Ensurdecedor
Injustiçado como banda de abertura, Napalm Death reafirma vocação para a podridão em show barulhento e urgente no Circo Voador. Fotos: Daniel Croce.
O grupo, contudo, trata de fazer a limonada e ajusta o repertório que, reduzido, cabe em menos de uma hora em 21 porradas realmente ensurdecedoras. Antes do show, os integrantes, sem roadie ou técnicos de som, aparecem na penumbra afinando instrumentos e ajeitando as coisas em um palco que nem o pano de fundo deles tem. Se de um lado a cena mostra uma triste condição para uma banda seminal como o Napalm, de outro assegura que os caras seguem com disposição para encarar as agruras do show business, e descendo o cacete sem dó, sonora e verbalmente. Não raro Barney aproveita os intervalos entre músicas para enfiar goela abaixo discursos politizados sobre homofobia, falência capitalista, repressão e outras mazelas. Não é só esporro, não.
Do disco mais recente, “Utilitarian”, lançado em 2012, são três petardos que representam bem a fase “volta às podreiras das antigas” que o Napalm vem assumindo, depois de flertar com vários subgêneros da música pesada, sobretudo o thrash/metal extremo na década de 1990. Em uma delas, “The Wolf I Feed”, é o guitarrista Mitch Harris, quase irreconhecível com um corte de cabelo juvenil, que faz boa parte dos vocais, num bom contraponto a Barney. É nessa música que ainda realça o jeitão de tocar baixo de Shane Embury, como se fosse o instrumento uma guitarra. Embury é o mais antigo integrante de uma banda que não tem mais ninguém da formação original, que data de 1981. Ele chegou a sugerir, em entrevista ao “Globo” (leia aqui), que uma música nova seria apresentada (“Dear Slum Landlord” tem sido tocada, saiba mais), já que o Napalm segue gravando o próximo disco, mas não rolou.O tal “back to basics” assumido pelo quarteto fecha certinho com o repertório de “Scum”, o revolucionário disco de estreia do Napalm Death, e o auge dessa fase vem com cinco músicas seguidas na parte final da noite: quem piscou os olhos perdeu “You Suffer”, que, ao vivo, não parece chegar aos dois segundos (!) da versão original, gravada no disco. Com um volume a mais no PA, é de impressionar como “Deceiver” e a própria “Scum” ainda soam, quase 30 anos depois, como uma paulada na moleira, em que pese a subtração de um guitarrista, após a saída do saudoso Jesse Pintado, fazer diferença em termos de potência sonora, agora multiplicada pelo arisco Harris, que se vira para produzir a mesma quantidade de esporro.
O lote com porradas de “Scum” só é interrompido pelo tradicional cover dos Dead Kennedys para “Nazi Punks Fuck Off”, praticamente incorporada ao repertório do Napalm, que evidentemente aparece numa versão mais suja e mais veloz. Antes, músicas como “When All Is Said and Done”, colada em “Suffer The Children”, realçam uma fúria incomum a banda veteranas e um cínico Barney pede “paz e mor”, ao final. O arremate vem com “Siege Of Power”, quase uma suíte progressiva em se tratando de Napalm Death, na qual a roda de dança, que em momento algum do show parou ou deixou de ser agressiva, com direito a um gaiato de capacete com uma câmera acoplada no meio, supera o limite de velocidade determinado pelo grindcore. Mas para que tanta pressa, pessoal?Set list completo
1- Multinational Corporations
2- Silence Is Deafening
3- Everyday Pox
4- The Wolf I Feed
5- Unchallenged Hate
6- Suffer The Children
7- When All Is Said and Done
8- Errors in the Signals
9- Human Garbage
10- Success?
11- On the Brink of Extinction
12- Social Sterility
13- Protection Racket
14- Mass Appeal Madness
15- Scum
16- Life?
17- Deceiver
18- The Kill
19- You Suffer
20- Nazi Punks Fuck Off
21- Siege of Power
Clique aqui para ver como foi o show do Hatebreed
Tags desse texto: Napalm Death