O Homem Baile

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Com anos de atraso, Mr. Big faz show à altura de sua história no Rio; nem público gelado nem som embolado subtraem a grandeza da apresentação. Fotos: Luciano Oliveira.

Todo o feeling do vocalista Eric Martin, à frente do Mr. Big; grupo mostrou músicas do novo álbum

Todo o feeling do vocalista Eric Martin, à frente do Mr. Big; grupo mostrou músicas do novo álbum

O sujeito que chegasse bem atrasado ontem, na Fundição Progresso, no Rio, seguramente acharia que estava diante de uma banda cover de Judas Priest sem pé nem cabeça, tocando “Living After Midnight”, música de sotaque pop que fez o grupo estourar nos Estados Unidos. Mas era só o bis do show do Mr. Big, com os integrantes em papéis diferentes: baixista tocando guitarra, guitarrista destruindo na bateria e assim por diante. A farra, que pedia o acompanhamento de um pula-pula generalizado, contudo, não comoveu uma plateia fria, estática, contemplativa demais. Ok que fã de Mr. Big é do tipo músico/aluno de instrumento que quer ver a incrível virtuose dos músicos, mas um pouco de animação só contribuiria para o bom show que o grupo, enfim, fez na cidade. Na abertura, quem tocou foi o Winger (veja como foi).

O local tampouco ajuda. É preciso dar uma medalha olímpica para o técnico de som que consegue fazer a coisa funcionar em um local inóspito como a Fundição, de pé direito gigante e sem tratamento acústico, de modo que o público, na maior parte do tempo, sofre um bocado para entender o que se passa no palco. Mesmo assim, é possível cravar que Billy Sheehan sobra na banda, não só fazendo as estripulias que o público adora, ao empunhar o baixo, percutir cordas separadamente e mandar um solo técnico (mas sem apelo) de mais de sete minutos. É na hora do feijão com arroz que se constata a destreza musical dele. Em “Undertow” o suingue aproxima a música a um funk de raiz; “Got Love The Ride”, logo a segunda, e “The Monster In Me”, aparecem com um incrível baixo galopante; e até no “bloco baba” realça o baixo com uma marcação sutil, porém marcante.

O baixista Billy Sheehan e o guitarrista Paul Gilbert usam furadeiras no duelo na beirada do palco

O baixista Billy Sheehan e o guitarrista Paul Gilbert usam furadeiras no duelo na beirada do palco

Sheehan só não é mais aplaudido, na apresentação dos músicos, que Pat Torpey. Mas aí a questão é emocional, visto que o baterista, diagnosticado com Doença de Parkinson, foi substituído por Matt Starr, e participa apenas em algumas músicas como percussionista, baterista e até cantor (na tal versão do Judas). É a forma de ele se despedir dos palcos em alguma atividade, e um gesto bonito por parte da banda. Mas o rival, digamos, de Billy Sheehan, é Paul Gilbert, que toca com a guitarra nas costas, com os dentes e o escambau; taí um dos momentos de vibração da gelada plateia. Logo no começo os dois se divertem na beirada do palco, usando furadeiras, um desafiando outro com muito bom humor, cena que se repetiria durante as mais de duas horas de duração do show. Uma pena que, nesses momentos, o vocalista Eric Martin, em boa forma, não participe da brincadeira. Difícil é ouvir com clareza o que ele canta, dados os problemas com o som. No solo, mais curto que o de Sheehan, Gilbert é também protocolar.

O show é dividido em blocos, incluindo até um calminho, quase acústico. Mas, também, quem manda o Mr. Big ter, entre seus maiores hits, uma versão fofa para “Wild World”, de Cat Stevens? Do novo álbum, o bom “…The Stories We Could Tell” (saiba mais), foram incluídas seis faixas, todas – de novo – recebidas com frieza. Entre elas, sobressaíram “I Forget to Breath”, exemplo de como se recria em cima do Experience, de Jimi Hendrix; a já citada “Gotta Love The Ride”, rockão dos bons; e a apenas razoável “The Light Of Day”, cujo mérito é fazer o público cantarolar alguns trechos, a pedido de Martin. Entre as mais conhecidas, “Addicted to that Rush” matou a pau no encerramento da primeira parte; “Take Cover”, com um arremate instrumental sensacional – aí, sim – levanta o público; “Colorado Bulldog” quase vira um hardcore; e o rockaço estradeiro “Rock & Roll Over” sozinho já vale o ingresso. Um show grandioso de uma banda grande já no nome. Tinha mesmo que ser assim.

Billy Sheehan empunha o baixo em performances técnicas e arrojadas durante todo o show

Billy Sheehan empunha o baixo em performances técnicas e arrojadas durante todo o show

Clique aqui para ler a resenha do show de abertura do Winger.

Set list completo:

1- Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)
2- Gotta Love the Ride
3- American Beauty
4- Undertow
5- Alive and Kickin’
6- I Forget to Breathe
7- Take Cover
8- Green-Tinted Sixties Mind
9- Out of the Underground
10- Solo de guitarra
11- The Monster in Me
12- Rock & Roll Over
13- As Far as I Can See
14- Wild World
15- East/West
16- Just Take My Heart
17- Fragile
18- Around the World
19- Solo de baixo
20- Addicted to That Rush
Bis
21- To Be With You
22- Colorado Bulldog
23- Living After Midnight
24- The Light of Day
25- Mr. Big

Sheehan evolui com o baterista substituto Matt Starr ao fundo; apresentação durou mais de duas horas

Sheehan evolui com o baterista substituto Matt Starr ao fundo; apresentação durou mais de duas horas

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