O Homem Baile

Esfacelado

Angra sofre com formação irregular e com problemas técnicos, segue revendo sucessos e é abraçado por fanática plateia no Circo Voador. Fotos: Daniel Croce.

O ótimo vocalista e performer Fabio Lione acaba exagerando ao chamar a participação do público

O ótimo vocalista e performer Fabio Lione acaba exagerando ao chamar a participação do público

Menos de um ano depois do último show no mesmo Circo Voador (veja como foi), o Angra voltou ao Rio no domingo (1/6) para o encerramento da atual turnê no Brasil. Após um giro na Europa em setembro, o quinteto promete, enfim, gravar um álbum de inéditas. Ao mesmo tempo em que se despede do baterista Ricardo Confessori, cujo contrato não será renovado, o Angra confirma o vocalista Fabio Lione, que entrara provisoriamente em 2012, ao menos para esse próximo trabalho. Mesmo que sua voz nada tenha a ver com a do quinteto no formato de origem – Lione é um tenor que jamais atingirá as notas altas das músicas da fase inicial, sem efeitos pré-gravados – o vocalista se sai muito bem, sobretudo nas músicas da segunda fase, do álbum “Rebirth” para cá. O problema é que ele parece sofrer de uma espécie de “síndrome de Bruce Dickinson” e fica o tempo todo pedindo ao publico para participar. Ora, consagrado no Rhapsody e em várias outras bandas, e depois de uns dois anos no Angra, Lione é ótimo cantor/performer e não precisa provar mais nada. Deixe que músicas em si façam o show funcionar.

É o que acontece, por exemplo, no início fulminante com “Angels Cry”, apesar de o vocalista trocar a força do palco por um espacinho na arquibancada; em “Make Believe”, uma das duas cantadas por Rafael Bittencourt, numa versão diferente da original, mas que arrebata a plateia do meio para o final, como todas as baladas deveriam fazer; e “Millenium Sun”, quando Rafael e Kiko Loureiro, o outro guitarrista, têm direito a excelentes solos individuais. Se há uma coisa no Angra que não soa como uma colcha e retalhos mal costurada é a dupla de guitarristas. Eles continuam mandando ver no palco com a garra de iniciantes, mas com o peso da experiência de veteranos que superam obstáculos para manter o Angra em ação. As performances deles em músicas como “Time” e “Waiting Silence”, só para citar duas, é coisa de fazer chorar até quem não é do ramo. Uma pena que o grupo sofra tanto com problemas técnicos no som – o show é interrompido varias vezes por conta disso – e continue sem um tecladista no palco, o que leva ao uso indiscriminado de suspeitos temas pré-gravados. Fica a dúvida sobre o que é e o que não e ao vivo.

Os guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt arrebentam e são, hoje, a essência do Angra

Os guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt arrebentam e são, hoje, a essência do Angra

Ocorre que nada disso – as partes boas ou ruins da noite - é percebido pelo bom público que enche o Circo Voador num preguiçoso domingo à tarde sob chuva rala. A sensação é a de que cada um ali faz parte de fã clubes a ponto de praticamente todas as músicas serem cantadas em uníssono. E não apenas hinos do metal nacional que conquistaram o mundo como a já citada “Angles Cry” e “Carry On”, até a introdução gravada de “Acid Rain” sai do gogó da plateia com uma força extraordinária. O leiaute do Circo Voador é crucial para fazer o show virar uma tremenda panela de pressão de puro apoio para cima do palco. Não por acaso Rafael Bitencourt diz que o quinteto fez questão e voltar ao Rio nessa turnê, muito por causa da contagiante participação do público carioca. Nessas condições, só mesmo a banda pode estragar um show.

E é exatamente o que o Angra faz quase no final da noite, ao colocar dezenas de fãs sobre o palco, enquanto os integrantes se dividem em discursos fúteis e redundantes, que incluem apresentações desnecessárias e até a “fala” de roadies e – acredite – do empresário. Na festinha particular do encerramento da turnê, o grupo toca “Back In Black”, do AC/DC, com os instrumentos trocados, e nenhum dos fãs consegue cantar um trecho sequer da música; são fãs do Angra e de mais nada, afinal. Durante cerca de 20 minutos, uma meia dúzia de três ou quatro se diverte enquanto a massa tem que renovar a reserva de paciência para aproveitar a parte final do show, que dura cerca de 2h30. Esperto, Fabio Lione se refugia no camarim para não pagar esse mico e só volta para as músicas finais.

Rodízio: o baterista Ricardo Confessori, de saída, toca guitarra enquanto Rafael assume o baixo

Rodízio: o baterista Ricardo Confessori, de saída, toca guitarra enquanto Rafael assume o baixo

O repertório é bem parecido com o de julho do ano passado, e tem como novidade a inclusão do cover para “Still Of The Night”, do Whitesnake, quando Lione volta a cantar de cima da arquibancada. Foi a primeira vez, de acordo com o cantor, que e o grupo tocou a música, que, no entanto, tem morna recepção por parte do público. O set acústico também foi suprimido, por conta do extravio de um violão no voo que trouxe o grupo de Rio Branco, no Acre, o que, de todo o modo, não chega a ser ruim. Urge agora que o Angra se refaça como banda de verdade, com a entrada do novo baterista, Bruno Valverde (saiba mais) e com a confirmação, em estúdio, de Fabio Lione, e lance um novo álbum, com material inédito. Coisa que – de fato – não acontece desde o fraco “Aqua”, de 2010. Se prosseguir revivendo clássicos, ou vira banda de animação de baile ou acaba.

Set list completo:

1- Angels Cry
2- Nothing to Say
3- Waiting Silence
4- Time
5- Lisbon
6- Millennium Sun
7- Winds of Destination
8- Gentle Change
9- Make Believe
10- The Voice Commanding You
11- Solo de bateria
12- Still of the Night
13- Carry On
14- Acid Rain
15- No Pain for the Dead
16- Spread Your Fire
17- Back in Black
Bis
18- Rebirth
Bis
19- Nova Era

Fabio Lione abre o show cantando de cima da arquibancada e depois volta pra lá em 'Still Of The Night'

Fabio Lione abre o show cantando de cima da arquibancada e depois volta pra lá em 'Still Of The Night'

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