O Homem Baile

Ele existe!

Cabaret lança segundo disco incubado há anos em show quase íntimo no Rio. Foto: Rubens Achilles/Divulgação Cabaret.

cabaret15Não teve a pompa outrora imaginada, mas, enfim, o Cabaret coloca no mercado o segundo disco, “A Paixão Segundo Cabaret” (saiba mais), com o lançamento neste sábado (23/5), no Rio. Tanto o ótimo Teatro Solar Botafogo quanto o fato de o disco ser temático sugerem que o grupo toque a íntegra do novo material, mas a mescla com as músicas do disco de estreia, de 2006, cai muito bem, mesmo porque as composições ditas “novas” já são bem conhecidas do público, com a cantoria comendo solta em refrães e versos de apoio. A banda tem formação de quinteto, com dois guitarristas, o que realça o peso em várias músicas, e subtrai as vocalistas de apoio, o que é bom, embora elas pudessem contribuir para a história contada no disco como um todo.

O Cabaret gira em torno do vocalista Márvio dos Anjos, figuraça que mantém a boa presença de palco, em que pese uns quilões a mais que tentam escapar de qualquer jeito para fora de uma apertada camisa social. Tal qual um Brian Ferry démodé, Márvio, que chega a trajar uma casaca no início, segura como pode a onda do novo repertório, repleto de baladas dramáticas, mandando muito bem no gogó, e ainda com tempo para descer do palco e se divertir junto ao conhecido público; “Ele existe!”, grita, enquanto distribuis CDs aos montes. Para uma banda chamada Cabaret, contudo, a equação temática decadência versus drama se ajusta certinho, daí o disco planejado como peça fechada, com início, meio e fim. Ou, por outra, se soa decadente, melhor, e se a banda tocasse em uma daquelas casas de conveniência de grandes serviços prestados à sociedade masculina, bem melhor.

Por isso não é ao acaso a abertura com “Copacabana Full Time”, cenário fértil para essa história toda e síntese do conjunto da obra Cabaret, com o riff marcante que remete a outros tempos. De início o clima é meio sem jeito, mas logo outras músicas do primeiro disco fazem o oleoso Márvio iniciar o ataque, incluindo idas e vindas ao público, corpo esparramado no chão e saltos ao ar, entre outras peripécias, afinal – aprendemos com ele - o palco não pode ser pouco. São elas o hard rock “Rockstar Baby”, com a sensacional história da adolescente apaixonada por um frontman, e “Messias Pessoal”, que tem peso extra e excelente participação do guitarrista Felipe Aranha. Cama feita, a paixão do Cabaret começa a ser destilada.

Entre as “etapas da paixão”, as que melhor pegam ao vivo são “Não é (Mulher Pra Você)”, com o público completando o verso/refrão certinho, sem muito esforço por parte da banda; “O Amor de Ninguém”, cuja colância pop que vem de berço emplaca na cara do mais desanimado na plateia; “Dentro de Você”, aquela tal que Ney Matogrosso teve a honra de emprestar os vocais (detalhes aqui), o que por si só já desperta curiosidade/interesse geral, e a música é boa não só por isso; e “Nada Vai Ser Amor”, uma paulada à Stooges talhada para fechar um o show. Completam o repertório a desenterrada “Alguém Pra Hoje”, num improvisado segundo bis, e dois covers: uma citação a “Radio Gaga”, do Queen, e a íntegra de “Pinball Wizard”, do The Who. Na primeira Márvio encarna um andrógino Freddie Mercury, mas a dupla de Felipe Aranha/Rafael Raphael Dias não sabe brincar de Pete Townshend na segunda, e não tem braço girando sobe as guitarras. Também estão na banda o baixista Marcelo Caldas e o baterista Cid Boechat.

A plateia pequena e cheia de conhecidos por vezes faz do show um petit comité que tira dele a necessária distância entre artista e público. Assim, falas e conversas acabam ressaltando um clima de ação entre amigos que não contribui para um palco de rock. Uma reflexão que exige do Cabaret uma atuação mais frequente para açambarcar um público mais amplo, afinal não se pode exigir menos do rock do que tocar para grandes plateias. Mas o que interessa, por ora, é que ao passar a régua a conta mostra todas as 13 músicas do novo disco em cerca de 90 minutos de rock pra valer e muita entrega no palco, com a sensação de que valeu a pena esperar. E a certeza de que ele – o disco incubado – existe. E o rock, sempre ele, também.

Set list completo:

1- Copacabana Full Time
2- A Paixão Segundo Cabaret
3- Messias Pessoal
4- Animal
5- Rockstar Baby
6- Um Dia No Paraíso
7- Eu Não Quero Mais Ouvir
8- O Amor e a Guerra
9- Dentro de Você
10- Já é Tarde
11- O Amor de Ninguém
12- Bela e Vulgar
13- Crianças
14- Pinball Wizard
15- Não é (Mulher Pra Você)
Bis
16- Lingerie
17- Glória
18- A Persistência da Memória
19- Nada Vai Ser Amor
Bis
20- Alguém Pra Hoje

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