Inusitado é apelido
Na aridez de boa música do sabadão do Rock In Rio, discretamente um Sex Pistol toca Led Zeppelin no palco, e junto com o Brothers Of Brazil. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Diego Padilha.
O tal Sex Pistol no palco é ninguém menos que Glen Matlock, o baixista da formação original que deu lugar ao lendário Sid Vicious em 1977, ano marcante para o estouro do punk como movimento político e social em todo o mundo. Ao subir no palco, Matlock assume a frente para cantar, numa – aí sim – inusitada formação de trio com João Suplicy no violão convertido em guitarra e Supla na bateria, canções que já estão na história. Primeiro, “God Save The Queen”, aquela que diz que, na terra da rainha, a rainha não é ser humano. Depois, “Pretty Vacant” e “(I’m Not Your) Steppin’ Stone”, que nem dos Pistols é, mas ganhou famosa versão abraçada pelo refrão que é um lamento do próprio verso/título.
Matlock esteve no Brasil com os Pistols na “Filthy Lucre Live”, a turnê do lucro sujo, em 1996 (foto aqui), tocando baixo com Johnny Rotten (ou John Lydon, como queiram) nos vocais. Cantar não é a dele, mas ele segura muito bem a função, com a ajuda dos irmãos Suplicy, e ainda com a anuência parlamentar do papai, o senador Eduardo Suplicy, em carne e osso na fila do gargarejo. O problema é que eles tocam e cantam para quase ninguém, e para quase ninguém entre esses, os poucos que têm aquela noção de quem é o Sex Pistols; o resto não está nem aí. Mas Sex Pistols é Sex Pistols e as músicas falam por si, ao menos para quem consegue captar o que importa.
O show continua e o baixista da banda que mudou o mundo do rock e da música pop não se intimida em tocar até “Garota de Berlim”, o grande sucesso da carreira de Supla, ainda com o Tokyo na década de 1980. Glenn Matlock seguramente nem imagina que a tal garota seja Nina Hagen, que, diga-se de passagem, já estrelou o palco principal deste mesmo Rock In Rio, ali do outro lado da rua, em duas noites, em 1985. O Sex Pistols, não. Para facilitar, o que resta a ser tocado inclui o clássico “Surfin’ Bird”, referência até para os Pistols, se é que eles tinham isso, mas, também, “Rock And Roll”, do Led Zeppelin, o tipo de banda que o punk, segundo consta, nasceu para destruir. E só dá Matlock, até nos vocais. Enfim, ele vê o público se divertir de verdade.Antes, apesar do esforço de Supla, que se converte em frontman dos bons, com um baterista suplente em seu lugar, a música interessante do Brothers Of Brasil soa apenas como fundo musical para quem está chegando na Cidade do Rock. No repertório, mistura de samba com rock, versão para “Imagine”, aquela mesmo de John Lennon e músicas com letras misturando inglês e português. No fundo, acaba tendo exata serventia para a função que ocupa. E pensar que ainda mais cedo o combo instrumental Camarones Orquestra Guitarrística veio de Natal, quase lá no Hemisfério Norte, para tocar alguns minutos de um show que ninguém sabe ninguém viu. Mas sim, teve um Sex Pistol no palco.
Set list completo:
1- Brothers of Brazil/Samba Around The Clock
2- Never Let You Go
3- A Vida Num Segundo
4- Imagine
5- Viva Liberty
6- Tudo Pelo Poder
7- Favorite Flavors
8- Melodies From Hell
9- Green Hair (Japa Girl)
10- Berimbau
11- God Save the Queen
12- Pretty Vacant
13- (I’m Not Your) Steppin’ Stone
14- On My Way
15- Garota De Berlim
16- Surfin’ Bird
17- Rock and Roll
18- Brothers of Brazil
Tags desse texto: Brothers of Brazil, Rock In Rio, Sex Pistols