O Homem Baile

Cada dia mais preciso e agressivo

Banda de abertura, Krisiun se impõe como atração de mesmo porte que o Cavalera Conspiracy no Rio; Confronto e Test agradam em “palcos” diferentes. Fotos: Bruno Eduardo (1 e 2) e Costábile Salzano Jr. (3 e 4).

Alex Camargo empunha o baixo no show do Krisiun: quanto mais faz show, mais o show fica melhor

Alex Camargo empunha o baixo no show do Krisiun: quanto mais faz show, mais o show fica melhor

Com o Krisiun é assim. Dê-lhe uma horinha para fazer um show e você não irá para se arrepender. Rotineiramente escalado como atração principal em festivais pelo mundo afora e também no Brasil, volta e meio o trio aparece com banda de abertura para turnês internacionais por aqui. Foi o que aconteceu nesta sexta, no Circo Voador, no Rio, e o grupo não só não decepciona antes do Cavalera Conspiracy como tem um repertório próprio e muito mais atual e vigoroso, sem depender de clássicos do Sepultura. E – o melhor – cada dia mais aprimorado em tocar música extrema com técnica, precisão e velocidade de impressionar mesmo aquele já afeito a esse tipo de contexto musical. Com o Krisiun não tem erro: é devastação sonora garantida.

A bem da verdade o Krisiun está devendo a gravação de um novo álbum – o mais recente deles é “The Great Execution”, de 2011 -, mas o fato de manter mais ou menos o mesmo repertório nesse período, por outro lado, contribui para o aprimoramento de um modo de tocar que depende essencialmente do treino. Assim, “Descending Abomination”, uma das recentes, já ganha vida própria e é apresentada de uma maneira diferente com a parte inicial mais cadenciada, porém não menos pesada, com o volume do som no talo. A música se transforma entre passagens velozes até morder o próprio rabo no encerramento, com a retomada da parte inicial. É uma das melhores performances do guitarrista Moyses Kolesne entre as mais recentes.

Velocidade cavalar: o guitarrista Moyses Kolesne debulha a guitarra e Alex Camargo se segura no baixo

Velocidade cavalar: o guitarrista Moyses Kolesne debulha a guitarra e Alex Camargo se segura no baixo

Em “Vengeance’s Revelation”, por sua vez, o domínio é de uma velocidade abissal, a custa do inacreditável batera Max Kolesne. Entre “Blood Of Lions”, outra das recentes, e “Bloodcraft”, Max ainda engrena um mini solo esbanjando preparo físico e – de novo -, técnica e precisão. Até aquela segurada nos pratos para interromper a vibração adicional ele mantém, em meio a um milhão de tarefas a executar a cada música. A abertura é com a colante “Ominous”, uma das preferidas da casa, e um discurso anti guerra, políticos e religiões é proferido pelo baixista/vocalista Alex Camargo antes da espetacular “Conquerors of Armageddon”, aquela do singelo verso/grito de guerra “Mate, mate, mate o Senhor Jesus!”. Tá bom pra vocês?

Identificado com a cena underground nacional, Camargo enaltece as bandas de abertura e o apoio dos fãs, antes de agradecer aos irmãos Cavalera “por ter colocado o metal brasileiro no mapa”. É uma fala que se repete ao longo da noite, mas os fãs, fiéis, adoram. O encerramento vem com a ancestral “Black Force Domain”, e o som parece que vai estoporar tudo o que é tímpano de tão alto – e isso é bom. A música é outra acelerada mais que o normal, se compararmos com a versão do álbum, e arranca aplausos de um público que passou aquela horinha boa se atracando em rodas de pogo sem fim. Nem parecia que era um show de abertura. É, com o Krisiun não tem erro.

Antes cedo do que nunca: Felipe Chehuan no feeling durante o show contagiante do Confronto

Antes cedo do que nunca: Felipe Chehuan no feeling durante o show contagiante do Confronto

O osso duro de roer ficou com o Confronto, que encarou a abertura da noite na hora da janta e com o público ainda chegando. Para se ter uma ideia, a quantidade de pessoas seguramente quadriplicou entre o início e o fim dos 40 minutos a que o grupo teve direito. Mas o quarteto não se intimidou: foi uma porrada atrás da outra que agitou a plateia, muito embora as tradicionais rodas só se abriram quando a lona encheu. Tanto que a consagrada “abertura do Mar Vermelho” se deu no encerramento, com “Santuário das Almas”, uma das melhores músicas do grupo, guiada por um riff à Slayer. Outra que cai bem ao vivo é “1 Hora”, quando o vocalista Felipe Chehuan colocar o microfone para os fãs cantarem o refrão grudento. Bons momentos também rolam quando o guitarrista Max Moraes se arrisca em alguns solos, em “Vale da Morte”, por exemplo, fato raro numa banda cujo linha mestre é o riff e o peso descomunal. Um show que começou devagar, mas que, no fim das contas, contagiou geral.

Com a configuração original, com o Kombão estacionado dentro do Circo Voador, o Test tocou em dois sets, entre as apresentações que aconteciam no palco. Explica-se que o grupo paulistano circula por aí com a Kombi cheio dos equipamentos e para em qualquer lugar para tocar de graça. Mesmo como duo, o grupo manda um metal extremo de vocal gutural e cavernoso e um baterista prodígio que dá gosto de ver tocar. Adicionalmente, a configuração armada ali, no meio do pátio do Circo, dá à noite a pecha de festival em que o rock não para, e foi assim, durante cerca de quatro horas divertidas, mesmo para quem sequer chegou perto da roda que circunda os rapazes. Nesse formato, nem dá para lembrar que o Test é uma banda incompleta que carece, ao menos, de um baixista. Até Jack White já descobriu isso.

Momento lindo: Test mandando o esporro básico no kombão e sob às bênçãos dos Arcos da Lapa

Momento lindo: Test mandando o esporro básico no kombão e sob às bênçãos dos Arcos da Lapa

Clique aqui para ver como foi o show do Cavalera Conspiracy nessa mesma noite

Set list completo Krisiun

1- Ominous
2- Combustion Inferno
3- The Will to Potency
4- Vicious Wrath
5- Ravager
6- Descending Abomination
7- Vengeance’s Revelation
8- Blood Of Lions
9- Bloodcraft
10- Conquerors of Armageddon
11- Black Force Domain

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