Ato singular
Em espetáculo único, orquestra erudita se rende ao talento do guitarrista Steve Vai no Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Diego Padilha (1, 3 e 4) e Raul Aragão (2).
O comando da orquestra é do maestro Jefferson Della Rocca, mas Steve Vai não se contém e em diversas vezes é ele quem dá o tom sobre o que deve ser feito, gesticulando adoidado. Para chegar a este show, preparado durante cerca de seis meses, o guitarrista, o maestro e todos os músicos ensaiaram durante dois dias inteiros seguidos para o ajuste final. Em vez de trazer sua própria banda, Vai conta com o apoio de músicos o grupo catarinense Brasil Papaya, exceto o baterista, que veio com ele mesmo. Não é primeira vez que Steve Vai toca com uma orquestra, sendo que tem até dois álbuns gravados com a Metropole Orkest, de Amsterdã, “Sound Theories Vol. I & II”, lançados em 2007.
Daí a metade das 10 músicas incluídas no set serem também desses discos, incluindo “Kill the Guy With the Ball”, que abre a noite ainda em clima de ajustes de parte a parte: Vai puxa a fila e os músicos seguem o que ele apresenta. Um leve cantarolar por parte do público evidencia o clima de ansiedade que paira no ar. A artimanha seria mais forte em “Lotus Feet”, música mais conhecida de Vai, tocada mais pra frente, com o guitarrista sugerindo palmas, no que é propriamente atendido pelo povão; não é pouca gente nos arredores do palco. E o entrosamento já rola solto com os músicos correndo atrás da debulhante guitarra de Vai, de som cristalino e acolhedor até aos incautos de primeira viagem. Discípulo torto do loucão Frank Zappa, Vai segue inquieto em um nicho em que o óbvio é a regra.Antes, na melodiosa e instigante “Whispering a Prayer”, uma violinista fica de pé para duelar com Steve Vai, e a música, composição das mais bonitas, ganha um up grade de emocionar. Uma sessão de percussão pesada dá o tom no início de “The Murder”, e a sensação da energia musical emanada do palco chega a ter impacto físico no público, graças a um volume generoso saído das caixas. Dessa vez, é Steve quem corre atrás, realçando sua destreza nas seis cordas, tendo a orquestra também um belo crescente. O som renovado do Palco Sunset para este ano não faz feio, mas é muito difícil identificar individualmente as seções da orquestra a cada música, em um espetáculo que daria mais certo como de câmara, em lugar fechado, do que a céu aberto. Mais um ponto para a proposta ousada do festival e que faz desta noite – de novo – única.
A inclusão de “Liberty”, com viés erudito que vem do berço, do álbum “Passion And Warfare”, de 1990, muito conhecido no Brasil, e que contém faixa irmã “For The Love Of God” foi a senha de que a música não ficaria de fora, como se temia durante o show, mas vem no desfecho da apresentação. O arranjo com a orquestra, que inicia sem Vai, ficou lindaço e o público cantarola as partes mais salientes numa bela amostra de como um som instrumental também pode cativar o ouvinte, é a música pela música. Steve Vai finaliza com sutis sopros e até lambidas - literalmente – nas cordas da guitarra, com a orquestra acompanhando tudo para não atravessar o desfecho. Finalizada a apresentação, o veredicto do Mestre: “nada mal, hein?”. Muito mais que isso: é coisa para assistir de joelhos agradecendo aos céus pela graça alcançada.Set list completo:
1- Kill the Guy With the Ball
2- Racing the World
3- The Murder
4- Velorum
5- Whispering a Prayer
6- The Crying Machine
7- Lotus Feet
8- Tarus Bulba
9- Liberty
10- For the Love of God
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