O Homem Baile

Babélico

Com sonoridade intensa e diferenciada, Ministry passa por cima do público do Rock In Rio sem dó. Fotos: Ariel Martini/I Hate Flash/Divulgação Rock In Rio (1 e 4) e Daniel Croce (2 e 3).

O amalucado Al Jourgensen comanda a destruição sonora do Ministry no show que ainda não acabou

O amalucado Al Jourgensen comanda a destruição sonora do Ministry no show que ainda não acabou

A situação é a seguinte. Seis integrantes alinhados na frente do palco, praticamente no escuro. A iluminação vem de trás, de acordo com a clareza (ou a não) das cenas exibidas, todas fortes, violentas, duras, reais. Dos instrumentos parte uma assombrosa mistura de metal, hardcore e eletrônica, tudo extremo, no limite, com uma sonoridade maciça, robusta, preenchida, distante do explicável. Tudo muito, muito alto. Tudo muito, muito caótico. Tudo tomando de assalto os tímpanos, o corpo e a alma de quem se dispôs a ficar nos arredores do fofo Palco Sunset no poderoso Rock In Rio, no entardecer do sábado (19/9). É o Ministry mostrando o cartão de visitas em sua primeira vez no Rio de Janeiro.

Sobrevivente de milhares de formações diferentes lá está o amalucado Al Jourgensen no centro das atenções, como uma lenda viva rodeado por uma turma que tem currículo para infernizar a vida de qualquer um. O conhecido baixista Tony Campos, que tem vindo ao Brasil regularmente com o Soulfly e o Cavalera Conspiracy; o baterista Aaron Rossi, com serviços prestados no seminal Prong; o tecladista John Bechdel, que já passou por Fear Factory e Killing Joke; e os guitarristas Monte Pittman e Sin Quirin, ambos mais interessados em contornos barulhentos do que na virtuose doce para ouvidos sensíveis. Em um show do Ministry, não há hits, refrães cantaroláveis, versos assoviáveis. É paulada na moleira como você nunca mais verá sobre um palco.

O guitarrista Sin Quirin e Jourgensen: cuidado que o som caótico do Ministry vai pegar!

O guitarrista Sin Quirin e Jourgensen: cuidado que o som caótico do Ministry vai pegar!

Há, sim, na discografia, o material mais conhecido, que, em princípio, não aparece. O show começa com quatro porradas do álbum mais recente, “From Beer to Eternity”, lançado há dois anos. Entre elas, a pesada e arrastada “Permawar” ganha contornos ainda mais fortes, confirmando que o som é realmente ao vivo, o que, dada a intensidade sonora de todo o conjunto, é de se colocar em xeque. Jourgensen, como se sabe, nem sempre está em seus melhores termos vocais, e uma ajudinha da parafernália eletrônica seguramente lhe cai bem, de modo perceptivo, em vários trechos do show. Mas soa como reles detalhe ante à experiência sonora e violenta a que se expõe os incautos que desistem de abandonar a apresentação, decisão mais óbvia.

Os trabalhos mais recentes do Ministry têm ênfase no metal, mas, ao vivo, tudo vira uma espécie de um bloco só. Tanto que o primeiro solo perceptivo da noite só aparece quase na metade do set, em “Rio Grande Blood”, que ainda tem como base uma bateria eletrônica que é tiroteio puro. É a primeira em que a roda de dança, antes no modo aquecimento, se torna mais agitada e intensa, o que prosseguiria durante todo o show. Em “Worthless”, uma das que, por assim dizer, o Ministry pega leve, o bater de cabeça é disparado como se fosse apertada a tecla play do pescoço de cada um. E o telão segue detonado o “american way of war”, tema preferido de Al Jourgensen, que, durma-se com um barulho desses, imigrou de Cuba para a terra do Tio Sam.

Reforço dos bons: o baixista Tony Campos (Soulfly e Cavalera Conspiracy) e o guitarrista Cesar Soto

Reforço dos bons: o baixista Tony Campos (Soulfly e Cavalera Conspiracy) e o guitarrista Cesar Soto

Como reza a cartilha do Palco Sunset, o convidado da vez é o vocalista do Fear Factory, Burton C. Bell, que aparece para cantar as últimas músicas. O que, na verdade pouco acrescenta em meio a uma avalanche sonora tão densa e encorpada como a produzida pelo Ministry. O que faz a plateia pirar de verdade é que as quatro músicas vêm dos trabalhos mais representativos e escutados do grupo, os álbuns – respire fundo – “The Mind Is a Terrible Thing to Taste” (1989) e “Psalm 69: The Way to Succeed and the Way to Suck Eggs” (1992). A repetição psicótica de “New World Order”, com Al numa terceira guitarra e um som de bateria saturado, e a torturante “So What”, que ao vivo massacra com mais de 10 minutos de extensão, soam como um bálsamo esporrento para quem, efetivamente, é do ramo. No fim das contas o show do Ministry se revela um oásis em meio à tanta repetição. Uma experiência sensorial, viva, que, a bem da verdade, ainda não acabou.

Set list completo:

1- Hail to His Majesty (Peasants)
2- Punch in the Face
3- Permawar
4- Fairly Unbalanced
5- Rio Grande Blood
6- Lies, Lies, Lies
7- Waiting
8- Worthless
9- N.W.O.
10- Just One Fix
11- Thieves
12- So What

Lindeza: no centro do palco, Al Jourgensen aparece agitando ao lado de sua mascote favorita

Lindeza: no centro do palco, Al Jourgensen aparece agitando ao lado de sua mascote favorita

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado