Bola é Bola Mesmo

Comoção

Jovem Seleção Brasileira passa o maior sufoco de todas as Copas e vai as quartas de final com goleiro no papel de herói. Fotos: Divulgação FIFA.

hulkchileEu disse que ia ter drama a partir da última rodada da fase de grupos. Mas não esperava que fosse assim. Eu disse que o Chile dessa Copa no Brasil é o melhor Chile de todas as épocas e apontei os chilenos como candidatos à surpresa da Copa, antes de a bola rolar (veja aqui). Mas não achava que fosse acontecer assim. Nem eu, nem os brasileiros, nem os chilenos. Tudo indicava que o Brasil passaria – e passou – mas ninguém, eu disse ninguém achou que esse reles jogo de oitavas de final fosse oferecer um meio tão dramático para um desfecho tão óbvio.

Nunca se viu, na história das Copas, o Brasil ser inteiramente dominado, sobretudo em um jogo de oitavas de final e anda mais por uma equipe tradicionalmente mais fraca. Foi o que aconteceu na metade do segundo tempo, quando o Chile só não marcou o segundo gol porque, de certa forma, ele próprio, incrédulo, não conseguia acreditar em sua superioridade. E apostava em espécie de superação de resistência típica do nosso continente.

Não era para ser assim. No início, foi melhor o Brasil, dominando as ações com um Neymar jogando muito e sendo perseguido duramente pelos adversários sem que o árbitro reagisse com a mesma dureza com as armas que possui: os cartões amarelos e vermelhos. Se o gol não foi um primor estético, abriu a porteira para os que deveriam vir depois, como sempre acontece em jogos Brasil versus Chile.

Eis que surge, então, a fatalidade. Numa falha bisonha de Hulk, assistido por quase toda a defesa, o Brasil leva um gol ocasional, de lateral, e tudo se desmorona. O intervalo, uma bênção para se arrumar times desequilibrados, de nada serve, e o cenário na segunda etapa, para mim, é o pior do jogo durante quase todo o tempo: seu time acuado por outro só esperando para tomar a virada.juliocesarchileNeymar, súbito, desaparece no jogo, por motivos que estão sendo investigados pela inteligência da polícia federal. Assim, o Brasil pouco faz, a não ser em iniciativas valorosas de Hulk que resultam em gol de canela/joelho invalidado cruelmente pelo árbitro; se duas interpretações eram cabíveis, por que não a nosso favor? Com a manutenção do empate, a prorrogação também manteve, sob uma soalheira danada, um jogo esparso e sem pé nem cabeça que foi parar na famigerada disputa por pênaltis.

Que o time não jogou bem todos os comentaristas já sacramentaram, embora a maioria não tenha explicado o porquê (eu, por exemplo, não compreendo o sumiço de Neymar na segunda etapa). Mas, no geral, teve o Brasil seguramente as melhores chances de gol, ainda que esporádicas. E digo isso sem rever o jogo ou ser uma olhadinha no escalte. Tire o tirambaço de Pinilla na trave no apagar das luzes e a excepcional defesa de Júlio César em um chute de Aránguiz e nada sobra da equipe chilena.

Ocorre que o Brasil é um time muito jovem para disputar uma Copa com a obrigação, maior que todas as épocas, de vencer. Vocês podem achar que não, mas isso faz toda a diferença. Mesmo o capitão Thiago Silva, reconhecidamente um dos melhores jogadores mundo, com seus 29 anos, jamais havia jogado uma partida de Copa como titular. Neymar e Oscar, então, com seus 22 anos bem vividos, estão em situações pelas quais jamais passaram.

Mas para a Copa no Brasil, 64 anos depois de um fiasco monumental, o time que temos e que tem que vencer – não há alternativa – é esse, e o Brasil que se vire. Não há alternativa – repito - mesmo porque para outra Copa no Brasil acontecer vai demorar um bocado. Ou seja: é esse time instável que vai fazer a gente sofrer até o fim. Não vejo outro roteiro para se chegar ao desfecho que a História espera, com o Brasil campeão no Maracanã.jamesrodriguezuruguaiNão adianta. Quem vai aos pênaltis só passa se o goleiro salvar a lavoura. E Júlio César salvou. Não era essa a redenção que eu esperava dele. Ou, por outra, não era para ser precocemente nas oitavas de final, mas sim na decisão do título. Contudo, precisou-se dele e ele estava lá. Sua dívida com a História, porém, ainda não foi saldada, por mais que seja cruel reconhecer isso. Ela só se extinguirá com o título.

Em todas as Copas sempre acredito que a arbitragem é minimamente caseira, como já disse aqui. Ou seja, na dúvida, o apito é pró-país sede. Pois não foi o que aconteceu ontem. Fosse assim, seria validado o gol do Hulck, em jogada de dupla avalição e o bom árbitro Howard Webb teria distribuído cartões nos perseguidores de Neymar. Porque é assim que se protege o craque. Talvez tenha sido essa a resposta da arbitragem para a péssima repercussão do jogo de estreia contra a Croácia e agora tudo volte ao normal. Sim, vamos precisar da arbitragem caseira de todas as Copas.

Na partida de fundo, venceu a Colômbia com a autoridade de quem sabe jogar bola. Os dois golaços de James Rodriguez dão à vitória ares de incontestáveis. O primeiro, uma extraordinária pintura pessoal que se junta aos gols de Van Persie e de Cahill como os três mais bonitos da Copa, e, o segundo, pela jogada de um time ajustadinho. Como o do Chile, só que com melhores jogadores.

Tentou a reação o Uruguai, mas não havia como. É um ex-time em atividade já há muito tempo. James Rodriguez, o cara do jogo, é agora o artilheiro e possivelmente o craque da Copa. Tem os mesmos 22 anos e não carrega sobre os ombros o peso depositado nas costas de Neymar e Oscar, nascidos no mesmo ano. Depois de serem eliminados pelo Brasil nas quartas de final, onde a Colômbia jamais chegou em uma Copa, ele e seus colegas de equipe serão recebidos como heróis pelo povo colombiano. Podem anotar.

Já vai tarde. Jamais torço contra os uruguaios e, inclusive, enalteci a mística da celeste em outra coluna (leia aqui). Mas, após o caso Suárez os uruguaios, dos jogadores aos torcedores, do valoroso técnico Óscar Tabárez ao simpático Presidente Mujica, adotaram um discurso de vítimas que os transformaram em grandes chatos de galochas. Vão logo embora daqui e levem com vocês o mau agouro do fantasma de 1950.

Até a próxima que agora é que o bicho tá pegando de verdade!

Resultados de 28/6/2014
Brasil 1 x 1 Chile (3 x 2 nos pênaltis)
Colômbia 2 x 0 Uruguai

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