O Homem Baile

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Korn não toca a íntegra do disco de estreia no Rock In Rio, mas repertório das antigas agrada em ótima performance. Fotos: David Argentino/I Hate Flash/Divulgação Rock In Rio (1 e 2), Daniel Croce (3) e Marcelo Mattina/I Hate Flash/Divulgação Rock In Rio (4).

O vocalista do Jonathan Davies, recuperando a boa forma, com o pedestal do microfone estilizado

O vocalista do Jonathan Davies, recuperando a boa forma, com o pedestal do microfone estilizado

Escalado como a atração principal no Palco Sunset em uma das noites do metal do Rock In Rio, no sábado (19/9), o Korn tinha tudo para marcar um golaço. Ainda mais sem a preocupação de promover um dos inefáveis “encontros musicais” exigidos pelo festival, que muitas vezes mais atrapalha do que ajuda. Bastava o grupo tocar a íntegra do auto-intitulado álbum de estréia, como tem feito desde o início do ano, como forma de comemorar os 20 anos do lançamento, completos no final do ano passado. Mas a finalização foi, digamos, na trave. Porque a banda não abre mão da ideia em prol de um set lotado de hits, como é comum em grandes festivais, mas, também, só cinco faixas do tal disco são tocadas, completando-se o repertório com músicas de 2005 para trás.

O que não soa de todo ruim. Como não cair bem um show do Korn que tem “Blind”, logo na abertura, levando a uma viagem no tempo praticamente sem volta; “Clown”, quase um símbolo “pára-continua” do metal bate estacas, com raivosa paradinha de bônus; e “Coming Undone”, disparada uma das melhores da noite, com o refrão dotado de um peso exuberante e que deságua em um belo dueto com o público. No final – quem diria – o vocalista Jonathan Davies, o guitarrista Brian “Head” Welch, que retornou ao grupo há dois anos, e o baixista Fieldy fazem uma coreografia com os instrumentos erguidos à Judas Priest. Para quem queria distância do metal, até que as coisas mudaram. Fieldy, aliás, exibe fosforescentes cordas de baixo nas cores verde e amarelo.

Com o baixo com as cordas em verde e amarelo, Fieldy mira para soltar grooves na direção do público

Com o baixo com as cordas em verde e amarelo, Fieldy mira para soltar grooves na direção do público

Vale o registro de que “Korn”, o álbum, não é um disco qualquer. E não é só adorado por ser o de estreia, naquela onda errada que “só quando ninguém conhece é que uma banda é boa”. O disco inventou uma nova forma de fazer música pesada nos anos 1990 e é considerado o marco zero do nu-metal, que pautou o mercado dali em diante, influenciando a tudo e todos. A afinação baixa das guitarras, o baixo com mais groove, o flerte com o rap/eletrônica e as vocalizações sobre as terríveis situações descritas por Jonathan Davies, fora o visual dreadlock/piercing/adidas pouco comum ao meio do metal, marcaram gerações. Como o grupo só viria ao Brasil a partir de 2000, em outra fase, a oportunidade de ver ao vivo a formação quase original (o baterista Ray Luzier entrou em 2007) seria algo realmente extraordinário e que até cairia bem na vibe do Palco Sunset, mas é difícil acreditar que alguém da produção tenha atinado para isso.

Tampouco o público, salvo exceções mais interessadas, parecia nutrir esse tipo de preocupação. O mar de gente que se forma no entorno do palco enche a apresentação de pressão, e a opção de enfileirar músicas mais antigas, repita-se, realmente não é das piores. “Falling Away From Me”, hit de “Issues”, por exemplo, de quando a banda já era reconhecida, é cantada a plenos pulmões pelo povão, que na meiúca se bate em várias rodas de dança. O show não é bom só pela escolha das músicas, mas porque o quinteto, com a tradicional adição do tecladista/DJ Zac Baird, demonstra muito mais disposição e boa forma do que em apresentações recentes como a do Monsters Of Rock de 2013, em São Paulo (veja como foi). Cada vez mais no shape, Davies vareia o palco sem parar na menos de uma horinha de duração do show, bem como Fieldy, tão mais magro que se apequena ante ao baixão empunhado, uma de suas marcas registradas.

Formação quase original: o guitarrista Brian 'Head' Welch, que retornou ao Korn há dois anos

Formação quase original: o guitarrista Brian 'Head' Welch, que retornou ao Korn há dois anos

Aos gritos recorrentes de “olê, olê, olê, olé, cornê, cornê”, “Freak on a Leash” é a última da noite e reserva um inusitado duelo entre Jonathan Davies e Fieldy, sem que os demais saiam de cena; e o povaréu gosta. Antes, em “Shoots and Ladders”, outra do disco aniversariante, Davies vai ao backstage, faz um silencioso suspense e volta tocando gaita de foles, como nos velhos tempos, o que de certa forma surpreende os menos afeitos à história da banda. Revivendo um de seus melhores dias sobre um placo, o vocalista parece possuído na transição para a citação a “Somebody Someone”, e tudo vai parar na já citada “Falling Away From Me”, com as texturas do guitarrista James “Munky” Shaffer, um must do nu-metal. No fim das contas, a sensação de que tudo era para ter sido muito melhor é aplacada pela de que o Korn, depois de tanto rodar feito barata tonta em busca de escape, parece estar reencontrando um caminho. Showzaço.

Set list completo:
1- Blind
2- Ball Tongue
3- Need To
4- Clown
5- Here to Stay
6- Coming Undone
7- Did My Time
8- Got the Life
9- Shoots and Ladders/Somebody Someone
10- Falling Away From Me
11- Freak on a Leash

Vista geral dos arredores do Palco Sunset, abarrotado de gente durante o ótimo show do Korn

Vista geral dos arredores do Palco Sunset, abarrotado de gente durante o ótimo show do Korn

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