Deitando na cama
Açucarado, Dragonforce mostra ao vivo que é muito mais que banda veloz saída de dentro de videogame. Fotos: Daniel Croce.
Embora associado ao metal melódico, coisa que a banda assume de forma radical, há – e não só pelo tamanho das músicas – um quê de rock progressivo no entorno do som do sexteto. É o que se nota, por exemplo, em “Cry Thunder”, disparado o melhor momento do show. De tom épico, a música, com introdução mais que açucarada, se desenrola a partir de sólida base criada a partir das twin guitars, elevada à enésima potência. Daí a duplinha Li e Totman, que atua em uma plataforma na beirada do palco, partir para sensacionais duelos de guitarra; isso quando eles não dobram as sequências de parte a parte. Para quem acredita que tudo no som dos caras é efeito, nem se percebe a influência de Vadim Pruzhanov nessa parte do show, muito embora os teclados tenham, sim, relevância no som do Dragonforce, quase sempre numa espécie de coadjuvância que encorpa o conjunto da obra.
Se têm fama de velozes, técnicos demais e presepeiros, Hermam Li e Sam Totman deitam na cama e já entram no palco tocando no braço das respectivas guitarras, com mão trocada, com os dentes, de costas e o escambau. Tudo rápido, muito rápido, ainda mais na abertura, com “Fury Of The Storm”, um clássico do gênero que inicia a noite de modo avassalador. Juntos, durante vários momentos do show fazem um número em que um desafia o outro, e o público, que torce por esse ou aquele, se diverte. A dupla parece não se levar tão a sério, convivendo muito bem com o monstro desgovernado, ultraveloz e adocicado que criou. Li comanda o quesito patacoada, seja pela joelhada que dá na pobre guitarra ou no salto helicoidal que repete da plataforma para o piso. É preciso ver para crer: mais que banda saída de dentro de videogame, o Dragonforce é de verdade.Espécie de Sebastian Bach, sobretudo fisicamente e com as cordas vocais em dia, o vocalista Marc Hudson, na banda há quatro anos e dois álbuns, se sai muito bem. Também, das oito músicas tocadas, cinco já são de sua fase no grupo, sendo três do disco mais recente, “Maximum Overload”, lançado no ano passado. Hudson se esforça para falar em português, ainda que lendo uma colinha, antes de “Seasons”. A música, de refrão colante e nem tão pesada, é outro grande momento do show do Dragonforce, e, segundo ele, só foi tocada no Rio durante essa turnê. O vocalista só não conseguiu ver o pedido de abertura de roda no meio do salão ser atendido, mas aí, convenhamos que, com o público “pussy metal” do Epica, a tarefa não é realmente das mais fáceis.
Veloz mesmo é “The Game”, que também tem um refrão grudento e maratonas melódicas mais doces que garapa antes de virar caldo de cana. Marc Hudson cobre bem as partes de Matt Heafy, do Trivium, que colaborou na versão gravada para o disco. Com um interlúdio e muitos delírios instrumentais, “Symphony of the Night” também flerta com o rock progressivo. São mudanças de andamento e belas sequências de solos, que, em evolução, desafiam a velocidade da luz, só que ao vivo, de verdade – repita-se – bem ali na frente de todo mundo. Se como banda de abertura o Dragonforce deixa ótima impressão, não custa imaginar o que o grupo faria com duas horas ou mais sobre um palco. Haja fígado.Clique aqui para ver como foi o show principal, do Epica.
Set list completo:
1- Fury of the Storm
2- Three Hammers
3- The Game
4- Seasons
5- Symphony of the Night
6- Cry Thunder
7- Valley of the Damned
8- Through the Fire and Flames
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