O Homem Baile

Passo a mais

Em show de lançamento de DVD, Titãs volta a inserir sucessos de gosto questionável no repertório de 31 músicas no Circo Voador. Fotos: Felipe Diniz.

Paulo Miklos enverga a guitarra usando a 'camiseta de turista' que disse ter comprado no Corcovado

Paulo Miklos enverga a guitarra usando a 'camiseta de turista' que disse ter comprado no Corcovado

Há coisas que, definitivamente, só acontecem no Circo Voador. Na madrugada de sábado para domingo, por exemplo, não havia quem tirasse os Titãs do palco, e consequentemente, ninguém arredava o pé do salão. Em princípio, o grupo havia programado tocar “apenas” 27 músicas, mas, dada a empolgação de parte a parte e – vá lá – a vibe do momento, decide-se por um pequeno bis a mais, com outros quatro números daqueles que só não canta o refrão quem já morreu. Em tese, é o do show de lançamento do DVD “Nheengatu Ao Vivo”, com ênfase no material mais rock do álbum de mesmo nome (resenha aqui), e que recolocou o veterano grupo, que andava meio assim, assim, na ponta de lança do rock nacional.

Em tese porque, na prática, o repertório apresentado, além de superar em quantidade o que vem no DVD, já mostra que o grupo mutante está dando um passo a mais, ao reinserir no set grandes sucessos de gosto questionável e farto apoio popular. E, também, das 12 faixas de “Nheengatu” - o disco – que eram tocadas nos shows de lançamento (veja como foi), só metade permanece. As máscaras criadas para o clipe de “Fardado”, que aparecem ligeiramente modificadas, saem de cena mais cedo, em um outro prenúncio de que o grupo, reconvertido em banda de rock, no mínimo reconsidera a possibilidade de se tornar um greatest hits ambulante outra vez. Exagero? Só o tempo irá dizer, mas seguramente o lançamento de um novo álbum de inéditas logo em seguida seria uma medida acertada.

Os mascarados Branco Mello e Tony Bellotto, ainda na parte inicial do show de 31 músicas do Titãs

Os mascarados Branco Mello e Tony Bellotto, ainda na parte inicial do show de 31 músicas do Titãs

O que não quer dizer que o show em si não seja dos melhores e com um excepcional apoio do público que, mais uma vez, lota o Circo Voador. Curiosamente, é só em “Aluga-se”, aquela mesmo do Raul Seixas, que o público começa a agitar pra valer, mesmo sendo tocada depois de “Lugar Nenhum”. Talvez um sinal - outro - de que o público não está nem aí para ao trabalho mais recente mesmo. “Diversão”, recebida com um cantarolar do tipo “ôôô”, e não só na hora em que é tocada, é outra das mais queridas. Mas as rodas de dança só engrenam pra valer em “Bichos Escrotos”, “Homem Primata” e “Polícia”, que, além de terminar com citação à “Selvagem”, do Paralamas do Sucesso, valoriza o grupo por pertencer ao repertório de uma banda de metal extremo como o Sepultura.

Embora muitos fãs tenham a expectativa de que músicas de álbuns dos anos 1990, como “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” e “Titanomaquia”, entrem no show, o grupo segue ignorando solenemente essa fase, quem sabe pensando em um novo revival para o futuro (olha uma ideia aí!), lembrando que “Nheengatu” é filho temporão do “Cabeça Dinossauro”, clássico dos anos 1980. As novidades de destaque da vez são, entre outras, a ótima “Pulso” e “Desordem”, que já vinha sendo tocada, mas ganha relevância porque, segundo consta, causou protestos antidemocráticos em um show do grupo no interior do País nos últimos dias, culminando com a reação por parte de Paulo Miklos. A música, anunciada com o clichê “de letra que permanece atual” por Sergio Brito, não causa tanto furor. Ademais, o Brasil não é mais tão pobre e miserável assim, e por força do voto obrigatório, todo mundo é consultado. E não, nem tudo em todas as letras de protesto dos Titãs seguem atuais. É só prestar atenção.

Nos braços do povo: Branco Mello, Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto; ao fundo, Mario Fabre

Nos braços do povo: Branco Mello, Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto; ao fundo, Mario Fabre

O grupo poderia prestar mais atenção também na ordem em que as músicas são concatenadas no repertório, porque fica chato tocar “Flores” depois “Vossa Excelência”: não dá para xingar tudo o que é político para depois amaciar. A inclusão de babas como “Epitáfio” e “Pra Dizer Adeus”, e ainda de “Marvin”, um fantasma que sempre ronda o subconsciente coletivo dos Titãs, sem falar no momento “Festa Ploc” proporcionado por músicas como “Sonífera Ilha” e “Televisão”, contribuem para autenticar o temor da volta ao gosto questionável popularesco. Prova que se tem pela adesão de certo segmento do público que pouco contribui para a consolidação da carreira de uma banda em busca de renovação. Por via das dúvidas, é melhor – repita-se – lançar logo um disco de inéditas. E, também, manter essa formação enxuta de banda de garagem.

Set list completo:
1- Fardado
2- Cadáver Sobre Cadáver
3- Chegada Ao Brasil (Terra À Vista)
4- Massacre
5- Lugar Nenhum
6- Aluga-se
7- AA UU
8- Diversão
9- Pela Paz
10- A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da Última Semana
11- O Pulso
12- República dos Bananas
13- Sonífera Ilha
14- Comida
15- Mensageiro da Desgraça
16- Fala, Renata
17- Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas
18- Cabeça Dinossauro
19- Go Back
20- Marvin
21- Televisão
22- Homem Primata
23- Policia
24- Bichos Escrotos
Bis
25- Desordem
26- Vossa Excelência
27- Flores
Bis
28- Epitáfio
29- Pra Dizer Adeus
30- Igreja
31- Família

Vista geral do palco do Titãs, ainda com o cenário com a imagem da capa do álbum 'Nheengatu'

Vista geral do palco do Titãs, ainda com o cenário com a imagem da capa do álbum 'Nheengatu'

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