Grosseria
Ratos de Porão volta ao subúrbio carioca e recompensa fãs que se acabam em festa do hardcore mais que extremo; Protesto Suburbano e 8MM fazem bons shows de abertura no Imperator. Fotos: Leandro Fotoz/Divulgação.
Em princípio, não parecia que seria desse jeito. A casa vazia para os shows de abertura assusta quem chega mais cedo e serve para confirmar que os mais de mil fanfarrões que comparecem em rede social não podem ser computados como público, e que fazer evento escondido é roubada na certa. A real foi dada pelo próprio Gordo, que sobe no palco e – generoso – agradece ao “grande público”, já que “não esperava que ninguém fosse até lá”. Sabe tudo esse João, e aí não havia outra coisa senão disparar 30 pedradas, sem dó, sem arrego, em cerca 80 minutos de massacre. Um show ligeiramente maior do que o realizado há cerca de um ano no Circo Voador (veja como foi), o que se converte em espécie de prêmio para que não acha o Méier tão distante da Lapa assim.
O show segue como o da turnê do álbum “Século Sinistro”, lançado no ano passado e que cede quatro músicas ao repertório, incluindo duas já assimiladas pelo público, a julgar pela cantoria dispensada. São elas “Viciado Digital” e “Grande Bosta”, que caçoa da chamada paixão nacional, em plena crise de corrupção da FIFA. O que – de fato – renova a tese de que, aconteça o que acontecer, as letras do Ratos são sempre atuais. Assim, no meio da sessão de esporro é impossível não lembrar o ex-presidente Lula no refrão “Eu não sei de nada”, de “Crianças sem Futuro”, muito embora a coisa tenha melhorado nessa área; da ação da polícia ante as manifestações, em “Agressão/Repressão”, do verso “É preciso mudar o sistema policial porque já estamos cansados de agressão”, genial, de tanta simplicidade e precisão; ou da sujeirada que toma as ruas ano após ano em “Terra do Carnaval” e na obrigatória “Crise Gral”, só para ficarmos em alguns exemplos.É domínio público que em todos esses anos o Ratos já passou por inúmeras fases, muitas vezes à frente do seu tempo: punk, hardcore, industrial, thrash metal, crust e o escambau. Mas, ao vivo, tudo hoje tem uma abordagem uniforme, absolutamente grosseira e cada vez mais alopradamente veloz, graças, em parte – vale repetir – ao batera Boka, que coloca o guitarrista Jão e o baixista Juninho para correrem atrás, e eles não decepcionam no desafio. E, desse jeito, João Gordo não é mais “apenas” o maior vocalista do hardcore mundial que se faz entender, mas assume a face do criador de um dialeto próprio completamente voltado para uma insana e descomunal barulheira dos quintos dos infernos. É atropelamento de manada de elefante em fuga.

O pano de fundo com o visual do disco novo, 'Século Sinistro'; João Gordo solta seu dialeto mais à frente
Não tinha muita gente, mas quem chegou cedo se divertiu e agitou muito com as bandas de abertura. O Protesto Suburbano, de Macaé, interior do Rio, já acumula 20 anos nas costas e mostrou o punk clássico que lhe é característico. O repertório é bem influenciado pelo punk brasileiro de raiz, e as músicas são um convite para as rodas de pogo, o que de fato acontece sem parar. O show tem duas participações, do vocalista Álvaro, do Serial Killer, em “Seus Amigos”, música do Serial que fez sucesso com o Planet Hemp, e do vocalista do P.R.O.L., Marcelo dos Santos, em “Hardcore”. Antes, o 8MM fez um shows bastante curto, com referências a várias vertentes do punk/hardcore e até hip hop. Foi tudo tão depressa que o que fica é a versão atualizada e acelerada para “Até Quando Esperar”, hit da Plebe Rude.
Set list completo Ratos de Porão:1– Conflito Violento
2– Viciado Digital
3– Ascensão e Queda
4– Crucificados Pelo Sistema
5– Anarkophobia
6– Vida Animal
7– Grande Bosta
8– Morrer
9– Não Me Importa
10– Cérebros Atômicos
11– Difícil de Entender
12– Arranca Toco
13– Atitude Zero
14- Agressão/Repressão
15- Toma Trouxa
16- Pobreza
17- FMI
18- Diet Paranoia
19– Crocodila
20- Progreria Of Power
21- Stress Pós-Traumático
22- Igreja Universal
23– Beber Até Morrer
24– AIDS, Pop, Repressão
25- Realidades da Guerras
26- Amazônia Nunca Mais
27– Terra do Carnaval
Bis
28- Crianças Sem Futuro
29- Sofrer
30- Crise Geral
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Ratos é foda!!!!
O show foi um verdadeiro estupro sonoro. Apesar dos “sem noção” que subiram no palco para pedir beijos, abraços e fotos.