O Homem Baile

Filho crescido

Patinho feio no Rock In Rio de 2001, Queens Of The Stone Age volta impondo respeito em bela apresentação, com boa interação com a plateia. Fotos Divulgação Rock In Rio: I Hate Flash.

O líder do Queens Of The Stone Age, Josh Homme, toca guitarra e canta no início do show

O líder do Queens Of The Stone Age, Josh Homme, toca guitarra e canta no início do show

Quanta coisa muda em 14 anos. De banda nova apresentada no Rock In Rio de 2001, quando fez uma apresentação no mínimo estranha, que entrou para a história pela prisão do baixista e peladão Nick Oliveri, o Queens Of The Stone Age reaparece no Palco Mundo com uma insuspeita unanimidade de público e crítica. Mais que isso, com uma coleção de bons álbuns lançados de lá para cá, uma formação consolidada que coloca de lado uma criativa, mas nociva promiscuidade musical, e passagens brilhantes festivais secundários como o Lollapalooza (veja como foi) e o finado SWU (veja como foi) que ajudam a consolidar uma boa base de fãs por estas plagas. De banda estranha com gente esquisita a candidatos a rockstar, tudo sob a batuta do genial Josh Homme, um dos grandes nomes do rock contemporâneo.

Com essa expectativa é que o quinteto sobe no palco e, com os instrumentos plugados no talo, mandam uma versão nervosa de “You Think I Ain’t Worth a Dollar, But I Feel Like a Millionaire”, sem a menor cerimônia. E a reação do público é de banda grande, com todo mundo cantando tudo e reconhecendo o número seguinte nas primeiras notas, o que representa um feito e tanto para uma banda com os dois pés fincados no rock e no bom gosto desde sempre, em meio à diversidade do público de um festivalzão como o Rock In Rio. Sob luz cerrada, os quatro integrantes quase flutuam na frente do palco, sem dar um pio, enquanto o ótimo baterista Jon Theodore, o último a entrar, não economiza na braçada e dá ritmo ao show como poucos.

Josh Homme e o Michael Shuman interagem durante o show, cheio de improvisos instrumentais

Josh Homme e o Michael Shuman interagem durante o show, cheio de improvisos instrumentais

O show é o da turnê do álbum mais recente do grupo, “… Like Clockwork”, que saiu em 2103 e teve uma de suas músicas, My God Is The Sun” tocadas pela primeira vez, justamente no Lolla de 2013 (relembre). A canção, paulada das boas, entra logo na primeira parte do show, mas, curiosamente é quase andorinha só em um disco que, vamos e venhamos, não é tão bom quanto os anteriores. Por isso o set perde um pouco, não em animação, uma vez que a recepção é ótima, mas na concatenação das músicas. Por exemplo, a sequência “The Vampyre of Time and Memory”, com Homme iniciando com um tecladinho chulé, e “If I Had a Tail” e seu sotaque oitentista é de um anticlímax só. A sorte é que sempre tem uma música sagaz para ser tirada da cartola e tudo volta ao normal.

E ainda porque, em muitas vezes, mesmo que bem ensaiado, o grupo parece improvisar pra valer no palco. É o que acontece em “Regular John”, quando os quatro integrantes de linha se voltam para a bateria e parece um esperando o outro dar mais de si antes de combinar em definitivo como será o desfecho da música. Em “Burn The Witch”, uma das preferidas do público, Josh Homme e Troy Van Leeuwense se revezam, emendando solos e evoluções de guitarra de dar gosto. Tudo – repita-se – com o som no talo, como um show de rock de ser. Em “Sick , Sick, Sick”, solitária representante do ótimo álbum “Era Vulgaris”, o entrosamento da banda se salienta de novo, dessa vez pelo peso e pelo volume desmedidos, numa peça até certo ponto regular deles.

Linha de frente do Queens Of The Stone Age: o guitarrista Troy Van Leeuwen, Homme e Shuman

Linha de frente do Queens Of The Stone Age: o guitarrista Troy Van Leeuwen, Homme e Shuman

O sprint final vem com “Go With the Flow”, de longe a melhor música do grupo em todos os tempos, e “A Song for the Dead”, que reserva um desfecho instrumental intenso, com todos se desafiando de parte a parte. Vale lembrar que o set list distribuído à imprensa tinha duas músicas a mais, que firam limadas: a ótima “3’s & 7’s” e “I Sat By The Ocean”, outra do disco novo. E, a lamentar, o fato de o grupo ignorar clássicos das antigas, dos álbuns “Queens of the Stone Age”, de 1998, e “Rated R”, de 2000; nem a emblemática “Feel Good Hit of the Summer”, queridinha de 10 entre 10 fãs teve espaço. Como nem tudo pode ser perfeito, nem tudo pode ser bacana, o negócio é torcer por um show solo do QOTSA, fora de festival, o mais rápido possível. E um disco de inéditas melhorzinho também, né, Josh?

Set list completo:

1- You Think I Ain’t Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire
2- No One Knows
3- My God Is the Sun
4- Burn the Witch
5- Smooth Sailing
6- In My Head
7- Regular John
8- Sick, Sick, Sick
9- The Vampyre of Time and Memory
10- If I Had a Tail
11- Little Sister
12- Fairweather Friends
13- Go With the Flow
14- A Song for the Dead

Vista lateral do palco do Queens Of The Stone Age: público cantou muitas das músicas, inclusive as novas

Vista lateral do palco do Queens Of The Stone Age: público cantou muitas das músicas, inclusive as novas

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