O Homem Baile

Esforçado

Falling In Reverse supera pouco interesse do público com boa performance do vocalista e músicas com refrães colantes. Foto: Daniel Croce.

fallinginreverse15-1É quase o final da noite quando um porra louca com um microfone na mão aparece correndo no meio do público em pleno domingão no Circo Voador. Minutos antes, o vocalista do Falling In Reverse, Ronnie Radke, havia desaparecido do palco, bem no meio de “Just Like You”, a música que dá título ao disco mais recente e que foi escolhida para fechar o bis. Sem seguranças, a confusão no meio do salão é festiva, mas poderia ter sido muito mais animada se não fosse o público inferior a uns 150 gatos pingados. Radke deu o recado, e alguns fãs aproveitam para subir no palco para desassossego da banda, que não curte muito a reciprocidade da interação corpo a corpo; melhor curtir no Face. E assim termina o rápido show do Falling In Reverse no Rio.

Rapidez não só por conta da velocidade das músicas – afinal é uma banda de post hardcore -, mas porque a apresentação é curta mesmo, quase um tempo de uma partida de futebol com alguns acréscimos. Ainda mais depois de duas músicas serem sumariamente limadas do repertório, talvez pela exiguidade do público, que, também, não reage tão bem assim, a não ser no quesito cantoria. Mas não é culpa de Ronnie Radke se pouca gente gosta da banda dele no Brasil, e, bom vocalista e esforçado entretenedor, ele faz a limonada com um repertório que, se atira para tudo quanto é lado, quase sempre tem músicas com refrães fáceis de cantar e que colam facilmente na moleira alheia. Vamos e venhamos, nem é preciso tanto conteúdo assim.

O atirar para todo lado inclui grandes medidas de poppy punk a la Blink 182 em “Chemical Prisioner”, logo na abertura; solos de guitarra com efeitos de teclado pré-gravados de fazer inveja ao Dragonforce, só que um bilhão de vezes menos rápido; o pop oitentista de gosto duvidoso de “Bad Girls Club”, que é quase um deboche de tão ruim; generosos flertes com boy bands de todas as épocas; e a inefável dualidade vocais rasgados/vocais limpos - afinal é uma banda de post hardcore - , tudo muitíssimo bem executado por Radke, diga-se de passagem. Tamanho caldeirão de referências só se unifica no quesito “boa música”, no qual o grupo vai bem em quase todos os números. A parte ruim é o excesso de efeitos pré-gravados que deixam a pulga atrás da orelha quanto ao que é ao vivo e o que não é. Até aplausos prontos os caras trazem no laptop.

Difícil avaliar o impacto da performance do grupo quando o público é um fã clube diminuto: mais da metade está colada na grade e a outra parte dança no embalo do comando do vocalista. Mas é notória a decepção de Radke, e aí ele tem o mérito de desanimar, talvez, desistir jamais. Curiosamente a melhor música da noite é “Just Like You”, que acaba prejudicada porque ele não consegue cantar direito quando desce do palco. Vale destacar ainda o ímpeto do guitarrista Jacky Vincent, que se salienta com bons solos, muitas vezes fora do “jeitão” da música, em “The Drug In Me Is You” e em “God, If You Are Above…”, só para ficarmos em dois exemplos. Não dá para dizer que não é divertido, mas, no frigir dos ovos, vale o FIR pensar em uma espécie de unificação que sintetize tamanha gama de referências.

“Não importa o quão pequeno é o público”, diz o vocalista do Issues, Tyler Carter, durante o show de abertura. A ideia é fazer com que a turma do gargarejo se supere a ponto de cair na máxima “compensou a pequenez com muita vibração”, o que positivamente não acontece. Também pudera. O grupo tem tudo para emplacar na seara post hardcoreana. São dois vocalistas, um com vocal limpo outro sujo; guitarras pesadas marcando riffs; e um pula-pula nervoso no palco, mas coloca tudo a perder, porque lhes faltam atitude, alma. Soa, irremediavelmente, tudo artificial. As músicas são ruins, mas não se pode esperar bom gosto quando três dos cinco integrantes usam camisas de times de futebol, péssimo artifício para tentar agradar a plateia. O público, por sua vez, só reage ao ser comandado por Carter e sua voz de líder de boy band, jamais pela música, como em um triste jardim de infância congelado no tempo. Melhor esquecer.

Set list completo Falling In Reverse:

1- Chemical Prisoner
2- God, If You Are Above…
3- Sexy Drug
4- Guillotine IV (The Final Chapter)
5- Raised By Wolves
6- Bad Girls Club
7- I’m Not a Vampire
8- Alone
Bis
9- Situations
10- The Drug In Me Is You
11- Just Like You

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