Entrega garantida
Um ano depois, Imagine Dragons volta ao Rio e toca (quase) a íntegra do novo disco para plateia que ainda não teve tempo de crescer. Fotos: Daniel Croce.

De volta em pouco tempo: Dan Reynolds fica cara a cara e mata a saudade do público brasileiro no Rio
No comando, o bom vocalista/entertainer Dan Reynolds faz a parte dele certinho. Se no passado alegava uma ordinária ligação com o futebol para justificar a paixão pelo País, agora se diz – e mais de uma vez – que estava “com saudades”. “Eu adoro o povo daqui”, diz, antes de “Trouble”, a segunda do show, uma das novas, desencadeando os gritos de “uiloviu, uiloviu!” da plateia entusiasmada. Pode parecer clichê - e é -, mas em “Release”, já na segunda metade, tocada só com voz e violão, Reynolds realmente se emociona. Também pudera: é muita energia canalizada de uma só vez para um grupo de pouquíssima rodagem e, vamos e venhamos, com muito mais a mostrar do que já tem de consolidado.
Mas os tempos são efêmeros e a plateia curte o momento como manda o figurino dos nossos dias. Emburrecida pela tecnologia de acesso fácil, usa e abusa de registros fúteis que de nada servirão no futuro; talvez apenas para o esquecimento rápido a vir com o inevitável amadurecimento. A banda, também, entra na onda quando Dan Reynolds diz que precisa de “likes” e procura, no meio daquele povaréu, um tal de Mateus. Ao subir no palco, Dan faz uma famigerada “selfie” com ele; não precisava, né? O positivo no público é que quase todas as músicas novas de “Smokes And Mirrors” já são conhecidas, não só os singles “I Bet My Life”, “Gold” e “Shots”, que vêm antecipando o disco, nessa ordem, desde o ano passado. Tanto que a primeira já parece como parte do bloco final da noite, em um de vários e constrangedores momentos micareta pop.A banda, também, não consegue concatenar um set list que faça sentido. Mesmo com um repertório de flagrante baixo impacto, começar com a trinca “Shots”, “Trouble” (duas das novas) e “It’s Time” não chega a ser uma boa decisão, ainda mais com “Forever Young”, do Alphaville, tocada em seguida, com uma notável preguiça instrumental. Mesmo assim a recepção é calorosa e seria até se o grupo começasse com “Chiquita Bacana”. Mas o show parece começar de verdade já com meia hora de bola rolando, com “I’m So Sorry”, quando o bom, mas omisso guitarrista na maior parte do tempo Wayne Sermon conduz o quinteto a uma evolução instrumental – nisso eles são bons – contagiante de verdade. Ele também faz das suas no hitaço “On Top Of The World”, citando Led Zeppelin no início, e no belo solo de “Hopeless Opus”.
Outras das novas que encantam a plateia são “Polaroid”, cujo cantarolar é ensaiado por Reynolds de antemão; a já citada “Gold”, canção tensa que foge da alegria besta que permeia o show e desemboca em exibição de Sermon; e “Friction”, mais pela vibração da plateia do que pela música em si. Vale o registro da bela produção visual do palco, com jatos de fumaça e telões de led esbeltos em torres formando pórticos de luz que impressionam. E também o uso menos frequente da percussão que por vezes ofusca outras possibilidades. Com tanta música nova no show, “I Bet My Life”, no fim, abriga uma série de citações a músicas do disco de estreia, e o desfecho com élan épico vem com “Radioactive”, que reúne tudo o que o Imagine Dragons oferece em cada uma das músicas, incluindo – aí, sim – a overdose de batucada com direito a espancamento de um tambor gigante; como o público adora isso! No bis, com “The Fall”, Dan Reynolds se joga nos braços do público. No fundo, no fundo, parece que ele adora isso aqui mesmo.Set list completo:
1- Shots
2- Trouble
3- It’s Time
4- Forever Young
5- Smoke and Mirrors
6- Polaroid
7- I’m So Sorry
8- Summer
9- Gold
10- Demons
11- Dream
12- Hopeless Opus
13- Release
14- On Top of the World
15- Friction
16- I Bet My Life
17- Radioactive
Bis
18- The Fall
Tags desse texto: Imagine Dragons