O Homem Baile

O peso da idade

Judas Priest mostra músicas do novo álbum e clássicos em bom show no Rio, mas performance da banda já não é a mesma. Fotos: Luciano Oliveira.

Metal God: o emblemático Rob Halford segue com a voz em dia, mas demonstra certo cansaço no palco

Metal God: o emblemático Rob Halford segue com a voz em dia, mas demonstra certo cansaço no palco

Som no talo, guitarras estridentes, riffs sobre riffs, solos e mais solos. É disso que o fã de heavy metal gosta, é isso que o fã de heavy metal quer. E é isso que o Judas Priest, com mais de 40 anos de estrada, mostrou em pouco menos de duas horas no Vivo Rio, no Rio, na noite desta quinta, com abertura do Accept (veja como foi) e do Metal Mania, de Robertinho de Recife. Os shows antecipam as apresentações do festival Monsters Of Rock, que acontece em São Paulo nesse final de semana; saiba mais. Mesmo mostrando certo cansaço e com o show um pouco mais curto em relação a outras turnês pelo Brasil, o grupo mostra, por outro lado, um melhor entrosamento e ares de renovação com a consolidação da formação com o guitarrista Richie Faulkner, que desde 2011 substitui K.K. Downing, além de músicas do disco mais recente, o bom “Redeemer Of Souls”.

Além de ser a turnê de lançamento desse disco, que saiu no ano passado, o Judas segue – ainda - comemorando o aniversário de 40 anos. Gravar um álbum de inéditas a essa altura sequer estava nos planos, já que a ideia de aposentadoria rondava a banda antes de o K.K. Downing decidir pular fora. São quatro as faixas cedidas ao repertório dessa turnê, sendo que “March of the Damned” é a que melhor se sai ao vivo, muito mais pesada e com uma ótima transição entre o refrão e o riff que nele aparece colado. No telão, os zumbis mais sinistros aparecem em close, e o encerramento tem a típica coreografia consagrada nos shows do grupo. Outra das novas que vai bem o palco é “Halls Of Valhalla”, na qual o Faulkner esmerilha a guitarra do início ao fim, realçando o tal entrosamento mais apurado com os demais.

Os guitarristas Richie Faulkner e Glenn Tipton na tradicional coreografia ensaiada do heavy metal

Os guitarristas Richie Faulkner e Glenn Tipton na tradicional coreografia ensaiada do heavy metal

Rob Halford, figura símbolo e inalienável no Judas, segue com o alcance vocal em dia, muito embora a utilização excessiva e ecos no microfone durante toda a noite sempre deixa aquela pulga atrás da orelha. Fisicamente pesado, ele se movimenta com lentidão pelo palco e mal consegue pilotar a tradicional Harley Davidson durante “Hell Bent For Leather”; ao menos não caiu com moto e tudo como aconteceu em Brasília em 2011 (saiba mais). Mesmo assim, brilha com o coro vocal que impõe ao público antes de “You’ve Got Another Thing Comin’”, numa das vezes em que o grupo volta ao palco. É mais ou menos o mesmo cantarolar de sempre, mas o povão – Vivo Rio bem cheio – participa e vibra como se fosse a primeira vez. Nas músicas novas, mostra o vigor de um garoto e não deixa o gogó desandar nas antigas. Em “Breaking The Law”, uma das músicas mais punks do metal em todos os tempos, deixa a plateia, que se desdobra em rodas de dança, cantar o refrão sozinha. Coisa linda de se ver.

O show tem ares de espetáculo grandioso, com um telão gigante que parece engolir o baterista Scott Travis. A resolução poderia ser melhor, mas dá pra ver, por exemplo, a imagem da capa dos álbuns de onde sai boa parte das músicas, resquício da turnê de 2011, que passou pelo Brasil (veja como foi no Rio). Com Richie Faulkner deitando e rolando o tempo todo, tendo direito, inclusive, a um momento solo também em “You’ve Got Another Thing Comin’”, Glenn Tipton soa um pouco tímido, ou ainda sem saco para prosseguir, muito embora não deixe a peteca cair um segundo sequer. Mais do que a forma física desse o aquele integrante o que seduz num show do Judas Priest é a agressividade das guitarras, as coreografias – mais enxutas, diga-se – e, sobretudo, um repertório repleto de clássicos de todas as épocas.

Com muita técnica, o caçula Richie Faulkner se consolida de vez nessa nova formação do Judas Priest

Com muita técnica, o caçula Richie Faulkner se consolida de vez nessa nova formação do Judas Priest

Na segunda metade do show, o grupo enfileira hits como “Electric Eyes”, “Painkiller”, da fase mais “moderna”, já nos anos 1990, e “Living After Midnight”, espécie de disco music que abriu caminho no mercado americano para o Judas ser o gigante com o qual nos acostumamos. Na primeira, além das músicas novas, o Judas desenterra “Victim Of Changes”, pesada e com longa duração, uma verdadeira ode ao metal e ao progressivo setentista. Ao todo, nove dos 17 álbuns do grupo são contemplados no show, que, mas curto que em outras vezes, sempre fica devendo esse ou aquele número preferido. Há ainda quem reclame das músicas do novo disco tomar espaço de sucessos do passado, mas não deixa de ser uma prova de vitalidade – aí, sim – o Judas seguir lançando boas músicas em pleno século 21. E mostrando o vigor que é possível mostrar em cima de um palco. Que continue assim.

Set list completo:

1- Dragonaut
2- Metal Gods
3- Devil’s Child
4- Victim of Changes
5- Halls of Valhalla
6- Love Bites
7- March of the Damned
8- Turbo Lover
9- Redeemer of Souls
10- Beyond the Realms of Death
11- Jawbreaker
12- Breaking the Law
13- Hell Bent for Leather
Bis
14- Electric Eye
15- You’ve Got Another Thing Comin’
Bis
16- Painkiller
Bis
17- Living After Midnight

O discreto, porém eficiente baixista Ian Hill, que não sai do lugar durante toda a apresentação do Judas

O discreto, porém eficiente baixista Ian Hill, que não sai do lugar durante toda a apresentação do Judas

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado