O Homem Baile

Maestro

Dave Grohl comanda o Foo Fighters em show com a essência do rock no Maracanã; dividido em três palcos, repertório tem de tudo, até música cortada em cima da hora. Fotos: Luciano Oliveira

Dave Grohl canta e toca guitarra no início do show do Foo Fighters, com o batera Taylor Hawkins ao fundo

Dave Grohl canta e toca guitarra no início do show do Foo Fighters, com o batera Taylor Hawkins ao fundo

Quer saber como entreter umas 45 mil pessoas durante um domingo de calor escaldante no Rio de Janeiro? Então pergunte a Dave Grohl. Porque foi exatamente isso que fez o líder do Foo Fighters ontem, no Maracanã, para um público que, honra seja feita, queria o que lhe foi dado. Isso porque além de um sem número de hits, Grohl divide o show em três partes, promove jams instrumentais em muitas músicas, toca violão sozinho, inventa um palquinho cover bem no meio da multidão e fala um bocado. Nem precisava tanto, mesmo porque o grupo tem estofo para preencher as duas horas e meia de duração da noite só com hits, mas como subtrair do carismático Dave Grohl o lado rocker fanfarrão inerente aos fãs de rock? E, a bem da verdade, não houve quem reclamasse do chamado conjunto da obra, em que pese e redução do repertório em ao menos duas músicas.

A exuberante imagem do Cristo Redentor circunscrito por uma lua cheia no telão é o mote para o início do show, cuja primeira parte tem cinco hits corridos que detonam rodas de pogo de fazer inveja aos shows de hardcore. O início é preocupante já que a escolhida para acender o pavio é “Something For Nothing”, que custa a cumprir seu papel, mesmo sendo a mais conhecida do grande público entre as novas, do álbum “Sonic Highways”, lançado no ano passado. Gravado em um giro itinerante em oito cidades americanas, o álbum é conceitual e quase não traz músicas colantes como o FF já fez no passado. Entre as outras duas novas, “Congregation” agrada pela ênfase nas guitarras, num dos poucos momentos em que os três guitarristas se justificam, com Grohl interagindo muito com Chris Shiflett, primeiro, e depois com Pat Smear. “In The Clear”, omitida em São Paulo, reaparece, mas o público se mostra praticamente indiferente. Nas três, são usadas imagens no telão feitas durante o documentário homônimo ao disco (saiba mais).

Grohl caminha sobre a plataforma que liga o palco principal ao púbico; palco cover fica no meio

Grohl caminha sobre a plataforma que liga o palco principal ao púbico; palco cover fica no meio

Mais do que nas outras ocasiões e que esteve no Brasil, em 2001, no Rock In Rio, e em 2012, no Lollapalooza (veja como foi), fica claro que Dave Grohl é o bambambã da caixa d’água. Os demais integrantes são reles figurantes e bem que o grupo poderia se chamar Dave Grohl and the Foo Fighters. O próprio vocalista deixar isso claro quando, ao término do showzinho cover no meio do público, diz, sem cerimônia: “Esses são os Foo Fighters”, apontando para os músicos que se encaminham para o palco principal. Imaginem que, por exemplo, os dois guitarristas quase não solam durante a noite. A exceção é o baterista Taylor Hawkins, que chega a cantar em duas outras músicas, incluindo a cover desenterrada de “Stay With Me”, do Faces. Mas Taylor não conta. Espécie de Eva nascida da costela de Dave Grohl, é o baterista à imagem e semelhança do chefe, quando ele ainda tinha preparo físico para assumir as baquetas. E assim como Grohl, Taylor Hawkins é um rocker nato, só que, tecnicamente, muito mais baterista, graças a referências substanciais como as de Stewart Copeland, do Police, e Neil Peart, do Rush.

Do trio canadense, “Tom Sawyer” foi a novidade do palco cover que é erguido direto de um calabouço no meio da passarela que corta o público até à pista comum. Desse porão o sexteto, tal qual banda de garagem em início de carreira, toca ainda músicas do Kiss (“Detroit Rock City”), e do Queen + David Bowie (“Under Pressure”). O palquinho, ainda por cima, gira para um lado e para o outro, num efeito dos mais charmosos e interessantes, só atrapalhado pela plateia emburrecida pela tecnologia, ávida por registros inúteis. Bem antes, ainda no palcão, “Cold Day in the Sun” tem Dave Grohl dividindo os vocais com Taylor Hawkins, e, durante a apresentação dos músicos, são tocados trechos de “Mountain Song” (Jane’s Addiction), “Smoke on Water” (Deep Purple) e Blackbird (Beatles). Dave Grohl também dá uma moral ao povão da pista comum, ao levar, sozinho no violão, “Skin and Bones”, com o tecladista Rami Jaffee tocando um patético acordeão, e “Wheels”. É a parte mais chata do show, que serve mesmo para o pessoal lá de trás ter uma válida proximidade com o ídolo.

Desde o Rock In Rio, há 14 anos, Dave Grohl segue erguendo o braço esquerdo enquanto toca guitarra

Desde o Rock In Rio, há 14 anos, Dave Grohl segue erguendo o braço esquerdo enquanto toca guitarra

Além dos hits e dos covers (Grohl aprende com Paul Stanley que não basta tocar, é preciso pregar), vale ressaltar que as cinco músicas (costuma ser mais) dos dois álbuns mais recentes do Foo Fighters mostram que o grupo segue relevante no cenário global. Caberiam mais, mas aí Dave talvez não teria cumprido a promessa de tocar músicas de todos os álbuns, o que, diga-se de passagem, também não é para qualquer banda. Por outro lado, se falasse menos e tocasse mais, as duas ou três músicas limadas (“Outside” e “These Days” seguramente, e talvez “Rope”) teriam sido tocadas com folga. Mas aí não seria Dave Grohl e os Foo Fighters, e, ademais, quem percebeu a diferença? Outrossim, vale a ressalva que muitas músicas são alongadas por excelentes improvisos instrumentais, não só pelas falas de Grohl. Caso de, por exemplo, de “Monkey Wrench”, “Best Of You” e do arremate com “Everlong”. Quem não gosta disso, sejamos francos, ainda não entendeu o que é rock. Mas calma: Dave prometeu voltar. Que não demore outros 14 anos.

Clique aqui para ver como foram os shows de Kaiser Chiefs e Raimundos, na abertura.

Set list completo:

1- Something For Nothing
2- The Pretender
3- Learn to Fly
4- Breakout
5- Arlandria
6- My Hero
7- Big Me
8- Congregation
9- Walk
10- Cold Day in the Sun
11- In The Clear
12- This is a Call
13- Monkey Wrench
14- Skin and Bones
15- Wheels
16- Times Like These
17- Detroit Rock City
18- Tom Sawyer
19- Stay With Me
20- Under Pressure
21- All My Life
22- Best Of You
23- Everlong

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Rogério Abreu em janeiro 26, 2015 às 19:52
    #1

    Marcos, eles tocaram Everlong. Provavelmente uma das músicas limadas foi These Days.

  2. Marcos Bragatto em janeiro 27, 2015 às 8:29
    #2

    Exato, Rogério. Corrigido, obrigado.

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