O Homem Baile

Atração de opostos

Explosions In The Sky leva às últimas consequências o padrão silêncio versus esporro consagrado no indie rock mundial. Fotos: Nem Queiroz.

Michael James, sempre no centro do palco, se divide entre o baixo e a guitarra como um mediador

Michael James, sempre no centro do palco, se divide entre o baixo e a guitarra como um mediador

Não existiria som se não houvesse o silêncio, já dizia Lulu Santos. E é essa a máxima do quinteto americano Explosions in the Sky. O grupo faz de tudo para todo mundo pensar que a música chega ao o fim, diminuindo cada vez mais o volume do som que sai de seus potentes amplificadores, em momentos quase contemplativos, para, então, detonar o som mais alto possível, como em um susto para cima do público. O artifício nem é novidade, na verdade é usado a torto e a direito, sobretudo nas mais antigas guitar bands de que se tem notícia, mas atinge uma plenitude com o Explosions, de nome apropriadíssimo, aliás. Ao menos, foi o que se viu nesta quinta, sob a lona do Circo Voador, no Rio.

O caderninho com a receita para se compor sucessos que Lulu teria achado na Califórnia seguramente não passou pelas mãos dos integrantes do EITS. E, por isso, talvez, eles só tenham temas, digamos, mais cativantes, em algumas das nove músicas tocadas ontem. E também por isso eles estão ainda distantes do escocês Mogwai, baluarte do gênero – se é que há um –, que parece cada vez mais insuperável, a cada álbum, a cada show; veja como foi neste mesmo Circo Voador em 2012. Mas acontece que, sob toda essa dicotomia esporro x silêncio, há melodias que realçam, por exemplo, “Your Hand in Mine”, que ainda tem um solinho de uma das guitarras, raridade em um tipo de música calcada no minimalismo e no riff. O volume é cavalar e serve para manter disparado o martelo dos tímpanos mais sensíveis.

Como o show é uma empreitada do “Queremos”, metade do público é do tipo que banca o crowdfunding porque adora a banda, e a outra metade é a que surfa na onda do sucesso do projeto. Os dois blocos discutem entre si nos momentos em que as músicas buscam o silêncio, já que o primeiro quer a contemplação de câmara, e, o segundo, é o conversador chato de galochas que só contribui sacando o talão de cheques. A mediação, então, é feita pela banda, que não custa reforçar, tem três guitarras, um baixista que toca como se usasse uma quarta, e por vezes assume a guitarra mesmo, em que pese um arsenal de efeitos considerável, e um kit de bateria enxuto, mas espancado sem dó, por vezes até com a ajuda do guitarrista Munaf Rayani, que não se contém diante de um tarol de banda marcial acrescentado à frente.

A iluminação sombria que faz parte do conjunto da obra do bom show do Explosions in the Sky

A iluminação sombria que faz parte do conjunto da obra do bom show do Explosions in the Sky

É ele que se dirige ao público em duas únicas vezes, no início, dizendo o nome da banda em português bastante razoável, e, no final, para encher a bola da cidade, público e produtores. Rayani é também um dos mais animados e vale salientar que quando a sessão de esporro baixa nos ouvidos, o conjunto da obra é aditivado pelas performances individuais de cada um deles, empunhando os instrumentos como se deve fazer em um show de rock. Acontece, sobretudo, em músicas como “The Only Moment We Were Alone”, uma das poucas que sugere um padrão de canção, no final; na apenas razoável “Memorial”; e em “Let Me Back In”, cuja introdução com espécie de anjos rezando no além facilita a identificação e a entrega por parte da plateia.

O show foi anunciado como “comemorativo do aniversário de 15 anos do primeiro álbum, ‘How Strange, Innocence’”, mas nenhuma música desse disco foi tocada; maneira estranha de se festejar… Em compensação, em relação ao show de 2013, apenas quatro voltaram a ser tocadas (relembre). Mas, no fundo, no fundo, talvez isso pouco importe. O que conta é que o show é intenso, com iluminação baixa, sombria, e fechado em si próprio, com início, meio e fim, e com um crescente de volumes e distorções que culminam com um final pleno, independente da música que venha a ser tocada. Daí os 90 minutinhos não admitirem sequer um bis, como é hábito em apresentações convencionais. E de convencional, vamos e venhamos, o Explosions in the Sky, definitivamente, nada tem.

Set list completo:

1- First Breath After Coma
2- Catastrophe and the Cure
3- Greet Death
4- Memorial
5- Yasmin the Light
6- Your Hand in Mine
7- The Birth and Death of the Day
8- Let Me Back In
9- The Only Moment We Were Alone

O guitarrista Mark Smith, Michael James e Munaf Rayani, com o baterista Chris Hrasky no fundo

O guitarrista Mark Smith, Michael James e Munaf Rayani, com o baterista Chris Hrasky no fundo

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