Concisão cirúrgica
Na primeira vez no Brasil, Mastodon investe no repertório recente em show pesado e ao mesmo tempo cativante no Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Raul Aragão (1, 2), Fernando Schlaepfer (3) e Marcelo Mattina (4).

O guitarrista e vocalista Brent Hinds, que pretende vir mais vezes depois da boa estreia no Rock In Rio
Porque existem, no mínimo, dois Mastodons. Um é aquele dos quatro primeiros álbuns, inventivo, sim, mas de poucas pretensões no que tange às composições menos trabalhadas e mais colantes. Que - via de regra - tinha desvarios quase progressivos, intrincados e que só atraía um dedicado ouvinte que estivesse muitíssimo interessado. O outro, é este pós álbum “The Hunter” (2011), que descobriu a canção pop sem perder nadica de nada do peso inerente ao metal contemporâneo desenvolvido pela banda. Que viu no trabalho de um tal Josh Homme, do Queens Of The Stone Age, uma possibilidade de facilitar as coisas para quem ouve o que ele produz, e o resultado é imediatamente recompensado por um reconhecimento não só da crítica, que sempre colocou o Mastodon nas alturas, mas de um público cada vez mais numeroso.
Daí soar natural a apresentação maciça de “Once More ‘Round the Sun”, incluindo sabiamente as quatro melhores músicas do disco, daquelas que se ouve pela primeira vez para sempre querer ouvir de novo, como se fosse a música recém apresentada conhecida de longa data. A primeira é “The Motherload”, que realça não só o peso, mas nos solos dos dois guitarristas, primeiro Hinds, depois Bill Kelliher, tudo sob um volume absurdo. Os vocais são distribuídos entre o baixista Troy Sanders, de impagáveis expressões de terror, Brent Hinds e o baterista Brann Dailor, que nessa manda muito bem. “High Road” é outra, com andamento mais lento e cantoria até suave, para os padrões do Mastodon. É a que o público reconhece e se identifica ao cantar um refrão praticamente limpo, prontinho para ser decorado e reproduzido.Em “Halloween”, um espetacular trabalho de guitarras no fundo traz à memória os tempos idos de antes de “The Hunter” nascer. A vocalização quase melódica abre caminho para evoluções que misturam riffs um depois do outro e desencadeia, dessa vez, um inevitável bater de cabeça. Mesmo sem os efeitos do disco, os vocais de Dailor encaixam bem. Nem o som um tanto embolado nas proximidades do palco tira o poder de fogo da música. E, por último, mas não em último, “Ember City”, cuja introdução aterrorizante a torna facilmente identificável, a despeito de Dailor, que usa um kit de bateria enxuto, mandar viradas sobre viradas, o que, a rigor, acontece durante toda a horinha de show a que o Mastodon tem direito. O refrão “What do I say to you?” ecoa longe e lindamente na Cidade do Rock.
O set tem ainda a bela instrumental(?!) “Bladecatcher”, mas omite talvez o maior hit do grupo nos novos tempos, a calmíssima – se isso é possível – “Curl Of The Burl”, single do álbum “The Hunter”. O público, a maioria esperando pelo Slipknot (veja como foi), vibra bastante no final, o que faz um animado e desvairado Brent Hinds calcular uma corridinha para terminar um solo de joelhos na rampa que avança sobre a plateia, na derradeira “Blood and Thunder”. E essa altura uma grande roda de dança já se abrira na frente do palco. Uma atitude simples, mas que revela certo alívio de o quarteto enfim ter vindo ao Brasil, depois de 15 anos e muita cobrança dos fãs mais atentos, e em um festival gigante como o Rock In Rio. Check!Set list completo:
1- Tread Lightly
2- Once More ‘Round the Sun
3- Blasteroid
4- The Motherload
5- Chimes at Midnight
6- High Road
7- Aqua Dementia
8- Halloween
9- Bladecatcher
10- Black Tongue
11- Ember City
12- Crystal Skull
13- Blood and Thunder
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