De raiz
Em turnê de despedida, Nuclear Assault mostra o thrash metal cru que o consagrou e ainda fôlego para declinar da aposentadoria. Fotos: Daniel Croce
Quem foi para a Lapa pensando no icônico videoclipe de “Critical Mass”, rodado em frente a pontos de extração de petróleo com uma simplicidade atroz, tem que refrescar a memória para outras músicas do quarteto, típica formação do thrash. A música, tocada logo na primeira parte, é, sim, um dos pontos altos do show, com o baixola John Connelly mostrando ótima forma vocal, naquele timbre que lhe é característico e que se salienta como um diferencial no Nuclear Assault. Mas se acentua fortemente o berço hardcore do grupo, em crossovers memoráveis como “Hang The Pope” e a singela “Butt Fuck”, que desencadeiam violentas rodas de pogo habitadas por gente vestida à caráter: colete cravejado de patches, calça justa de cano apertado e tênis de couro cano longo. Anos 80, here we go again!
Ajuda muito o fato de o repertório ser todo calcado em dois discos clássicos do Nuclear, o marcante “Handle With Care” (1989), no auge da fase thrash, e “Game Over”, que marca a estreia da banda, em 1986. Por isso, têm vez “Trail Of Tears”, que descamba para um festival de palhetadas e uma rifferama dos diabos em ótimas evoluções instrumentais, e também a totalmente instrumental (!) “Game Over”, que realça ainda mais a boa técnica dos músicos. Se Connelly passa boa parte do show zoando o outro guitarrista, Eric Burke, é frequente o desafio proposto e aceito de parte a parte com as duas guitarras solando sem fim em meio a tanto esporro. É o que acontece, por exemplo, em “Sin” e “Betrayal”, que aparecem coladas.Quem brilha na seção hardcore é o baixista e vara pau Dan Lilker, aparentemente o Nuclear preferido do público, com a expressão de desdém, o símbolo do metal erguido aos céus e vocal grunhido que se contrapõe ao de Connelly. Na sintomática “Analogue Man in a Digital World”, ambos se revezam e o resultado é dos melhores. A música é uma das duas do novo EP do grupo, “Pounder”, lançado em junho, a entrar no repertório. A outra é “Died in Your Arms”, um clássico thrash metal bem trabalhado e de duração estendida que sugere que o Nuclear ainda tem muito que contribuir para o metal contemporâneo. Tocadas em sequência, apenas segunda movimenta o público. Para o bis, só “Justice” é tocada, como tem acontecido em toda a turnê pelo Brasil, e aí, no último gás, explode a roda de pogo mais agressiva da noite, autenticando a imagem de alegria que só o thrash metal de raiz pode proporcionar.
Na abertura, o Trator BR fez um ótimo show, com um repertório voltado para death metal extremo, mas com uma pegada crust. Curiosamente para o gênero, a banda canta em português – dá pra perceber apesar dos vocais rasgados do bom vocalista Satã BR – e se sai muito quando o assunto é velocidade e poucos solos. A precisão do baterista Verme BR é o segredo do grupo, em que pese a técnica dos dois guitarristas, muito bem alinhavados entre si. Antes, o Forkill Thrash abriu a noite, mas as dificuldades de acesso ao Teatro Odisséia – uma terrível tradição da casa – não permitiu a entrada a tempo. Uma pena.
Set list completo Nuclear Assault:1- Rise From the Ashes
2- Brainwashed
3- New Song
4- Critical Mass
5- Game Over
6- Butt Fuck
7- Sin
8- Betrayal
9- Died in Your Arms
10- Analogue Man in a Digital World
11- F# (Wake Up)
12- When Freedom Dies
13- My America
14- Hang the Pope
15- Lesbians
16- Trail of Tears
17- Technology
Bis
18- Justice
Tags desse texto: Nuclear Assault
Foi com certeza um dos melhores shows da minha vida, não somente pela banda, mas também pelo público presente, onde a roda não parava e todos com respeito um pelo outro, sem maldade. Apenas trintões e quarentões e até cinquentões querendo se divertir e resgatar ao menos por um hora o passado.
Nota mil!
Foi perfeito mesmo, essa resenha tá linda!
Só acho que está faltando “Stranded In Hell” nesse ser postado. Ou eu estava muito chapado ou eles tocaram essa também.
Tivessem encerrado após “Betrayal” já teria valido o show!!!