O Homem Baile

Esquecível

Apresentação morna do Alt-J tem altos e baixos, mas o destino da banda é o de não ser mais lembrada, como tantas outras no Lollapalooza. Fotos: Divulgação T4F.

O tecladista Gus Unger-Hamilton, um dos mentores do som morno do Alt-J, para o bem ou para o mal

O tecladista Gus Unger-Hamilton, um dos mentores do som morno do Alt-J, para o bem ou para o mal

Há coisas que só o Lollapalooza pode fazer por você. Como, por exemplo, trazer ao Brasil bandas pouco conhecidas e que possivelmente serão esquecidas, no máximo, uma semana depois do evento. Até banda que nem existe o pessoal anda curtindo, mas, de outro lado, não custa dar um “check presencial” como não se quer nada numa desses neófitos enquanto aquela banda preferida ainda não toca. É assim que se descobre que o Alt-J é um grupo que vem lá dos cafundós de Leeds, terra sagrada do Sisters Of Mercy, tem só dois discos lançados e a vocação para fazer um sonzinho morno, quase um indie de baixo impacto, por assim dizer. Ao menos foi o que deu pra ver na tarde do sábado do festival.

O que não que dizer que não saiam boas canções dali. Uma delas atende pelo nome de “Fitzpleasure”, tem sotaque eletrônico, cita riffs do AC/DC, carrega certa psicodelia e faz boa parte do público dançar. O grupo é escorado nas boas vocalizações do tecladista Gus Unger-Hamilton e do guitarrista Joe Newman. Juntos, eles foram vistos no meio do povão no bom show do Interpol (veja como foi) e remetem, musicalmente falando, ao MGMT, se olharmos pelo viés lisérgico/psicodélico de parte a parte. Talvez a ênfase nos teclados, como se nota na boa “Left Hand Free”, que agrada ao público, ou em “Dissolve Me”, bem fraquinha, é que passe a sensação de uma sonoridade turva que não representa uma coisa, tampouco outra.

Outra metade do Alt-J, o guitarrista Joe Newman também vai bem nas vocalizações, junto com Gus

Outra metade do Alt-J, o guitarrista Joe Newman também vai bem nas vocalizações, junto com Gus

A música lidera o pior trecho da apresentação, que tem ainda outras duas fraquinhas: “Matilda” e “Bloodflood Pt. 2”, como se tudo fosse um grande fundo musical justamente em um dos palcos principais. Guitarra que é bom mesmo só aparece de verdade em uma evolução minimalista de “Taro”, uma das poucas músicas que parte do público conhece e canta junto, a essa altura com Newman com o pescoço envolto em uma bandeira do Brasil ofertada por um fã ali no gargarejo. Mas é “Every Other Freckle”, com uma levada meio reggae de branco, e com um belo solo do guitarrista de apoio (que tocava outros instrumentos), que melhor envolve o público e emblematiza o ambiente, morno, sim, mas que até pode ser legal. O resultado é a maior salva de palmas do show.

Além das palmas, fãs do tipo “die hard” (sim, eles existem) fazem um delta, a boa e velha letra grega, com as mãos, como acontece durantes as turnês do Alt-J mundo afora. Apesar do misto de felicidade e satisfação de ver a banda ao vivo dessa turma, o show quase sempre deságua na monotonia, já que quase todas as músicas têm a mesma levada, e por certa apatia da banda, que, além de não contagiar o público, dá a entender que nem ela se empolga com o próprio repertório. Por isso até as músicas boas do set, no frigir dos ovos, parecem fadadas ao esquecimento, assim como a banda em si. O que não chega a ser uma sentença de morte se considerarmos que se trata um grupo ainda pouco experimentado. Vamos ver quem se lembra deles daqui a um, dois anos.

O 'anônimo' guitarrista que toca vários instrumentos e tenta incrementar um pouco o som do Alt-J

O 'anônimo' guitarrista que toca vários instrumentos e tenta incrementar um pouco o som do Alt-J

Set list completo:

1- Hunger of the Pine
2- Fitzpleasure
3- Something Good
4- Left Hand Free
5- Dissolve Me
6- Matilda
7- Bloodflood Pt. 2
8- Tessellate
9- Every Other Freckle
10- Taro
11- The Gospel of John Hurt
12- Lovely Day
13- Nara
14- Breezeblocks

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