No Mundo do Rock

Overload Music Fest: Alcest traz ‘rock pesado de outro mundo’

Pela primeira vez no Brasil, grupo francês, com origens no black metal, desenvolve sonoridade etérea que o levou a gravar o novo álbum na Islândia. Foto: Divulgação

alcestSe não é possível definir o tipo se som feito pelo Alcest, o negócio é curtir a vibe da música. Parece clichê de banda que não quer ser identificada com nenhum subgênero do rock, mas foi esse o conselho dado pelo líder do duo (em estúdio), Neige (assim, mesmo, sem sobrenome), em um papo sem réplicas travado via e-mail com este Rock em Geral. O quarteto (nos palcos) é uma das atrações do Overload Music Fest, que tem a primeira edição no início de setembro, no Rio e em São Paulo.

No início, lá pelos idos de 2000, o Alcest era um projeto francês voltado para o black metal, mas hoje, quatro álbuns depois, pode ser associado ao shoegaze, ambient music e - forçando um pouco - até à new age. Para o disco mais recente, para se ter uma ideia, Neige partiu para a Islândia para trabalhar com o pessoal do Sigur Rós, e o disco têm sido associado ao pós punk etéreo dos Cocteau Twins. É tanta coisa rolando que o grupo se auto assume como “outsider”, seja em que contexto for.

Convenhamos que, com um histórico assim, mesmo quem não é um conhecedor da banda já se sente instigado com o show que eles vão fazer no festival. Imagine aqueles fãs - e não são poucos - que há anos cobram a vinda do Alcest ao Brasil. Ainda mais que a formação da apresentação - importante - está confirmada com o quarteto Neige (vocal e tudo o mais), Winterhalter (bateria), Zero (guitarra) e Indria (baixo). Veja abaixo a conversa com o boss Neige e tente entender o “rock pesado de outro mundo” do Alcest:

Rock em Geral: Essa é a primeira vez que vocês vêm ao Brasil. Quais são as expectativas sobre os shows do Rio e de São Paulo? O que você conhece sobre as bandas do rock brasileiro?

Neige: Sabemos que os brasileiros fãs do Alcest querem a nossa ida já há muito tempo, então estamos muito animados de finalmente poder tocar no Brasil. Mal podemos esperar, será muito bom tocar para os nossos fãs daí depois de tantos anos! As bandas programadas para Rio e São Paulo são ótimas, e esses shows serão eventos memoráveis. Sobre as bandas brasileiras, só conheço o Sepultura (risos).

REG: Vocês vão tocar com God Is An Astronaut, Swallow The Sun e Fates Warning. Acha que essas bandas soam familiares entre elas, se você não pensar só na música, mas também nos fãs?

Neige: Bem, acho que essas bandas são diferentes entre si, mas todas elas dividem características comuns em sua música. Por exemplo, God Is An Astronaut e Swallow The Sun não tocam o mesmo tipo de música, mas as duas têm uma abordagem melancólica em suas melodias.

REG: Já pensou nas músicas que vocês vão tocar? O repertório será baseado principalmente no disco novo, “Shelter”, ou há planos de tocar as coisas “das antigas”? E qual será a formação da banda nesses shows?

Neige: Sabemos que um monte de gente também gosta de ouvir o material antigo, então tentamos ter um set list diversificado, com músicas de todos os álbuns. A formação da banda será a mesma de sempre (Neige, Winterhalter, Zero e Indria).

REG: Desde o primeiro disco até o mais recente, o som produzido pelo Alcest é identificado com uma gama diversa de influências. O que tem feito a cabeça de vocês durante todo esse tempo para fazer música assim? O estúdio é um aspecto importante no processo?

Neige: Eu ouço muitos tipos de música, mas sempre tento não ser muito influenciado por isso quando vou compor para o Alcest. Mas foi diferente no “Shelter”, porque eu fui muito influenciado pelo Slowdive (banda britânica) na hora de compor esse disco. Minhas influências com o Alcest vêm de fora do mundo da música. Claro que a espiritualidade é o principal, mas posso sem bem influenciado pela natureza, filmes e sentimentos humanos como amor, nostalgia, etc.

REG: Mesmo sendo uma banda diferente, mais ligada ao post rock, o Alcest está sempre na programação de festivais de heavy metal. Como a banda circula num mundinho tão fechado, mesmo fazendo um tipo de som tão diverso quanto distante dos clichês do metal?

Neige: Bem, no fim das contas sempre somos a “menos metal” das bandas nos festivais de heavy metal. E é muito estranho tocar com bandas de death, heavy ou black metal, nos sentimos como “outsiders”. Mas também nos sentiríamos como “outsiders” se tocássemos em festivais de bandas de post rock, porque temos influências do heavy metal na nossa música. Dificilmente o Alcest pertence a algum gênero, então fica difícil ser programado em festivais com outras bandas.

REG: Muita gente também vincula o som do Alcest à cena shoegaze, apesar das raízes pesadas. É um modo correto de descrever o som que vocês fazem?

Neige: Como eu disse, a música do Alcest não pertence a nenhum gênero especificamente, uma vez que eu não tenho fronteiras estéticas na hora de fazer música. Eu realmente não sei como descrever isso (o som do Alcest), talvez seja um rock pesado, viajante, nostálgico e de outro mundo. Sei lá. Em vez de tentar rotular, as pessoas deveriam só ouvir o som como ele é.

REG: “Shelter” foi produzido no estúdio do Sigur Rós, na Islândia. Como rolou de fazer o disco lá e como você vê esse disco, em termos de produção e arranjos, olhando agora, quase um ano depois de ele ter sido feito?

Neige: Ir para a Islândia gravar o “Shelter” foi uma experiência e tanto, adoramos. Na verdade sinto muitas saudades de lá, as paisagens, as pessoas. Esse país é como um mundo diferente. Queríamos ir até lá porque sabíamos que o país iria ser inspirador para nós e porque Biggi (Birgir Jón Birgisson), o produtor, saberia como fazer esse disco conosco. Ele costuma trabalhar com esse tipo de som, já que trabalha muito com o Sigur Rós. Não consigo ter uma visão objetiva desse disco, continua sendo uma coisa muito nova para mim.

REG: A música “Délivrance” é um tipo de obra-prima, quase uma suíte ambient/progressiva. Como vocês bolaram essa música? Estava nos planos gravar uma faixa nesse formato?

Neige: Eu tinha esse riff guardado há um tempão, o longo riff do final, mas ele não encaixou nos discos anteriores do Alcest. Então guardei separado e usei durante a composição do “Shelter”. A música foi feita bem rapidamente, e eu sabia que ela seria bem especial. Eu adoro essa música, é uma das canções mais emotivas do Alcest e nós sempre terminamos os shows com ela. Tem realmente um grande impacto.

OVERLOAD MUSIC FEST

O Overload Music Fest acontece no Rio e em São Paulo, em setembro. Os shows acontecem no Teatro Rival, no Rio, nos dias 4 (Alcest e God Is An Astronaut) e 5 (Fates Warning e Swallow The Sun,); e no Via Marques, em São Paulo, no dia 6, com todas as bandas reunidas e ainda a nacional Labirinto. Ainda há ingressos para as três noites. Clique aqui para saber como comprar as entradas para os shows do Rio, e aqui para o shows de São Paulo.

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