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Em formato superbanda, Smashing Pumpkins deixa o gueto indie de vez e se consolida como um dos maiores grupos de rock da atualidade. Fotos: Daniel Croce.

rock pra valer: o olhar certeiro de Billy Corgan que conduz o Smashing Pumpkins a novos caminhos

Rock pra valer: o olhar certeiro de Billy Corgan que conduz o Smashing Pumpkins a novos caminhos

A noite estava próxima de chegar ao fim com a felicidade geral inteiramente garantida quando Billy Corgan inicia uma versão ainda mais enguitarrada da ótima “United States”. Uma peça (anti) virtuose do rock contemporâneo que tem tudo que o rock deve ter: duelo de guitarras, riffs, bateria revirada o tempo todo, solo de guitarra com os dentes, luzes estroboscópicas e o escambau. É cabeça batendo pra lá, braços erguidos pra cá em uma plateia, a essa altura, muito mais catatônica do que participativa. É uma lição de rock como o rock deve ser: duro, direto, na cara, sem dó. Apenas um retrato da apresentação arrasadora do Smashing Pumpkins ontem, no Rio, como numa perversa antecipação do encerramento do Lollapalooza, no próximo domingo, do outro lado da Dutra.

Explica-se que, até outro dia, o SP era uma bandinha indie de nariz arrebitado que sofria com o interesse do público e tocava com a cara voltada para o carpete. Agora - e já não é de hoje, veja como foi em 2010 no Planeta Terra -, convertido definitivamente em banda de rock, se consolida como uma das melhores formações da atualidade. Isso porque, além do encontro do chefão Billy Corgan com o próprio rock, essa formação de turnê traz a reboque o baterista do Rage Against The Machine (ou o cara que gravou o último disco do Black Sabbath), Brad Wilk; o baixista do The Killers, Mark Stoermer; e o guitarrista Jeff Schroeder, fiel escudeiro de Corgan há quase 10 anos. E o quarteto vai fundo no arremate do show que, além de “United States”, reacende a cantoria da plateia com o hit “Bullet With Butterfly Wings” e estapeia geral com a endiabrada “Heavy Metal Machine”. Não há o que pague ver a indianada a bater cabeça com a máquina do heavy metal atropelando.

A fera Brad wilk, um dos poucos bateristas que realmente fazem diferença, acrescenta muito ao SP

A fera Brad wilk, um dos poucos bateristas que realmente fazem diferença, acrescenta muito ao SP

Mas Corgan não dá as costas em definitivo aos fãs das antigas, como, aliás, vinha sugerindo há algum tempo. Dessa vez, reinsere no repertório músicas que haviam sido duramente limadas em tempos mais recentes. Casos de, ao menos, “Disarm”, pedida em vão em 2010, que tem belo acompanhamento à capela e um impressionante up grade de Wilk; e “1979”, marco de uma época, mas que vivia em um entra e sai nos shows, com Corgan ensaiando discreta virtuose. Não se trata, contudo, de um show do tipo “uma música de cada fase”, sendo que o disco de estreia, “Gish”, não é contemplado com uminha sequer. As quase duas horas e 17 músicas que o show dura representam a afirmação de uma proposta, traduzida em muitas guitarras e em um instrumental realmente poderoso.

O que revela um Billy Corgan – quem diria – simpaticão que sorri já no início do show, se diverte a valer esmerilhando a guitarra, dá autógrafo em um vinil do clássico “Siamese Dream” entregue do público por um gaiato, e se esbalda com o coro da plateia no solitário bis de voz e violão para “Today”. Foi-se o sujeito sisudo arredio ao contato com o mundo e cresce um astro do rock, só que já vacinado pelas mazelas do cargo. Das novas, do disco mais recente, “Monuments to na Elegy”, foram quatro números, com destaque para “Monuments”, pesada a custa do braço forte de Brad Wilk (o cara é um dos poucos casos em que o baterista faz diferença) e para “One and All”, um rockão setentista dos bons que, ao vivo, só cresce com essa formação, em que pese a discrição eficiente de Mark Stoermer. E vale a ressalva - antes tarde que nunca - que Jeff Schroeder não é coadjuvante de Corgan, mas um exímio debulhador de cordas, sem firulas.

Billy Corgan e o guitarrista Jeff Schroeder, que não é reles coadjuvante no Smashing Pumpkins

Billy Corgan e o guitarrista Jeff Schroeder, que não é reles coadjuvante no Smashing Pumpkins

Muda o líder, muda a banda e muda também o público. Na beirada do palco não é só mais o indie bobo alegre que surge saltitando sem jeito. Há também as cabeças batendo e os punhos erguidos em ritmo acelerado que comprovam a direção assertiva apontada por Corgan. Todos sabem que, inclusive, uma formação híbrida como essa não deve se perpetuar para além do chamado das bandas de origem dos integrantes, o que dá contornos ainda mais exclusivos à noite e ao show de domingo, para um público bem maior, no Lollapalooza. Tudo bem: o som rock dessa formação do Smashing Pumpkins seguramente foi feito pensado também para o consumo de larga escala em arenas lotadas. Como o próprio rock, aliás. Se puder, não perca.

Set list completo:

1- Cherub Rock
2- Tonight, Tonight
3- Ava Adore
4- Being Beige
5- Drum + Fife
6- Glass and the Ghost Children
7- Stand Inside Your Love
8- 1979
9- Pale Horse
10- Monuments
11- Drown
12- Disarm
13- One and All (We Are)
14- United States
15- Bullet with Butterfly Wings
16- Heavy Metal Machine
Bis
17- Today

O baixista do Killers, Mark Stoermer, Billy Corgan, Brad Wilk (no fundo) e o guitarrista Jeff Schroeder

O baixista do Killers, Mark Stoermer, Billy Corgan, Brad Wilk (no fundo) e o guitarrista Jeff Schroeder

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