Bola é Bola Mesmo

Linchamento

Depois do futebol, o esporte favorito dos brasileiros é bater em cachorro morto, sobretudo depois de eliminações em Copas do Mundo. Sempre foi assim. Foto: Divulgação FIFA.

felipaoalemanhaDava para ter dó de Paulo Vinícius Coelho na noite em que o Brasil levou os sete a um. O comentarista apareceu no “Linha de Passe”, programa de análise do futebol da ESPN Brasil, no estúdio montado na Granja Comari, se dizendo triste pelo vexame, ao lado de Juca Kfouri, que se admitia anestesiado, poucas horas após a eliminação do Brasil.

Do outro lado da tela, no estúdio da emissora paulistana, os abutres esfregavam as mãos para descer o cacete na seleção brasileira, sobretudo na comissão técnica. E tem sido assim durante toda a Copa. O pobre do PVC fazendo jus ao seu trabalho jornalístico, e os outros sujeitos o encurralando a custa da crítica pela crítica. Certa vez, Paulo Vinícius teve que dizer que não é “advogado de Felipão”, já que fora colocado repetidas vezes por seus colegas de bancada nessa posição.

Detonar tudo e todos na seleção brasileira é hábito contumaz na imprensa brasileira. Sempre foi assim. É esporte nacional apontar culpados e concluir que, na vitória todos são heróis e, na derrota, nada presta. É assim o Brasil. É assim o brasileiro. E ainda há a máxima de que, quando se vence, a vitória é mérito dos jogadores; quando se perde, a culpa é do técnico. Não, eu também não sou advogado do Felipão, e sim, eu também procuro explicações melhores que estas aqui para os sete a um.

Sinceramente, não via, quando escolheram Felipão e Parreira para comandar a seleção na Copa do Mundo no Brasil, outros nomes. Para mim, só eles teriam as costas largas o suficiente para aguentar toda a pressão e preparar uma seleção jovem demais, com poucos jogadores rodados em Copas, para disputar o título no Brasil. Faltando dois anos para a Copa, dentro do conservadorismo da gestão do futebol brasileiro, seria um risco gigante tentar ousar com algo diferente. Não dava para inovar coisa alguma.

Agora, depois da maior vergonha que já passou a seleção brasileira, dá. Agora, é fácil chegar aqui e detonar o técnico a torto e a direito. Mas prefiro olhar o lado cheio do copo. Se o Brasil ficar na quarta posição deve se contentar com uma colocação que não viu nas duas últimas Copas, com equipes mais rodadas e bem preparadas. Foi o que deu para fazer. A manutenção de Felipão é insustentável no comando da seleção e a única explicação para ele não ter saído de imediato é o jogo deste sábado, contra a Holanda.

Dizem que não vale nada, mas se perder, e dependendo do placar, a coisa ainda piora. Por isso, nesse desfecho que muitos tratam como melancólico, Felipão sabe que precisa vencer, daí a emergencial colocação de panos quentes ilustrada naquela entrevista com a comissão técnica que foi unanimemente defenestrada pelas redações Brasil a fora. Felipão deve sair, sim, mas é um técnico de futebol como outro qualquer, que vai seguir trabalhando em um time ou outro. Pode até voltar a treinar seleção – onde ganhou e perdeu, diga-se – assim como Parreira, que sofreu um revés em 2006.

Naquela ocasião, inclusive, ninguém apareceu para explicar a derrota de uma a zero – eu disse um a zero - para a França. E apanharam os cachorros mortos como apanham agora. Disse que Felipão deve sair porque o pós-sete a um é insustentável, não por ser o treinador um incompetente. Muito menos os profissionais que lá estão. Não se pode crucificar um preparador físico, um médico, um roupeiro, por uma derrota. Muita calma nessa hora.

Nossa imprensa passou anos tentando livrar a cara do goleiro Barbosa pela culpa na derrota de 1950, imputada – vejam vocês - pela própria imprensa. Ora, não vamos repetir esse equívoco, nem com os jogadores nem com Felipão nem com quem trabalhou lá nessa Copa do Mundo no Brasil. Sim, todos temos os nossos vilões, as nossas preferências.

O bom meia Fernandinho, campeão inglês, por exemplo, participou de três – eu disse três – entregadas de bola que resultaram em três – eu disse três – gols da Alemanha. O bravo David Luiz estava irreconhecível, decidido a ser o salvador da Pátria e entregando, sem saber, mais ainda o jogo aos alemães. Sem o capitão Thiago Silva, se perdeu por inteiro.

São apenas dois exemplos pontuais de um fracasso (a tal pane, leia mais) generalizado, mas eles vão – e devem – seguir suas brilhantes carreiras no futebol internacional. Se estiverem jogando bem daqui a quatro anos, terão experiência para contribuir com o Brasil na Copa de 2018. Antes disso, devem ser convocados para outras competições como a Copa América, já no ano que vem. Sim, a vida segue, meus amigos.

Mas não era isso que eu queria dizer. Queria falar das coberturas de TV nessa Copa, e por isso comecei citando PVC e seus confrades da ESPN. Só que o a papo rendeu e eu me prometi não postar, nessa coluna, textos tão extensos a ponto de serem abandonados pela metade por quem está do outro lado da do LCD. Deixemos, então, as mazelas das TVs para outra oportunidade.

Até a próxima que tem jogador argentino se rasgando todo pra evitar gol nessa Copa!

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