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No Goiânia Noise Festival, Biohazard opta por show enxuto e repleto de hits da década de ouro do hardcore nova-iorquino; show acaba com palco invadido. Fotos: Flávio Monteiro/Divulgação GNF.

O guitarrista/vocalista Billy Graziadei agita o público do Goiânia Noise Festival na beirada do palco

O guitarrista/vocalista Billy Graziadei agita o público do Goiânia Noise Festival na beirada do palco

Já passava da meia noite desta sexta e o Biohazard poderia ter tocado mais uma música, mas tinha tanta gente em cima do palco cantando junto com o vocalista/guitarrista Billy Graziadei que não teve como. Era “Punishment Day” e os cerca de 50 invasores, além de cantar, pulavam, levantavam monitores de som como quem ergue uma taça de Copa do Mundo e causavam uma turba dos diabos. Enquanto o outro guitarrista, Bobby Hambel, perguntava se estava todo mundo a fim de ouvir mais uma – e seria “Hold My Own” -, não houve quem conseguisse organizar o palco de modo que a festa continuasse. E assim terminava o show internacional da noite de abertura do Goiânia Noise Festival, ontem, na capital goiana. Espertos, os caras do Biohazard deixaram o Matanza o encerramento (veja como foi).

Não que Graziadei, junto com Hambel um dos fundadores do grupo, não estivesse gostando. O negócio dele é fazer farra mesmo, de modo quem em “Urban Discipline”, a terceira da noite, ele já percorria todo o fosso que separa o público do palco, mostrando vibração e excelente forma física, em que pese os 45 anos nesse mundão. O guitarrista se comunica com o público o tempo todo em um português melhor do que o de Paul McCartney – e sem tanta cola espalhada pelo palco. “Eu é gringo, mas amo o Brasil”, disse, assim mesmo, antes de “Survival of the Fittest”, resgatada do álbum de estreia, que leva o nome do grupo. “Quem gosta de música porrada?”, questionava volta e meia antes dessa ou daquela faixa mais veloz agitar o bom público que foi ao Centro Cultural Oscar Niemayer.

Embora essa formação tenha se consolidado de 2011 para cá, com o lançamento do álbum “Reborn in Defiance”, de 2012, nenhuma faixa desse trabalho entra no set. O repertório é maciçamente retirado dos três primeiros discos da banda, praticamente em uma ação comemorativa da época. Nem o disco “Mata-Leão”, de 1996, famoso por aqui, chega a ceder uma música sequer à noite, e o show, também – diga-se – é curto: uma horinha só, com 14 músicas. E curiosamente até o cover para “We’re Only Gonna Die”, do Bad Religion (não eram rivais?), é tocada. A música foi gravada no álbum “Urban discipline”, de 1990, e nem chega a ser uma das mais queridas entres os fãs. Não em Goiânia, onde a turma do gargarejo, aquela mesmo que subiria no palco para acabar com o show antes da hora, se acaba em intermináveis rodas de pogo.

O palco do Biohazard invadido por mais de 50 cabeças no final do show, subtraindo uma música do set list

O palco do Biohazard invadido por mais de 50 cabeças no final do show, subtraindo uma música do set list

A ausência do emblemático vocalista/baixista Evan Seinfeld, que era a cara do grupo junto com Billy Graziadei, é compensada por Scott Roberts, antes guitarrista e que agora toca baixo e canta muito bem em boa parte das músicas. Assim, é mantido o contraponto vocal com Graziadei, que por sua vez fica solto no palco para agitar à vontade, repita-se, com muita vibração, e até para trocar uma inesperada corda arrebentada de sua guitarra, enquanto os demais dão aquela enrolada básica. Quando volta, em “Five Blocks to the Subway”, a interação com a plateia parece renovada. Quando vê um mosh, um body surfing, um pogo bem sucedido, Billy Graziadei praticamente “dá os parabéns” ao público com suas expressões faciais.

É uma pena que o show seja curto, mesmo se considerando a atração como parte do festival, e na sua edição de duas décadas. Mas a intensidade é tão flagrante que a energia dispendida parece compensar qualquer observação mais crítica nesse sentido. Assim como na escolha do repertório, bastante conservadora se consideramos que estamos diante de uma banda ousada que criou e é praticamente símbolo do chamado hardcore nova-iorquino. Mesmo assim, é inegável a satisfação de público e banda em músicas como “Down For Life”, quando alguns gatos pingados ensaiam para a invasão final; a já citada “Urban Disciplne”; e a “culpada” “Punishment”. Um showzaço. Não deixa de assistir em sua cidade (datas aqui).

Set list completo

1- Shades of Grey
2- What Makes Us Tick
3- Urban Discipline
4- Wrong Side of the Tracks
5- Down for Life
6- Survival of the Fittest
7- Tales from the Hard Side
8- Victory
9- Black and White and Red All Over
10- Five Blocks to the Subway
11- Howard Beach
12- Love Denied
13- We’re Only Gonna Die
14- Punishment

Clique aqui para ver como foram os shows de sexta festival.

Marcos Bragatto viajou à Goiânia a convite da produção do Goiânia Noise Festival.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Gustavo em dezembro 8, 2014 às 13:41
    #1

    Foi insano! Eu sou um desses aí no palco!
    Curto o som dos caras há um tempão e sonhava em poder ve-los ao vivo. Superou em muito minhas expectativas.
    Pra encerrar, consegui ir ao camarim e tirar uma foto com o Billy e o Bob, ambos muito atenciosos.

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