O Homem Baile

Com pegada

Em show pesado no Laud! Fest, Second Come retoma trajetória peculiar revirando o baú e com material novo. Fotos: Marcos Bragatto.

Second Come de novo em ação: o baixista e vocalista F. Kraus e o guitarrista Fernando Kamache

Second Come de novo em ação: o baixista e vocalista F. Kraus e o guitarrista Fernando Kamache

Poderia ser uma noitada daquelas no Garage. Poderia ser o fruto de uma viagem de Tony e Doug em “Túnel do Tempo” ou o Delorean de Marty McFly aterrissando numa saleta fechada. Poderia ser um pesadelo barulhento em uma noite mal dormida. Mas era o Second Come, ao vivo e a cores ali na frente de todo mundo, em pleno século 21. A banda, renascida como graça concedida, fechou o Laud! Fest, ontem (25/7), na Audio Rebel, no Rio, e não deixou pedra sobre pedra. Numa apresentação quase meteórica (cerca de 45 minutos), reviu clássicos do underground dos anos 1990 gravados em seus dois álbuns, pinçou pérolas dos tempos da fita demo e de antes dela, e ainda mostrou uma música nova. Tá bom pra você?

No início do show, contudo, o clima é de insegurança. Depois da passagem do frontman Fábio Leopoldino (saiba mais), quem assume o comando é o baixista F. Kraus, que, zeloso, procura cuidar para que tudo saia certinho. Mas é um show de rock, o volume está alto pacas e o batera Kadu conduz o andamento das músicas com grande velocidade e a pegada pesada que lhe é peculiar. No elenco de veteranos, que tem ainda o guitarrista Fernando Kamache da formação clássica, e o Big Trep Maurício Mauk, ele é quem melhor mantém a forma, mesmo porque depende mais do preparo físico do que os demais. E aí a coisa engrena de verdade já em “Violent Kiss”, um clássico do Second Come, mesmo sem ter sido incluída nos dois álbuns, que ressalta as belas texturas de guitarras, uma das virtudes do quarteto.

Mas o grupo não é hábil apenas em guitarras subliminares. Logo Kamache trata de reforçar que o Second Come é uma banda de guitarras no sentido mais amplo, também com peso e solos técnicos, paradoxalmente simples e rebuscados ao mesmo tempo. E o trabalho de sustentação de Mauk cai muito bem, dando bons contornos a esta formação, ainda que falte maior entrosamento aqui e acolá, algo compreensível em se tratando de um retorno. Assim, a sombria “Sedative Distoryion” ganha uma marcação pesada de agredir aos tímpanos mais sensíveis; “Aircrafts and Boots”, com pegada mais dançante, recebe guitarras no limiar do psicodélico; e a desenterrada “Mouse” se renova com uma debulhada forte no final por conta de Fernando Kamache, num arremate dos mais cativantes.

Com pegada pesada e rápida, o baterista Kadu bota F. Kraus e Fernado Kamache para correr atrás

Com pegada pesada e rápida, o baterista Kadu bota F. Kraus e Fernado Kamache para correr atrás

Cabe a explicação de que o Second Come é o grunge antes do grunge, a guitar band evoluída antes do indie, a distorção em doses cavalares e o peso do metal sem precisar bater cabeça. Tudo tingido por um jeito tímido e doce de cantar fundado por Leopoldino, que Kraus assume muito bem. Ele, aliás, fazia as segundas vozes na época e canta “solo” na famosa versão de “Justify My Love” (cover vocês sabem de quem), omitida nesta noite, o que lhe garante o merecimento no posto de novo titular. Mas estão firmes e fortes saudosos hits como “Shoes”, com um convidado da plateia no gogó; a esporrenta de nome complicado “Perfidiousness”; e o bis matreiro - ninguém nem saiu do palco - com a indispensável “Feel Like I Don’t Know What I’m Doing”.

Também tem o resgate da lenta e pré-histórica “Wicked Sky”, de acordo Com F. Kraus a primeiríssima composição do Second Come, de 1989, e a nova “Infatueted Love”. A música flerta com aqueles rockaços estradeiros dos anos 70 de Neil Young, e tem grande força vocal, além de se inserir muito bem no repertório antigo. Ou seja, o Second Come volta vitaminado com essa nova formação e com potencial para retomar uma trajetória peculiar no rock nacional, quiçá extramuros. Pena que a banda poderia ter tocado umas quatro ou cinco músicas a mais, o que não aconteceu por questões de horário; podia ter começado mais cedo, né produção?

Mais cedo mesmo quem tocou foi o Sonora Coisa. Ou, por outra, metade dela, já que a banda veio de Curitiba só com baixista e guitarrista (os irmãos Rafael e Afonso Buhrer, respectivamente) e foi completada de última hora pelo guitarrista Vinicius Leal (John Candy) e pelo batera Juliano. Assim, o que rolou foi um improviso guitar/indie até interessante, mas que não serve de amostra de um show do grupo. Afonso Buhrer, o mais empolgado, convida gente da plateia para o palco e até desce com a guitarra em punho para que alguém toque, mas o artifício, positivamente, não funciona. Se é para ter banda, pessoal, vamos ter banda de verdade. Porque para ensaio não se cobra ingresso. Nem como show de abertura.

Set list completo Second Come:

1- High, High
2- She Could Melt The Sun
3- Violent Kiss
4- Aircrafts and Boots
5- Ten Fingers
6- God And Me
7- Wicked Sky
8- Infatueted Love
9- Run, Run
10- 704
11- Mouse
12- Shoes
13- Sedative Distortion
14- Perfidiousness
Bis
15- Feel Like I Don’t Know What I’m Doing

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Na beirada do palco

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado