Não é mole banda indie sobreviver no Brasil, mas o Cigarettes segue em frente lançando um novo álbum. Ontem (24/7), o grupo foi a atração principal da primeira noite do Laud! Fest, na Audio Rebel, no Rio, e não fez por menos: tocou quase a íntegra do tal disco, intitulado “The Waste Land” e resgatou músicas antigas que fez muita gente da plateia - por vezes em grande esforço dede memória - cantar junto. Sim, porque o quarteto, de formação itinerante, vem de longe, está na estrada há mais de 20 anos, sempre sob a liderança de Marcelo Colares, que canta, toca guitarra e outros instrumentos, e é o compositor de quase todas as músicas. Na abertura, o Lava Divers carregou a noite com um divertido sotaque mineiro, em outro bom show de indie rock.

Se o grupo sempre foi da ala mais calma do indie nacional, dessa vez as músicas novas mergulham direto na melancolia em detrimento da distorção. Tanto que a mais interessante das sete novas tocadas é a bonita “Plus Belle”, que, ao vivo ganha um ritmo mais acelerado sem deixar escapar a doçura que lhe caracteriza. Colares segue mostrando que é bom guitarrista, especialmente quando enfileira solos e evoluções ao final das músicas. Numa delas recebe o grito de “metal!” do meio do público e aproveita para zoar os cabeludos dos infernos citando um trecho de “Cavaleiro Negro”, do Metalmorphose (!). Melhor ficar nas texturas e climas intimistas mesmo.

A interação com a plateia dá o tom da noite, já que a Audio Rebel recebe um público totalmente das antigas, e o clima é de um petit comité renascido dos anos 90, o que, de certa forma, tornam as coisas mais divertidas. Tanto que, nas vezes em que a banda se confunde ao iniciar uma ou outra música – o baterista Sergio Ugeda se perde na maior parte do tempo -, a tiração de sarro supera uma eventual insatisfação. Completam a formação desse show Sidney Honigsztejn (baixo) e Gordinho (da Pelvs, guitarra, escaleta e pandeirola). Ressalte-se que o local, uma pequena sala de ensaios convertida em espaço para shows, recebeu tratamento acústico e um cuidado com os equipamentos inexistentes no passado, o que garante uma boa qualidade de som.

Outras músicas legais entre as novas são a tristonha “There’s Beauty In This World”, de remexer a alma do mais feliz dos cidadãos, na qual Colares solta falsetes quase juvenis, e “17 Years”, bem mais leve e que soa mais ritmada ao vivo. Já a dobradinha “Happiness”/“Annabel Lee”, de outro lado, mostra que o som do Cigarettes e seus pares noventistas pode não soar anacrônico, ao menos diante do público certo. No final, atendendo à demanda desse público, ainda foram tocadas, aos trancos e barracos, duas músicas que não estavam nos planos: “More Or Less”, outra das novas, e “We’re Gonna Make a Sound”, pinçada do álbum “Bingo”, do final dos anos 1990. Se tocasse mais, ninguém iria embora.

O promissor quarteto mineiro Lava Divers tem só um EP com quatro músicas, mas o repertório é de gente grande: conciso, bem ensaiado e com referências ao universo indie a dar com o pau. O grupo é liderado pelo guitarrista/vocalista João Paulo Porto, mas a adocicada voz da baterista Ana Zumpado é a pitada maliciosa que remete a Pixies e Sonic Youth, e não só por causa da boa cover para “Screaming Skull”, incluída no set list. “Carte Blanche”, a que abre o EP, é um dos bons momentos da noite, que ainda teve outro cover, levemente enguitarrado, para “Being Boring”, do Pet Shop Boys. Cantada por Ana Zumpado, “Natural Born Liar” é outra que ficar marcada durante a noite, curta, mas eficiente: deu pra sacar tudinho ali.

Set list completo The Cigarettes:

1- Atenas
2- Love Sucks
3- Mandy V2
4- Friendship
5- Under Lights
6- Beauty Of The Day
7- Plus Belle
8- Mantra da Espera
9- Happiness
10- Annabel Lee
11- Lips 2
12- 17 Years
13- There’s Beauty In This World
14- Junk Short Memory
Bis
15- More or Less
16- We’re Gonna Make a Sound

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