz, e na qual, curiosamente, o público mais se anima entre as novas. Ainda em relação à 2013, três outras músicas foram tocadas na cidade pela primeira vez: a sugestiva “Devoured by Vermin”, escolhida para um encerramento devastador, a enguitarrada “The Wretched Spawn”, e “Unleashing the Bloodthirsty”, muito bem recebida pelo povaréu. No fim das contas, nem a performance paradona do quinteto, em que pese a cabeça giratória do ótimo vocalista Corpsegrinder, estraga uma festa que se anunciava desde cedo.

Bem cedo mesmo, na abertura, o veterano Uzômi não se intimidou e fez o que deve fazer uma banda nacional em um show de abertura de dois pesos pesados consagrados mundo afora. Tocou por meia horinha sem parar, emendando uma música na outra, sem boa noite ou eu amo vocês. A dupla de vocalistas Heron, o gutural, mais agitado, e Sales, de timbre mais limpo, mais parado que guarda da corte britânica, se completa muito bem. E o baterista Erick Lorca cuida certinho para que o pique do show siga em aceleração máxima do inicio ao fim. Mesmo que o público não tenha lá agitado tanto – era cedo e o Circo ainda vazio – o grupo deixou ótima impressão.

Ser list completo Cannibal Corpse:

1- Scourge of Iron
2- Demented Aggression
3- Evisceration Plague
4- Stripped, Raped and Strangled
5- Disposal of the Body
6- Sentenced to Burn
7- Kill or Become
8- Sadistic Embodiment
9- Icepick Lobotomy
10- The Wretched Spawn
11- Dormant Bodies Bursting
12- I Cum Blood
13- Unleashing the Bloodthirsty
14- Make Them Suffer
15- A Skull Full of Maggots
16- Hammer Smashed Face
17- Devoured by Vermin

A dupla de vocalista do Uzômi, Sales, mais parado, e o agitado Heron: grupo fez tudo certinho

A dupla de vocalista do Uzômi, Sales, mais parado, e o agitado Heron: grupo fez tudo certinho

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Juliano em novembro 23, 2015 às 13:35
    #1

    Opa, só corrigindo: tocaram Stripped, Raped and Strangled do The Bleeding.

  2. Marcos Bragatto em novembro 23, 2015 às 14:06
    #2

    Ok, obrigado!

  3. Thyago em novembro 23, 2015 às 15:28
    #3

    Abertura do Uzômi foi ótima, parabéns a banda =D Show do Cannibal foi destruidor.

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