Quando o grito que abre o clássico “Us vs. Them” ecoou no Teatro Odisséia, a turma do gargarejo de idade avançada puxou as últimas reservas de energia calibrada com cerveja para não fazer feio. Era o encerramento do show do Sick Of it All, ontem, no Rio, o primeiro na cidade - vejam vocês – em 29 anos de história comemorados pelo vocalista Lou Koller. Uma hora e pouco de muita agitação e de um verdadeiro duelo particular do próprio Koller com um bebum sem noção, já que a casa esteve longe de encher, acabaram marcando a noite. Talvez esteja aí a explicação para a demora na visita. Não tem chuva, não tem passeata, não tem horário: o que falta para o Sick Of it All no Rio é público mesmo.

O consolo é que os que foram são seguramente – afora a juventude errante ligada ao Stick to Your Guns, que abriu a noite – os mais fervorosos fãs da banda, um dos grandes ícones do que ficou conhecido como hardcore nova-iorquino. À exceção dessa ou daquela música nova, do álbum mais recente, “The Last Act Of Defiance”, lançado em setembro, o coro de cada verso é cantado a plenos pulmões, quase sempre com grupos abrindo rodas de pogo. Entre as novas, “DNC”, até pelo refrão/verso fácil é a mais cantada, em que pese muitos dos fãs das antigas não conhecerem os discos mais recentes da banda. Em “Friends Like You”, um deles é chamado ao palco para dividir os vocais com Lou Koller e não faz feio, em outro bom momento da noite.

No começo, parecia que não ia dar certo. Na segunda música, o PA do som pifou, como se um disjuntor tivesse desarmado, causando preocupação geral. Logo, entretanto, tudo se acerta e o bom som – e já faz tempo – do Odisséia segura firme. O guitarrista Pete Koller (irmão de Lou) não por acaso carrega o visual punk/hadcore: o sujeito não para um segundo sequer, seja girando em torno de si próprio, saltando com a guitarra em punho ou fazendo backing vocals. Lá atrás, o batera Armand Majidi parece que vai demolir uma parede de concreto com uma marreta em cada mão, tamanha a agressividade. E o baixista Craig Setari é o mais discreto, exceto quando o instrumento tem destaque, como na porrada “Busted”.

Lou Koller não parece nem de longe um frontman de hardcore, muito menos nova-iorquino. Esbelto, não mapeado com tatuagens, de cabelo penteado e com calça justa no lugar do bermudão ensebado, o vocalista, mesmo assim, mantém a força do gênero, mostrando que está com o gogó em dia, sem muito esforço. Outras músicas – veja o set list base da turnê no final do texto – em que o público mais agita são “Built to Last”, que encerra o show, antes do bis; “Injustice System”, que tem a cantoria do público afinada; “Step Down”, quando Koller pede aos fãs que já foram a um show do SOIA “ensinem” os demais; e a cascuda “My Life”. Um bom show que poderia ser melhor com mais gente no salão.

Na abertura, o Stick to Your Guns fez uma boa apresentação, só que para um público menor ainda, sendo que os fãs do Sick Of It All ficavam de longe observando. A banda, liderada pelo bom vocalista Jesse Barnett, não segue exatamente um corrente do hardcore, e flerta até com a new wave of american heavy metal, sobretudo quando os vocais soam limpos e afinados. Na maior parte do tempo a condução do baterista George Schmitz é curiosamente pouco veloz para a o gênero, e não raro as guitarras soam melódicas, incluindo aqueles pulinhos por vezes ingênuos do bom e velho HC melódico. O melhor do show é quando os fãs se juntam na beirada do palco para dividir o microfone com Barnett, e o pior são os franzinos lutadores de academia sem brevê se exibindo como nos antigos filmes de kung fu no meio do público. Cada uma…

Set list base da turnê do Sick Of It All:

1- Good Lookin’ Out
2- Sound the Alarm
3- Clobberin’ Time
4- Uprising Nation
5- Injustice System
6- My Life
7- Death or Jail
8- Busted
9- Sanctuary
10- Take the Night Off
11- DNC
12- Rat Pack
13- Machete
14- Get Bronx
15- Just Look Around
16- Step Down
17- Outgunned
18- Call to Arms
19- Friends Like You
20- World Full of Hate
21- Road Less Traveled
22- Scratch the Surface
23- Built to Last
Bis
24- Us vs. Them

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