A ideia de colocar o Winger como espécie de bônus no show do Mr. Big (veja como foi) pode não ter sido das melhores, mas, no fim das contas, o grupo enfim teve a oportunidade fazer um show completo em uma casa com grande capacidade de público, ontem, no Rio. Não era, a bem da verdade, o público do Winger a maioria na Fundição Progresso, e nem o show, que durou pouco mais de uma hora, chegou a ser completo pra valer, mas a coisa foi boa mesmo assim, ainda que a reação do povão tenha sido, no mínimo, modesta. E muito do bom resultado da noite, para o Winger, pode ser colocado na conta do guitarrista Reb Beach, convertido em figura central da banda, em que pese o chefão Kip Winger ser o manda chuva no quarteto desde os seus primórdios.

O repertório é todo retrô, com sete das 11 músicas cedidas pelos dois primeiros álbuns, “Winger” e “In the Heart of the Young”, de 1988 e 1990, respectivamente, época em que a banda deitava e rolava na parada americana, com repercussão em todo o mundo, inclusive, timidamente, no Brasil. Tanto que a balada “Miles Away”, que, segundo consta, figurou em trilha sonora de novela global, é uma das mais cantadas, incluindo um burburinho feminino que chamou a atenção de Kip Winger. Nessa e em “Headed for a Heartbreak”, ele faz as vezes de tecladista e o guitarrista Donnie Smith segura o baixo. Apenas mais uma deixa para Reb Beach salvar a música, com uma evolução instrumental final de encher os olhos.

Beach já tocou com Deus e o mundo (Alice Cooper, Twisted Sister, Dokken), como bem lembra Winger, e esteve no Brasil mais de uma vez como integrante do Whitesnake, com quem gravou dois álbuns de estúdio e outros ao vivo. Mesmo com uma horinha só de show, ele tem direito a um momento solo às vésperas de o gongo soar, e não consegue disfarçar que sua referência primordial é Eddie Van Halen, muito embora tenha exagerado no uso da alavanca. Em músicas como “Rat Race”, uma das duas do disco mais recente, “Better Days Comin’”, de 2014, e “Easy Come, Easy Go”, com um riff contagiante, Reb Beach mostra como se faz para tocar (hard) rock com uma guitarra. Se fosse um show com público mais interessado e menos frio, a empolgação seguramente se espalharia pelos quatro cantos da Fundição. Afinal, não é para isso que servem os riffs?

A fraca “Down Incognito” contém um solo curtíssimo de Donnie Smith, que acaba contribuindo mais com o gogó – afiado, como o dos demais – do que como músico. O batera Rod Morgenstein, outro cascudo (Dixie Dregs, Steve Morse Band) que já esteve por aqui, também tem um momento solo, mas usa outros instrumentos pré-gravados e acaba fazendo mais condução e acompanhamento do que um solo de bateria de verdade; seria o limite de tempo motivo para a falta de capricho? Ao menos sobrou esmero nos principais hits de outros tempos. “Madalaine”, outra com riff matador, leva o trio Kip Winger, Reb Beach e Donnie Smith para a beirada do placo em coreografia ensaiada, o que, enfim, levanta o público; “Can’t Get Enuff” é outra salva por Beach; e no final, “Seventeen” deixa o show com gosto de quero mais. Agora, pedido de bis, que é bom, nada.

Clique aqui para ver como foi o show principal, do Mr.Big.

Set list completo:

1- Midnight Driver of a Love Machine
2- Easy Come Easy Go
3- Hungry
4- Pull Me Under
5- Down Incognito
6- Rat Race
7- Solo bateria
8- Miles Away
9- Headed for a Heartbreak
10- Can’t Get Enuff
11- Madalaine
12- Solo guitarra
13- Seventeen

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