O Homem Baile

Furacão

No show com o Ira! quase parando e Rappin Hood repetitivo, quem brilha é o veterano Tony Tornado. Fotos: Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash.

O punho erguido, símbolo da música negra brasileira, muito bem representada por Tony Tornado

O punho erguido, símbolo da música negra brasileira, muito bem representada por Tony Tornado

É o meio da tarde de sexta (18/9), o Rock In Rio ainda nem começou direito e um negrão do tamanho de um armário trajando um blazer amarelo adentra o Palco Sunset para delírio do curioso público que ainda se assenta na Cidade do Rock. Já passa metade do show do Ira!, e o rapper Rappin Hood também já havia começado a mandar o recado, quando os acordes de “Assim Falou Zaratrusta” indicam a mudança do clima. A plateia, que vinham cantando com certo vigor os sucessos (nem tantos assim) do Ira!, congela para entender o que está prestes a acontecer. É Tony Tornado, no alto dos seus 85(!) anos, abrindo o blazer amarelo ao vento como uma águia que renasce em cima do palco.

O clima não era ruim, mas muda de imediato, em um sensível up grade, só pela presença de do furacão Tornado; percebem o nome? Mostrando vitalidade, o soulman brasileiro dança como James Brown, lança as frases de efeito para os “brothers”, do tipo “clap your hands”, e, empolgado, saca o óculos escuro do rosto e lança no meio do povão. Escoltado por um naipe de metais e um trio de backing vocals que inclui a Mercenária Sandra Coutinho e o filho de Tornado, Lincoln, que é voraz dançarino, ele repete com sotaque típico o verso “podiscrê amizade”, manda “A Festa de Santo Reis” e o clássico maior, “BR-3”. Cá entre nós, alguém não conhece tudo isso? A cantoria final é o desfecho lindão para o entardecer sugerido pelo conceito do Palco Sunset.

O enxuto vocalista do Ira!, Nasi, com um de seus modelitos de gala para o Rock In Rio

O enxuto vocalista do Ira!, Nasi, com um de seus modelitos de gala para o Rock In Rio

Conceito que, outra vez, não funciona. No arraso de Tony Tornado, Rappin Hood e o vocalista do Ira!, Nasi, com uns quilões a menos (parabéns!) são reles figurantes que nada acrescentam. Edgard Scandurra, sim, que logo se adapta e coloca sua guitarra a serviço do brilho da música negra, mas ele também não conta, é músico fora de série. Antes de Tony Tornado chegar, sozinho no palco, o Ira!, também, não fazia um bom show, apesar de o público, ávido pelo início do festival, ter se divertido bastante. Extrato do show de reunião que tem cruzado este Brasilzão desde o ano passado (veja como foi no Rio), essa meia horinha não tem, positivamente, os maiores sucessos que o grupo poderia colocar no talo, sem parar.

Em vez disso, músicas de força inferior como “Pra Ficar Comigo”, “O Girassol” e “Flerte Atal”, entre outras, amolecem o clima de vez. Como são conhecidas, contudo, tem o aprovo do público, assim como Rappin Hood, que se é bom de palco e até passa bem a mensagem, cai naquele remi-remi comum do rap e do hip hop. E, a bem da verdade, e repita-se, em nenhum momento rola um mínimo de entrosamento entre os rês artistas, como sugerem os tais encontros do Palco Sunset. Daí aquele doce armário de 85 anos e blazer amarelo brilhar intensamente durante os parcos minutos que irão fazer para sempre parte da história deste Rock In Rio 2015.

Integração: o guitarrista fora de série Edgard Scandurra se diverte no palco com Tony Tornado

Integração: o guitarrista fora de série Edgard Scandurra se diverte no palco com Tony Tornado

Set list completo:

1- Dias de Luta
2- Pra Ficar Comigo
3- Eu Quero Sempre Mais
4- O Girassol
5- Núcleo Base
6- Flerte Fatal
7- Envelheço na Cidade
8- Ninguém Precisa da Guerra
9- Us Guerreriro
10- Assim Falou Zaratrusta
11- Pode Crer Amizade
12- A Festa do Santo Reis
13- Rap du Bom
14- BR-3

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