Bola é Bola Mesmo

Estourou

Ninguém supunha que a pressão nos jovens jogadores brasileiros fosse acabar em um apagão de seis minutos e quatro gols. Foto: Divulgação FIFA.

davidluizalemahaNem 200 milhões de ombros amigos consolariam o choro do bravo David Luiz como ele fizera, no jogo anterior, com James Rodriguez. O choro após a derrota de quem chegou tão perto de um objetivo, no esporte, é normal. Excepcional é o que aconteceu ontem, no Mineirão, e da forma mais dura e cruel para quem tem 100 anos de história como a seleção brasileira, a maior parte dele como grande vencedora.

O que aconteceu ontem, o inacreditável placar de sete a um - não se enganem – jamais foi registrado em uma Copa do Mundo, muito menos em uma semifinal do futebol contemporâneo. Jamais aconteceu com a seleção brasileira, com a alemã ou com qualquer um dos 28 jogadores que entraram em campo, jogando em clubes. E, também – podem anotar - nunca mais voltará a acontecer.

Por que, então, aconteceu? Aprendemos com o Mestre que muita coisa no futebol vem através do imponderável, e o que aconteceu ontem, com a seleção brasileira, entre os 23 e 29 minutos do primeiro tempo, foi uma pane, um apagão que encheu as redes de Júlio César com quatros gols e acabou com o jogo. Um apagão tão escuro que deixou perplexos e sem capacidade de reação jogadores, treinador, comissão técnica, eu, você e o vizinho de cima que me deve 500 Euros desde o ano passado.

Imagine que, nesses seis, sete minutos, Felipão não teve reação sequer para ficar de pé e passar uma inútil orientação, reclamar do juiz ou algo semelhante como lhe é peculiar. Nenhum jogador conseguiu, como Didi em 1958, colocar a bola embaixo do braço e esboçar uma reação. Nem uma contusão cinicamente simulada para esfriar a partida passou pela cabeça de alguém. Nem os alemães pareciam crer no que acontecia.

Com um olhar mais amiúde, contudo, dá pra cravar flagrantes erros de passe desse ou aquele jogador, que resultaram nos gols alemães. Mas a análise, a essa altura, ante a pane que determinou o inesperado resultado da partida, perde relevância. Por outro lado, como se fosse possível a edição on line da vida real, se subtrairmos os fatídicos seis, sete minutos, apareceriam, nos melhores momentos, o início do Brasil, no ataque, e a brava tentativa de reação no início do segundo tempo, com várias chances claras de gol. Mas isso, ante a constatação do apagão, pouco importa.

Pouco interessa também dizer que não jogaram o fino os alemães, foram os brasileiros que entregaram o jogo de bandeja. E que mesmo se estivessem Thiago Silva e Neymar no gramado, de nada adiantaria. Seguramente o zagueiro não deixaria Tomas Muller abrir o placar com os pés, em uma bola cruzada alta na área, e talvez nosso craque fizesse uma ou duas jogadas geniais que resultariam em gol. Mas o apagão, ainda assim, estaria lá. Porque tinha que ser assim. Porque assim é o futebol.

Sabemos todos que Copa do Mundo se vence com seleções cascudas, cujos jogadores já tenham jogado outras Copas. Dessa vez, entretanto, acreditamos que com uma seleção jovem, só por jogarmos em casa, e por ser o Brasil a camisa mais pesada do mundo, poderíamos mudar essa máxima do futebol que segue se impondo. Não tínhamos, também, outra alternativa. Não deu certo.

Era notório que nossos rapazes, inexperientes, estavam pressionados e, apesar dos exaustivos debates em torno do tema, ninguém supunha que tudo fosse estourar assim, em uma humilhante goleada jamais registrada nos anais do futebol de uma Copa do Mundo. Nossos rapazes foram bravos, mas não suportaram o excesso de juventude e a tal inexperiência em Copas. Coisa que só poderá ser modificada daqui a quatro anos.

A Alemanha – repita-se – não está jogando essa bola toda. Mas, como a análise feita no caso da Argentina de Messi (veja aqui), têm os alemães as derrotas anteriores nas costas que lhes dão estofo para levar o caneco. Grandes vitórias em Copas acontecem depois de derrotas nas mesmas Copas. Foi assim com o Brasil de Dunga, que fracassou em 1990 para triunfar em 1994. E pode ser assim com a Alemanha, que, com uma mesma geração fracassou em casa em 2006 e depois em 2010. Pode ser a hora deles, sim.

Assim como, na gelada Rússia, com um Brasil mais rodado, novos craques, um Neymar cascudo com 26 anos, pode o Brasil vencer de novo. Muito embora o placar de sete a um jamais seja esquecido. Antes, no sábado, cabe a esse time, mesmo em frangalhos, honrar a camisa na disputa pelo terceiro lugar. E nós, brasileiros, em meio à ressaca plena, podemos cantar vitória por outro fato, de certa forma inesperado: a boa realização dessa espetacular Copa do Mundo no Brasil.

Até a próxima que é gol da Alemanha!

Resultado de 8/7/2014
Brasil 1 x 7 Alemanha

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