Bola é Bola Mesmo

Dunga, os rotos e os esfarrapados

CBF não quer mudar nada, por isso costuma chamar quem já passou por lá e não escangalhou a engrenagem. Foto: Divulgação Rafael Ribeiro/CBF.

dungaQuando Dunga foi chamado para comandar a Seleção Brasileira em 2006 fiquei bravo, porque ele simplesmente não era técnico. Contava com a queda dele antes da Copa de 2010 e a consequente substituição por um técnico de carreira. Hoje, dou de ombros. Dunga é técnico e vai armar uma boa seleção dentro de campo.

Não vai haver mudança alguma na Seleção Brasileira porque a CBF não quer. E a CBF não quer porque, com ou sem sete a um, fatura rios de dinheiro com a Seleção, usando a mão de obra lapidada por terceiros, no caso os clubes. Do ponto de vista da Seleção, para a CBF, não há o que mudar.

O que tem que mudar é a gestão do futebol brasileiro, é preciso ter uma liga forte que se sustente. Para isso, não está interessada a CBF, e os clubes, que seriam os maiores interessados, não conseguem se organizar a ponto de montar, eles próprios, sua liga. Tentaram em 1987 e até hoje não se sabe de quem é a taça.

Com tudo de ruim que todos sabemos que existe no futebol brasileiro - e não é pouca coisa - a rigor a Seleção vai muito bem obrigado. E não me refiro agora ao lucro dos dirigentes da CBF. Com todos os defeitos, o Brasil é o país mais bem sucedido em todos os tempos se considerarmos os resultados das Copas do Mundo. E a Alemanha, quase sempre bem organizada e gerida, vem depois. Assim é o futebol.

Assis como nas vitórias em Copas os cartolas tentam tirar todo o tipo de vantagem para se manter no poder, nas derrotas a parte da crônica esportiva mais aguda aproveita para enfatizar a necessidade de mudanças. Faz sentido, mas o desejo de mudança e o olhar crítico não pode parar, precisa independer de resultados. Tem que ser o ano todo. Mas nosso jornalismo esportivo é tendencioso e clubístico, salvo raras exceções. Merecem tantas críticas quanto às desferidas aos cartolas. São rotos falando de esfarrapados.

Conservadora, a CBF não quer mudar nada, muito menos em sua galinha dos ovos de ouro, e por isso chama Dunga. Não por causa das características do profissional Dunga, mas porque Dunga é facilmente domesticável e adaptável ao jeito CBF de ser. Já passou por lá e não atrapalhou. Como Zagallo, Parreira e Felipão, técnicos que foram e voltaram ao comando da seleção de 1970 para cá. Ganharam e perderam. Pouco importa.

Disse que Dunga vai montar um time competitivo e vai mesmo. Chegou dizendo que a seleção dos sete a um ou a seleção quarta colocada em 2014, como queiram, “não é terra arrasada”. E adorou quando um repórter sugeriu a realização de treinos fechados para a Seleção, depois aguenta. Dunga é competitivo. Dunga não é burro. Dunga detesta os privilégios dados à Globo. E ao menos isso é bom.

Quanto às mudanças pelas quais precisa passar o futebol brasileiro, não contem com a CBF. Elas devem partir de Brasília, de cara com a criação de uma agência reguladora do futebol e com um controle maior dos clubes sobre o Brasileirão, nosso grande produto futebolístico. Deixemos, por hora, a Seleção com a CBF e nos concentremos em uma Liga minimamente organizada que logo ela será forte.

E não me venham com a conversa de que a Alemanha tem vários centros de treinamentos e assim revela mais jogadores. Isso o Brasil tem muito mais. Cada clube tem o seu centro revelador de mão de obra em todas as divisões. Revelamos muito mais, craques e não craques. Só não somos organizados nem temos dinheiro para fazer gerar mais dinheiro.

Para não dizer que não falei de bola rolando, que é o que interessa, no retomado Brasileirão não sou dos que sentem falta da Copa, muito menos de um Irã versus Nigéria. Nas duas primeiras rodadas, golaços à rodo. Só o Conca fez dois, o sujeito do Sport fez um a la Pelé, o São Paulo meteu um de Barcelona e o Cruzeiro voltou a brilhar com um belo tento de Éverton Ribeiro. Tá bom. Deixa o charme de uma Copa do Mundo para a próxima Copa do Mundo.

Até a próxima que, se a torcida quer tirar jogador do time, é só bater que o Flamengo manda embora!

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