O Homem Baile

Bigorna boa

Killswitch Engage ensurdece público em uma das noites mais pesadas do Circo Voador; Battlecross mostra thrash renovado e Memphis May Fire é exemplo de como não se deve fazer metal. Foto: Daniel Croce.

killswitch14-1É o intervalo para o bis que irá encerrar uma das noites mais barulhentas do Circo Voador em todas as épocas e a voz que vem lá de trás dos bastidores canta versos da música “Rio”, do Duran Duran. Essa é a vibe entre os integrantes do Killswitch Engage, encantados com a primeira vez em que o grupo toca na Cidade, no gogó de Jesse Leach. Antes, o guitarrista – e fanfarrão – Adam Dutkiewicz já tinha convidado o público para, após o show, enterrá-lo na areia da praia. Não era só a primeira vez no Rio, mas, também, o último show da turnê pela América do Sul, e o último show da turnê do álbum “Disarm the Descent”, lançado no ano passado e que marcou justamente o retorno de Leach ao posto de front leader da banda. Um bom motivo para se brindar antes do arremate, no bis.

Porque, até então, o couro comeu sem dó com toneladas de riffs ultra distorcidos despejados sobre os tímpanos de um público ralo, é verdade, mas plenamente participativo. O grupo se aproveitou da boa qualidade do som do Circo (que não encontrara no Monsters Of Rock do ano passado, em São Paulo; veja como foi) e mandou um set conciso que exalta um som de guitarra distorcido e por vezes melódico bem peculiar. E Jesse Leach pode, também, cuspir tijolos embrulhados em arame farpado como costuma fazer sem muita cerimônia. Lembre-se que o Killswitch teve sua melhor fase dentro do mainstream com o vocalista Howard Jones, com direito a indicação ao Grammy e o escambau, e que, ao voltar, Leach, mesmo tendo participado das formações iniciais do KE, teria que suar um bocado para superar desconfianças. Depois do show deste domingo, pode colocar o carimbo de aprovado no sujeito.

Das 18 músicas tocadas – às vezes são 20 -, as seis do novo álbum incrementaram o show do ponto de vista de velocidade, uma vez que “Disarm The Descent” é um dos discos mais rápidos do grupo, daí tanta música ser tocada em pouco mais de uma hora. Uma das melhores é “A Tribute to the Fallen”, uma paulada das boas que tem em um refrão com vocais limpos, outra das características do Killswitch: o de ser grudento, ainda que sob um esporro do cão. Acontece também em “New Awakening”, esta menos veloz, mas com um festival de guitarras melódicas em segundo plano que antecede atmosfera tensa. O som a essa altura é pressão total e o público segue agitando sem parar. “Beyond The Flames”, outras das novas e aceleradas, tocada logo no início, colada em “This Absolution”, dispara os braços erguidos em coreografia e a cantoria por parte do público.

O set tem sequência matadoras, com músicas coladas uma nas outras que tiram o fôlego dos batedores de cabeça, mas jamais o de Jesse Leach. A trinca poderosa “The Arms of Sorrow”/“Breathe Life”/“No End In Sight”, sendo que nas duas primeiras Leach precisa encarnar Howard Jones, desencadeia uma vistosa participação no meio da plateia. É som do tipo “todo o peso do mundo caindo sobre a sua cabeça”, e é isso que o povo quer. A urgência do show só é interrompida em pequenos intervalos nos quais o grandalhão Dutkiewicz sai do roteiro fazendo rir, o no final, antes do bis. Aí é a hora da boa “My Curse”, em tese menos porrada, mas que ao vivo não nega fogo, e da clássica “The End Of Heartache”, a tal indicada ao Grammy, há quase 10 anos, cantada por todo mundo. Quem passou o domingão sob a lona no Circo Voador seguramente está com o ouvido zumbindo até agora. E isso é bom.

Porque o aquecimento, já esporrento, começou com meia horinha com o Battlecross, uma grata revelação – ok, a banda já tem uns 10 anos – do thrash metal americano que não poupou peso e velocidade em seis músicas próprias. O repertório foi completado pelo cover de “War Ensemble”, do Slayer, que superou e muito a versão original, em termos de peso, de modo que teve gente no meio do público que custou a sacar que era um clássico. O vocalista Kyle Gunther, o último a entrar nessa formação, com pouco físico e muita barba, tem o controle do público, muito embora o som por si só comande a massa. As mais legais são “Forced Fed Lies”, a mais porrada entre as porradas, e “Push Pull Destroy”, traduzida pelo próprio título e que abre os trabalhos numa pressão tensa e desesperadora.

Entre uma banda e outra, o Memphis May Fire mostra como se usa a música pesada do modo errado. O som, pesadíssimo, é claramente identificado com o metal core, mas a postura do grupo, do tipo “sujeitos de banho tomando esperando a mãe para levar para a escola” chega a ser patética. O vocalista Matty Mullins e seu cabelinho penteado mais parece um bailarino em transe, além de pedir o tempo todo para que o público faça isso ou aquilo. Ora, é a música por si só que comanda os movimentos de uma plateia em um show de rock. A menos que ela – a música – não tenha essa força. Musicalmente falando, o MMF não consegue esconder os ancestrais emo e as vocalizações/efeitos de voz sugadas do Linkin Park. Ainda com referências ao Korn fase demodê, o grupo não tem sequer uma única música boa, e passa 45 minutos em um exercício aeróbico estéril que mais parece uma micareta metálica.

Set list completo Killswitch Engage

1– Fixation On The Darkness
2– This Is Absolution
3– Beyond The Flames
4– The Arms of Sorrow
5– Breathe Life
6– No End In Sight
7– Rose of Sharyn
8– This Fire Burns
9– Life To Lifeless
10– Always
11– A Tribute To The Fallen
12– Numbered Days
13– A Bid Farewell
14– New Awakening
15– My Last Serenade
16– In Due Time
Bis

17– My Curse
18– The End of Heartache

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Miguel Angelo em agosto 27, 2014 às 0:06
    #1

    Concordo plenamente sobre a Battlecross! Uma gratíssima revelação - o vocalista é muito fera!
    Mas, afirmar que o Memphis May Fire “não tem sequer uma música boa” é uma opinião muito particular sua e, na verdade, provavelmente influenciada pelo seu gosto, meu caro. E gosto, cada um tem o seu, ora.
    Eu, que também estive presente no show, vi foi muita gente curtindo muito o show do Memphis, cantando as músicas e talz. Alguns colegas meus até foram o Circo por conta dela.
    O que eu achei bem legal nessa noite foram as nuances bem diferentes das três bandas. Muito bom!

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